"Nós conhecemos no trabalho: eu divorciado e Isabela solteira. Começamos a namorar no dia 24 de agosto de 2019. Desde o início, ela já sabia que eu havia feito vasectomia porque eu já tinha três filhos. Um dos primeiros questionamentos que ela me fez, antes de começarmos a namorar, foi se eu teria interesse em tentar reverter a vasectomia", lembra o administrador Emerson Matos, 47. "Sim, fiquei um pouco assustada, pois eu tinha muita vontade de ser mãe um dia. Mas em uma de nossas conversas, ele prontamente disse que faria uma reversão", completou Isabela Matos, 31 anos.
"Já nos primeiros meses de namoro, entrei em contato com alguns médicos. Após algumas consultas, definimos o profissional. Infelizmente, nenhum convênio cobre esse tipo de procedimento e tivemos que fazer tudo particular. Como o fator tempo era importante para o sucesso do procedimento (quanto mais cedo, melhor. Ele tinha feito a vasectomia cerca de 2 anos), marcamos minha cirurgia para janeiro de 2020", conta.
Mas, segundo Emerson, diferentemente da vasectomia, a cirurgia de reversão "é um procedimento bastante delicado". "É realizada com microscópios, que leva em torno de 5 horas para fazer a religação do ductos, que são costurados com fios da espessura de um cabelo", explicou ele. Cerca de três meses, ele fez seu primeiro espermograma, que já mostrou 108 milhões de espermatozóides. "Foi a nossa primeira grande emoção. A reversão tinha dado certo", lembra.
Então, eles, que já estavam noivos, resolveram marcar a data do casamento. "Marcamos no dia 6 de novembro de 2020. Daí, veio a pandemia e todas as incertezas que ela trouxe. Mas deu certo: conseguimos realizar nosso casamento conforme havíamos sonhado, tendo apenas que reduzir nossa lista de convidados. E foi entre a semana do casamento e da nossa lua de mel que João Miguel foi concebido", disse. "A partir daí, nossa vida mudou: nos mudamos para um apartamento maior e começamos a fazer o quartinho do nosso bebê. Tivemos uma gestação tranquila, sem intercorrência, apenas receosos e atentos quanto às recomendações da covid. E, finalmente, no dia 23 de julho deste ano, com 38 semanas e 5 dias, nasceu nosso príncipe João Miguel, cheio de saúde, fruto de um amor lindo e verdadeiro. Da decisão de reverter até o nascimento foram muitas emoções, medos e dúvidas, mas sempre tivemos a certeza de que daria tudo certo. Hoje só temos que agradecer e curtir nosso filho tão desejado e amado", disse o pai.
A vasectomia, segundo o urologista Alex Meller, da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e membro do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein (SP), o procedimento é realmente eficaz — por volta de 98 a 99%. Mas antes de tomar a decisão, é fundamental estar certo de que não quer mais filhos. O especialista afirma que estar em relacionamento estável e não ser muito jovem também é importante. "Tudo isso ajuda a diminuir o risco de arrependimento e da necessidade de reversão da vasectomia, que é um procedimento caro e complexo", afirma.
Na prática, a vasectomia é simples. Se tudo transcorrer normalmente, dura cerca de 40 minutos. "O espermatozoide produzido no testículo é conduzido até a uretra por um canal chamado 'ducto deferente'. Então, realizamos uma incisão na pele, fazemos a secção completa do ducto e amarramos seus cotos. Isso impede a passagem do espermatozoide tornando o sêmen estéril", diz. "Com isso, os espermatozoides ficarão retidos no ducto deferente e no epidídimo, sendo absorvidos pelo organismo após 90 dias", completa.
Após a cirurgia, normalmente o paciente fica um dia internado. Depois, é fundamental fazer repouso por uma semana e aguardar um mês para retornar a atividade sexual. Para saber se o procedimento realmente deu certo, é realizado um controle com um exame de espemograma de 60 a 90 dias depois da cirurgia. Uma das maiores preocupações dos homens após o procedimento é com o desempenho sexual, mas o especialista afirma que a cirurgia é segura quanto a isso. "As causas que interferem na potência masculina podem ser orgânicas ou psicogênicas. As orgânicas são doenças que trazem dificuldade de vascularização e irrigação do pênis para fazer a ereção, como diabetes, hipertensão, algumas doenças neurológicas, o uso de algumas medicações, sedentarismo, tabagismo, alto colesterol, etc", explica.
Em caso de arrependimento, é possível fazer a reversão, mas segundo o especialista, o processo é caro e complexo. "Abordamos o ducto na mesma região onde ele foi cortado e seccionamos os pontos. Então, realizamos uma anastomose para alinhar o ducto e permitir que os espermatozoides voltem a passar pelo ducto. Como esse ducto é muito fino, usamos um fio mais fino que um fio de cabelo e o auxílio do microscópio para realizar os pontos com precisão e segurança", conta.
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No entanto, após a reversão há o risco de o homem ter dificuldade para ter filhos. De acordo com o especialitsta, isso depende, principalmente, do tempo que se passou entre a vasectomia e a reversão. "Após 3 anos, vai ficando mais difícil. A chance de reestabelecer a passagem dos espermatozoides pelo canal bloqueado pela vasectomia é por volta de 90% até 5 anos, 10 anos por volta de 60 a 70% e 15 anos até 50%", alerta.
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