Você com certeza já deve ter visto pelas redes sociais, nas mãos de outras crianças – ou mesmo já presenteou o seu filho com um dos brinquedos do momento: os chamados Push Pop It (algo como aperta e estala, em inglês).
Dos mais diversos formatos e cores, esses brinquedos têm feito sucesso entre a criançada. Além do apelo visual, eles chamam atenção por agradar também o tato dos pequenos: as bolhas podem ser “estouradas”, como se fossem um plástico bolha, mas não se desfazem!
Há ainda recomendações desse tipo de brinquedo para desestressar as crianças, especialmente as mais ansiosas. Mas afinal, os brinquedos Push Pop It de fato aliviam a ansiedade? A CRESCER conversou com a psicóloga e professora Paula Birchal, doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo (USP), para saber mais sobre esse brinquedo.
Querendo ou não, objetos brinquedos se adaptam para as diferentes idades e de tempos em tempos retornam. No caso dos Push Pop It, são objetos que de alguma forma já existiam, mas em outros formatos – especialmente para bebês, como afirma a psicóloga Paula Birchal. “Aquela bola macia, aqueles brinquedos de apertar, que fazem barulho, todos são sensoriais, que remontam ao período sensório-motor das crianças (até os 2 anos)”.
Assim, os Push Pop It estimulam os sentidos de qualquer pessoas – inclusive daquelas que precisam desse desenvolvimento neuromotor, sejam crianças, adultos ou idosos. Quem não gosta de apertar um plástico bolha? Segundo Paula, estourar esse material é ainda um estímulo prazeroso. “É como um plástico bolha mais evoluído: não rasga e não tem risco à saúde de crianças”, aponta.
Objetos com essas funções são muito comuns na terapia ocupacional, na fisioterapia ou na ludoterapia, em que você os usa com uma intenção, para que se desenvolva alguma questão motora. No caso de idosos que perdem um pouco da sensibilidade e alguns movimentos, por exemplo, esses exercícios são importantes.
Os brinquedos Push Pop It têm sido usado também em trabalhos terapêuticos, inclusive com crianças atípicas. “Ele desenvolve uma motricidade mais fina, uma coordenação de cor, tamanho, equilíbrio e encaixe, ou seja, estimula uma habilidade tátil. Nesses casos, o objeto deixa de ser um brinquedo e passa a ser um objeto terapêutico”, explica.
Não se deve, em primeira instância, pensar o brinquedo com uma finalidade terapêutica. Segundo ela, qualquer brinquedo, seja uma boneca, um carrinho, ou peças de montar, só podem ser considerados brinquedos quando, ao brincar, a pessoa sinta prazer naquela ação.
“Os Push Pop It podem aliviar o estresse e a ansiedade para alguns, mas para outros pode ser irritante. Um bom brinquedo é aquele que, em primeiro lugar, tem fim em si mesmo, no ato de brincar”.
Paula diz ainda que é mais interessante deixar que a própria criança decida o que fazer com o brinquedo, respeitando suas preferências lúdicas. “É possível que algumas crianças passem a usar o Push Pop It como uma caminha de uma brincadeira de casinha. Isso é o mais interessante: não necessariamente um certo objeto vai atender a todas as crianças com um único objetivo. O próprio sujeito que brinca decide a função daquele objeto.”
A psicóloga Paula Birchal ainda comenta que o momento de grande disseminação dos Push Pop It chama muita atenção. “Penso que o contexto da pandemia, que deixou as pessoas ansiosas dentro de casa, com muito medo, presas ao mundo virtual, auxiliou na proliferação desses brinquedos – que sempre foram comuns se pensarmos em objetos fisioterapêuticos, que tomaram novas formas", ela explica.
Os blocos de montar pedem mais ou menos o mesmo controle desses novos brinquedos, como movimentação da mão, coordenação mão e olho, estímulo mão e cérebro. No entanto, foram os Push Pop It que bombaram neste período.
O isolamento em casa também facilitou a proliferação do brinquedo, que além de colorido e de diversos formatos, é pequeno e pode ser levado a qualquer lugar.
Os Push Pop It são ainda objetos regredidos, ou seja, muito ligados ao desenvolvimento dos bebês – o apertar, o tato, o barulho. “São ações regressivas e fundantes dos humanos, e surgem até como necessidade de descarregar a carga digital, de atividades mais táteis, menos fugazes”, aponta ela.
Além de um contexto social, cultural e até de saúde que promove o surgimento ou desdobramento desse tipo de objeto, há ainda a divulgação em redes sociais. “Há algum tempo foi a vez do slime, que nada mais é que a clássica massinha de modelar, a qual, por sua vez, tem origem na argila, no trabalho manual, essa capacidade de moldar, o prazer de moldar e mexer com água, que também são funções regredidas, essenciais para o nosso desenvolvimento”, acrescenta Paula.
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