Friday, August 20, 2021

Os livros dão asas à imaginação

https://ift.tt/3mlYmKL
 (Foto: Getty Images)

 

“E se as histórias para crianças passassem a ser de leitura obrigatória para os adultos? Seriam eles capazes de aprender realmente o que há tanto tempo têm andado a ensinar?”. A frase estampada na contracapa de A maior flor do mundo, livro de um conto infantil do escritor português José Saramago, ilustra bem a importância que as palavras têm na vida de todos nós. E revela quanto as histórias infantis podem tocar e ensinar adultos e crianças. Elas são uma poderosa ferramenta que pode contribuir para o desenvolvimento dos pequenos.

Para refletir sobre tamanha grandeza, CRESCER organizou o bate-papo “O poder dos livros e da literatura”, com o apoio de Fandangos®. Mediado por Ana Paula Pontes, editora-chefe da CRESCER, o encontro virtual contou com a pesquisadora de cultura e infância e especialista em livros infantis da CRESCER Cristiane Rogerio, e com a designer, animadora e ilustradora Juh Barbosa.

“É impossível mensurar o poder dos livros na vida de uma criança”, disse Cristiane Rogerio. Isso porque, segundo a especialista, eles são de extrema importância. “Além do mais, hoje, no Brasil, temos muitas possibilidades de narrativas, de histórias, de autores diversos. E esses e outros elementos ajudam a estimular a criança a pensar criativamente, algo mais do que positivo para sua evolução”, concluiu.

Dar asas à imaginação é um dos recursos que a literatura infantil possibilita. Por meio dos personagens e das situações contadas nos livros, os pequenos têm a oportunidade de elaborar seus próprios enredos, heróis, e suas próprias interpretações. Isso contribui para eles adquirirem não apenas vocabulário e aprimorarem a comunicação, mas ajuda, ainda, a identificar, entender e extravasar seus sentimentos.

Momento de conexão
Contar histórias, seja em momentos aleatórios ao longo do dia, seja no ritual feito antes de dormir, é importante para criar conexão e fortalecer vínculos. Mães, pais e crianças só ganham ao desenvolver esse hábito, que pode e deve ser incentivado desde cedo: “Não há um tempo certo, nunca é cedo e nunca é tarde, você pode contar histórias para o seu filho até quando ele ainda está na barriga. O bebê certamente vai reconhecer sua voz e ligar a situação a algo prazeroso mais para a frente”, afirmou Cristiane Rogerio.

Juh Barbosa se recorda exatamente de como a influência dos pais incentivou sua paixão pelos livros. “Desde bem cedo eles me levavam a livrarias e liam comigo em casa. Me introduziram nesse universo de maneira divertida e tranquila. Guardo muitas boas lembranças desse período. Até hoje tenho na cabeça a cena de uma floresta com animais pulando”, contou em tom divertido.

Vale tudo!
Na hora de escolher uma obra para o seu filho, ouça o coração. “Antes de mais nada, acho que o livro precisa encantar os pais que, afinal, vão contar a história para as crianças”, disse Juh Barbosa. Para Cristiane Rogerio, seguir a indicação de faixa etária que muitos exemplares trazem deve ser encarado apenas como uma sugestão: “Na verdade, os pais, mais do que ninguém, conhecem o filho. Então, aposte nele, no que acredita que vai entender, nas palavras que considera apropriadas para a fase em que ele está naquela ocasião. Pense se ele vai conseguir se divertir, se emocionar...”, recomendou. Experimentar emoções – esse é o grande barato da leitura!

Seguir a intuição, as próprias emoções e as da criança também é uma dica útil na hora de ler com o filho. Ninguém precisa ser ator, fazer vozes e intervenções para contar uma história, muito embora isso enriqueça o momento. Mas dá para fazer do seu jeito, porque não tem certo e errado. Aliás, nem mesmo em relação ao ritmo de leitura em si: o pequeno pode querer ler do fim para o começo, pegar a história no meio, inventar o próprio enredo olhando para as ilustrações. O livro infantil oferece isso: liberdade para criar, fantasiar.

