Nesta quarta (15), o Ministério da Saúde emitiu uma nota informativa orientando a suspensão da aplicação da vacina contra a covid-19 em adolescentes de 12 a 17 anos sem comorbidades, e restringindo o seu emprego somente aos adolescentes de 12 a 17 anos que apresentem deficiência permanente, comorbidades ou que estejam privados de liberdade, apesar da autorização pela Anvisa do uso da vacina Pfizer/Biontech.
Anteriormente, o governo havia divulgado que a vacinação de adolescentes sem comorbidade poderia iniciar no dia 15 deste mês. "Destacamos que a orientação da NOTA TÉCNICA 36/2021-SECOVID/GAB/SECOVID/MS estabelecia que os adolescentes sem comorbidades seria o último subgrupo elegível para vacinação e somente vigoraria a partir do dia 15 de setembro. Outrossim, reafirmamos que Estados e Municípios sigam as orientações do Programa Nacional de Operacionalização da Covid-19", disse, nesta última nota.
Entre as motivações, citadas pelo governo, estão o fato de que "a Organização Mundial de Saúde não recomenda a imunização de criança e adolescente, com ou sem comorbidades; a maioria dos adolescentes sem comorbidades acometidos pela covid-19 apresentam evolução benigna, apresentando-se assintomáticos ou oligossintomáticos; somente um imunizante foi avaliado em ECR; e os benefícios da vacinação em adolescentes sem comorbidades ainda não estão claramente definidos; apesar dos eventos adversos graves decorrentes da vacinação serem raros, sobretudo a ocorrência de miocardite (16 casos a cada 1.000.000 de pessoas que recebem duas doses da vacina); e redução na média móvel de casos e óbitos (queda de 60% no número de casos e queda de mais de 58% no número de óbitos por covid-19 nos últimos 60 dias) com melhora do cenário epidemiológico".
CRESCER procurou o Ministério da Saúde para entender sobre como os municípios e estados que já iniciaram a vacinação desse público devem proceder, e aindase essa decisão poderia atrasar o fim da pandemia. No entanto, até o momento, ainda não obtivemos resposta.
Segundo o infectologista e pediatra Marco Sáfadi, presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a nota do Ministério da Saúde "causou confusão". "O contexto da nota não é claro, não há uma clareza sobre o que existe por trás dessa recomendação, e entendemos que as orientações de vacinar os adolescentes devem ser mantidas. Não há um fato novo que motive alterar as recomendações", afirmou ele à CRESCER, nesta manhã.
"Minha opinião, inclusive, é que deveríamos ter a possibilidade de utilizar a Coronavac nas crianças e adolescentes. Outros países já autorizaram o uso desse imunizante, talvez tenham tido acesso a dados que ainda não temos, mas é importante que isso seja recolocado para a Anvisa. Por enquanto, a mensagem principal é tranquilizar, principalmente os pais, de que não há motivo para preocupação quanto à vacinação de adolescentes no Brasil", completou.
Um dia antes do MS anunciar a nova orientação, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou um documento recomendando a aplicação da vacina contra a covid-19 da Pfizer para todos os adolescentes maiores de 12 anos. Segundo a instituição, sua indicação está baseada em estudos clínicos desenvolvidos com essa vacina nesse grupo etário, o licenciamento pela Anvisa para uso do imunizante nos jovens e a experiência em outros países.
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"É importante destacar que, com a progressão da vacinação completa de adultos, os casos graves (hospitalizações e mortes) de covid tendem a se concentrar em populações não vacinadas, ocorrendo um natural desvio de faixa etária, com aumento percentual de casos na população pediátrica", diz o documento. No entanto, a entidade alerta que, embora até o momento a vacina tenha se mostrado segura, é importante manter o monitoramento contínuo de eventos adversos associados ao imunizante.
