Na tempestade pandêmica, não estamos todos em um mesmo barco. Não é a mesma coisa estar isolado na primeira infância e na adolescência. Para quem se enxerga como uma pessoa que precisa muito da vida coletiva, a pandemia é uma tremenda supressão de uma parte importantíssima de si. Os adolescentes são esse grupo, que se desenvolve entre pares, que se aninha na multidão dos colegas de escola e que se reconhece nos mesmos interesses da turma.
Eles foram as crianças a quem mostramos, com nossos olhos, o que era o mundo. Ao adolescerem, elas anseiam ir para este mundo, agora munidas de seus próprios olhos para enxergarem além das fronteiras de nossas culturas, ideologias e crenças. Adolescência é essa fase em que, de forma muito criativa e vibrante, essas ex-crianças abandonam parcialmente o que lhes demos como cartilha para poderem preencher este vazio com suas impressões sobre o mundo que começam a conhecer. Vão descobrindo quem são, e sobretudo o que querem vir a ser, tecendo os fios da narrativa que se chamará de identidade.
Este porvir em forma de pergunta é um dos jardins da delícia de existir. Infelizmente, nossa cultura, ainda muito autoritária, insiste no termo hediondo “aborrescência”, que revela a nossa indisponibilidade para escutar seus dilemas, a intensidade com que buscam a própria verdade e a tendência que temos de desqualificar tudo o que não vem de nossas rígidas verdades internas. Mas eles, ainda assim, vão para o mundo. Ou melhor, não vão mais. Habitavam espaços públicos, casas dos amigos e festas. Agora, estão conosco, aquartelados nas possibilidades de conviver com a família.
O que podemos fazer para apoiá-los neste momento?
Acompanhar o processo de elaboração de suas frustrações, incentivar a fala de suas dores e sofrimentos sobre não poderem viver como queriam. Inventar novas possibilidades de encontro virtual com os amigos, relevar tempo de tela (cujo excesso será inevitável, porque eles continuam precisando da socialização com os pares). Mas, sobretudo, continuarmos a ser os faróis de sua existência, os chatos que implicam com horários, qualidade da alimentação, higiene do sono, e limites claros em horas do dia com tela desligada para ver o sol, contemplar a vida e escutar o próprio silêncio. Eles estão sofrendo muito, e nós também. Os conflitos serão inevitáveis. Mas, na quarentena, estamos reaprendendo a reparar relacionamentos. Eles e nós estamos preocupados, exaustos e cheios de medos sobre o futuro. Diante de tamanha dúvida, sentir junto pode ser a grande jornada a ser feita como o melhor dos legados parentais para esses jovens impedidos de expandir seu corpo, suas gargalhadas e suas lágrimas pelas ruas de suas vidas.
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