E se o pequeno invoca com determinado livro e quer ler aquela história dez vezes seguidas, sem problema. Pode reparar: a cada leitura, ele vai fazer uma descoberta diferente. Para a criança, não significa necessariamente a mesma trama, porque ela cria novos fatos, interpreta o que há ali de outras formas.

O poder da imagem
As palavras são poderosas, mas as ilustrações, idem! E elas não precisam necessariamente “formar uma dupla” em uma história infantil. Muitas vezes, a criança, sobretudo as bem menores, usam a imaginação para inventar uma história baseada nas imagens.

Quer mais um motivo para ler com o seu filho? Dá para estimulá-lo a contar aquela história do jeito dele, oferecendo papel, lápis de cor e giz de cera. Assim, o pequeno pode criar as próprias imagens para ilustrar o contexto. “Desde criança, sempre amei desenhar. Era uma maneira de contar a história para mim mesma, para os meus pais e para o mundo”, afirmou a ilustradora Juh Barbosa. Ela reforça que essa é uma possibilidade muito rica para a criança se expressar. E esqueça a exigência de perfeição: o desenho deve fazer sentido para o pequeno, não precisa refletir nada de modo lógico. Juh Barbosa completa: “Quando faço uma ilustração, acredito que não se trata apenas do desenho de um barco ou de uma pipa. Ela tem o papel de complementar o texto, mas também traz uma narrativa por meio de cores e formas. O desenho evoca sensações, interpretação visual. Não é apenas um desenho. É legal a criança brincar de interpretá-lo sozinho, e depois junto com o texto”, sugeriu.

Ela contou que ficou muito feliz ao ser convidada para fazer as ilustrações de Abdução, uma das quatro tramas da coleção “Grandes Historinhas para Ler com seus Pequenos”, desenvolvidas em uma parceria entre Fandangos® e a escritora Blandina Franco. “Foi incrível exercitar a imaginação para entrar nesse universo. Voltei às minhas experiências de quando era criança”, disse.

Realidade e diversidade
As histórias infantis têm a vocação de, além de trazer o mundo fantasioso dos contos de fadas, por exemplo, também mostrar e repercutir cenas do nosso dia a dia. Esse é o mote das “Grandes Historinhas para Ler com seus Pequenos”. Em Abdução, os personagens contam que, às vezes, as pessoas não são quem parecem ser. Um convite a pensar melhor antes de fazer qualquer juízo de valor. Juh Barbosa disse que considera muito importante, cada vez mais, mostrar enredos que tragam maior diversidade e inclusão. “Quando eu era criança, esses temas eram pouco abordados, e era difícil encontrar livros nos quais eu pudesse me reconhecer. Hoje, ver personagens diversos, em papéis antes estereotipados, traz possibilidades de experimentar caminhos que, dependendo de onde se é, de onde se vive, não seria possível se não fosse pelos livros”, completou a designer.

É importante considerar o olhar da diversidade na hora de escolher quais títulos oferecer ao seu filho, e também ao montar uma pequena biblioteca para ele. “As editoras estão incluindo um maior volume de obras que trazem escritores e ilustradores com essa visão. Mas nós todos precisamos nos envolver nesse movimento: pais, famílias e escolas. Só assim poderemos ter livros mais autênticos e viver em um mundo mais inclusivo, onde todo mundo ganha”, disse Cristiane Rogerio.

E falando em pequena biblioteca, nos dias atuais, é impossível não pensar nos diferentes tipos de livros: os de papel, que podem ter formas tradicionais, ser cartonados ou terem pop-ups, os para serem manipulados durante o banho, e ainda os digitais, que podem ser audiobooks e até videobooks, ou seja, histórias contadas em vídeo, com narrativa de livro. Não importa: todas eles são um portal que facilitam a entrada da criança em outros universos. Para isso, têm de estar acessíveis – de preferência, ao alcance das mãos – assim como os pais e cuidadores também devem ficar disponíveis para, sempre que possível, mergulhar nas palavras e nas ilustrações com os pequenos para rir, ficar triste, bravo, para sonhar, se divertir, se emocionar. A partir daí, é só se deixar levar...



from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Publieditorial/Fandangos/noticia/2021/08/os-livros-dao-asas-imaginacao.html