Tuesday, August 24, 2021

Agosto Dourado: Por quanto tempo tenho que amamentar meu filho?

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Não sei dizer quantas vezes fui procurada, desde que comecei a trabalhar com o tema amamentação, para responder a seguinte pergunta: por quanto tempo tenho que amamentar o meu filho?

 

Amamentação após o positivo no teste de covid não precisa ser interrompida, diz especialista (Foto: Foto de Jonathan Borba no Pexels)

 

Pergunta que sempre respondo da mesma forma, devolvendo a questão: "não sei… quanto tempo você quer amamentar?". A reação invariavelmente é de espanto. "Mas sou eu que decido? Não tem lá um monte de orientações e diretrizes que eu tenho que seguir?"

Há muitos anos estudos científicos avançaram para dentro do universo da amamentação para recuperar a dignidade do leite materno. Sim, dignidade, pois o que mais se ouvia (e infelizmente ainda se ouve) era que ele era ralo, inconsistente e incompetente para dar conta de sustentar um bebê. Com isso, abriu-se um portal. Foi descoberto um imenso número de qualidades nesse alimento, daquelas que só mesmo a natureza é capaz de fazer.

A partir desses estudos criaram-se campanhas que são atravessadas por discursos que defendem com unhas e dentes a amamentação. Com tudo isso o aleitamento materno virou uma entidade, que precisa ser protegida de um outro discurso, o publicitário, aquele que desvaloriza o leite materno e capitaliza em cima disso.

 

Como ficam as mães e seus bebês no meio desse tiroteio? No meio dessa verdadeira guerra, que envolve milhões de dólares, estão as mães em busca de ideais.

E aí temos um ponto no qual podemos nos demorar um pouco: os ideais! Estes têm um papel importante nas nossas vidas, de uma certa forma podemos dizer que na nossa relação com ideais encontra-se o motor da experiência humana.

Mas (e este mas é bem grande!) o que acontece quando já não conseguimos mais entrar em contato com o que sentimos, desejamos, pensamos, porque nos fixamos num ideal? Quando ele se torna tão imperativo que no final das contas já não sabemos de nós?

 

E aí proponho também que pensemos que entre o que é dito (o discurso) e o que é entendido há um mundo a ser explorado.

A minha provocação para as mães hoje aqui é para que se perguntem: como eu me relaciono, e como eu escuto, o que é dito pelos diversos discursos que chegam até mim sobre a amamentação? Entre diretrizes, discursos científicos, metas mundiais e afins, como fica a relação de cada mãe com seu bebê?

É interessante observar que as reações são as mais diversas: tem mãe que paralisa, outras deprimem, outras se sentem motivadas e autorizadas a amamentar, outras ainda podem se sentir anuladas, como se não existissem mais na relação com o bebê, tem as que viram ativistas… tem todo tipo de atitude e comportamento.

Pensar que até no discurso científico, que é baseado em evidências, há sempre algo que escapa, afinal nenhum discurso da conta de tudo, quando o que procuramos é o singular!
E deixo claro que não se trata de negacionismo, muito pelo contrário. Se há saberes que na atualidade podem mudar o rumo das coisas e viabilizar a amamentação a ciência é um deles, mas é importante que se reserve um espaço para o subjetivo, o autoral e singular, ao que escapa à regra, porque é aí que se encontram as respostas de cada um e o possível alívio do mal-estar materno.

Em toda Semana Mundial do Aleitamento Materno é preciso falar sobre a relação única de cada mãe com o seu bebê e de formas de apoia-la para abrir caminho para muitas coisas, entre elas, possivelmente, a amamentação.

Chris Nicklas (Foto: Edu Rodrigues )

Chris Nicklas é apresentadora, criadora e gestora do site Amamentar é…, estudante de psicologia e mãe dos gêmeos Luca e Nina de 16 anos.

 



from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Colunistas/Chris-Nicklas-Amamentar-e/noticia/2021/08/chris-nicklas-por-quanto-tempo-tenho-que-amamentar-meu-filho.html