Esta sexta-feira,17, é marcada pelo Dia Mundial da Segurança do Paciente, iniciativa criada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que, neste ano, tem como tema o “Cuidado materno e neonatal seguro”. A escolha é baseada em dados alarmantes: todos os dias, cerca de 800 mulheres e 6,7 mil bebês perdem a vida na hora do parto e nascimento. Além disso, quase 5,4 mil bebês nascem mortos diariamente, com 40% desses óbitos ocorrendo em relação ao trabalho de parto.
E se a questão já era urgente antes mesmo da pandemia, com a disseminação da covid-19 e as dificuldades na assistência oferecida às gestantes, o cenário se tornou ainda mais preocupante. “Temos vários países onde não se tem acesso à tecnologia, em que apenas 5% dos partos são cesáreas. No Brasil, com a economia e o desenvolvimento que temos, o ideal seria uma razão de morte materna [número de mortes a cada 100 mil nascidos vivos] igual a 20, mas chegamos a 69 no último ano. E, em 2021, dados preliminares mostram que o número pode ir a mais de 100”, antecipa Rossana Pulcineli Francisco, presidente da Comissão de Pesquisa da Faculdade de Medicina da USP e presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (SOGESP).
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A especialista aponta as três principais causas de morte materna: hipertensão, hemorragia e infecção. “Todas estas situações devem ser resolvidas na UTI e, para isso acontecer, precisamos de investimento para dar assistência às gestações de alto risco, como aconteceu com as unidades básicas que conseguiram facilitar o acesso ao pré-natal. Ainda temos dificuldade de cuidar dessas grávidas e garantir coisas básicas, como sangue, caso aconteça uma hemorragia”, exemplifica a médica.
Além disso, quanto mais tarde se descobre qualquer problema na gravidez, mais difícil é resolvê-lo com calma e criar uma estratégia para mãe e o bebê. “Separamos em três demoras no atendimento: primeiro para identificar que existe algum problema; depois para chegar a uma unidade hospitalar e, por último, de ter o tratamento adequado. É muito importante que todos estejam atentos para reduzirmos este tempo. Por exemplo, se a pessoa começa a sentir dor, ela precisa procurar uma unidade de saúde, não tem que esperar até a situação estar grave”, aconselha a Dra. Rossana.
Na visão da médica, os profissionais da saúde precisam se unir para promover um cuidado centrado no paciente, promovendo um parto seguro e respeitoso. “Temos que olhar cada caso para entender qual procedimento é necessário. É essencial que a gente consiga conversar sobre o momento do parto antes e estabelecer essa relação médico-paciente. É no pré-natal que você pode ouvir as expectativas, entender as possibilidades e alinhar tudo certinho com a mãe”, destaca.
Os recém-nascidos
No Brasil, a cada 100 mil bebês nascidos vivos, ocorrem cerca de 60 óbitos maternos – o dobro da meta definida pelo país junto à Organização das Nações Unidas (ONU) até 2030. Segundo o Observatório Obstétrico Brasileiro, a pandemia agravou ainda mais o quadro, com 38 óbitos maternos por covid-19 sendo registrados a cada semana no país durante 2021. Além disso, ocupamos o 10º lugar no ranking mundial da prematuridade, com 300 mil nascimentos prematuros registrados em 2019.
Todos esses números também comprovam como o acompanhamento da mãe e do bebê durante o pré-natal tem um papel fundamental na redução de possíveis complicações e, consequentemente, de óbitos. A Dra. Rossana esclarece: “Se cuidamos de uma gestante de alto risco para que ela tenha uma gravidez controlada, conseguimos um parto de baixo risco. Por isso se fala tanto que a mortalidade materna tem relação com a mortalidade neonatal”.
Dados do Instituto Brasileiro de Direito do Paciente apontam que os cuidados de baixa qualidade são responsáveis por 61% das mortes neonatais – e a maioria das deficiências que ocorrem entre os nascidos após 25 semanas de gestação poderiam ser prevenidas. Em material publicado pela organização, os especialistas defendem: "Mortes evitáveis indicam uma falha sistemática no cuidado seguro e na provisão de serviços de saúde de qualidade, representando, portanto, uma violação ao seu direito à vida. Dessa forma, compete ao Estado identificar os fatores que colocam em risco a vida, a sobrevivência e o desenvolvimento do neonato, implementando intervenções baseadas em evidências científicas para minimizar os riscos e impedir as ocorrências".
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