À CRESCER, o infectologista e pediatra Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), disse que é importante que os adolescentes sejam vacinados, mesmo que eles, geralmente, apresentem quadros menos graves, pois, em alguns casos, os jovens podem ter algumas complicações como a covid longa e a Síndrome Inflamatória Multissistêmica, que acaba agravando os casos da doença. Além disso, os adolescentes também são transmissores do vírus. "A vacinação está mais do que indicada e recomendada e hoje nós só temos vacinas testadas, explica o médico. Para os pais que ainda sentem receio de vacinar os filhos, o pediatra ressalta que não há motivo para preocupação. "Nessa população, a vacinação é muito segura. Temos mais de 15 milhões de doses aplicadas em todo mundo e um perfil de segurança excelente", diz o especialista.
O documento técnico divulgado pela Sociedade Brasileira de Pediatria reforça que, de fato, a doença acomete as crianças e adolescentes com menos frequência que os adultos. Estudos realizados em diversos países estimam que o número de casos de covid-19 na faixa etária pediátrica seja de 1% a 5% do total de casos confirmados. No entanto, a SBP alertou que, mesmo os jovens apresentando sintomas mais leves, eles não estão isentos de contrair o vírus e desenvolver formas graves de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e da Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P) temporalmente associada à covid-19, que podem ser importantes causas de morbimortalidade nesta população.
Após a divulgação da nota, a prefeitura de Natal suspendeu a vacinação de adolescentes sem comorbidades. A decisão foi anunciada no início da manhã, quando estava previsto o início da imunização de adolescentes com 17 anos sem comorbidades na capital. Salvador também decidiu adiar a vacinação.
No entanto, o Governo de São Paulo, que já vacinou 73% dos adolescentes, disse que pretende continuar a imunização, pois já possui doses suficientes para imunizar esse público. Em nota, divulgada nesta quinta-feira (16), ainda lamentou a decisão do Ministério da Saúde, "que vai na contramão de autoridades sanitárias de outros países". Segundo o governo paulista, "três a cada dez adolescentes que morreram por causa da covid não tinha comorbidades". Veja:
"A vacinação nessa faixa etária já é realizada nos EUA, Chile, Canadá, Israel, França, Itália, dentre outras nações. A medida cria insegurança e causa apreensão em milhões de adolescentes e famílias que esperam ver os seus filhos imunizados, além de professores que convivem com eles. Coibir a vacinação integral dos jovens de 12 a 17 anos é menosprezar o impacto da pandemia na vida deste público. Três a cada dez adolescentes que morreram com COVID-19 não tinham comorbidades em São Paulo. Este grupo responde ainda por 6,5% dos casos e, assim como os adultos, está em fase de retomada do cotidiano, com retorno às aulas e atividades socioculturais.
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O Plano Estadual de Imunização (PEI) informa que a vacinação dos jovens de 12 a 17 anos começou em SP no dia 18 de agosto e já foram imunizadas cerca de 2,4 milhões de pessoas, ou seja, 72% deste público. Infelizmente, e mais uma vez, as diretrizes do Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde chegaram com atraso e descompassadas com a realidade dos estados, que em sua maioria já estão com a vacinação em curso."
Já a Secretaria de Estado de Saúde (SES), por meio da Subsecretaria de Vigilância e Atenção Primária à Saúde, informou que a equipe técnica vai discutir o assunto em reunião, realizada na tarde desta quinta-feira (16), com integrantes da Comissão Intergestores Bipartite (CIB), representantes da SES e do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Estado do Rio de Janeiro (Cosems-RJ). "Após o encontro, será elaborada uma orientação única, com o objetivo de normatizar o processo de vacinação do referido grupo", informou a assessoria de imprensa.
De acordo com dados do Ministério da Saúde (MS), em 2021, do total de 1.357.406 casos de SRAG hospitalizados até 7 de agosto, 73,9% (1.002.860) foram confirmados para a covid-19. Destes,14.948 casos ocorreram na faixa etária de 0-19 anos, correspondendo a 1,5% do total. Em relação às mortes, no mesmo período, foram registrados 1.105 óbitos nesta faixa etária, representando 0,35% de um total de 319.142 óbitos por SRAG associada à covid-19.
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