As gestantes foram muito impactadas pela covid-19, não só por elas serem grupo de risco, mas também porque a pandemia teve um efeito significativo em sua saúde mental. Segundo uma pesquisa, publicada na Diaphora, Revista da Sociedade de Psicologia do Rio Grande do Sul, 88% das grávidas tiveram medo de ter a doença e ser internada em uma UTI; 86% disseram que tinham receio de seu filho precisar de uma UTI Neonatal e 77% estavam apreensivas com a possibilidade de ter a covid-19 e perder o bebê.
Intitulado Os Impactos Psicológicos da Pandemia em Gestantes e Mães de Bebês, o estudo contou com a participação de 710 grávidas e 339 puérperas brasileiras — que tinham bebês com no máximo 60 dias de vida. A pesquisa, feita online, foi realizada durante o isolamento social, entre os dias 20 e 27 de abril de 2020.
Durante o estudo, as pesquisadoras Alessandra Arrais, Bianca Amorim, Luciana Rocha e Ana Clara Haidar também identificaram outros temores entre as gestantes, como por exemplo, transmitir o coronavírus para o bebê ainda dentro do útero; o bebê adquirir uma má-formação em caso da mãe ter sido contaminada pelo vírus, com incidência de 73% e 66% respectivamente.
Em relação ao parto, as grávidas continuaram a ter preocupações com a possibilidade de elas próprias serem infectadas ou de seus bebês contraírem o coronavírus durante o nascimento, com frequência de 75% e 78% das respostas respectivamente. Elas também se sentiam preocupadas em não poder ter um acompanhante na sala de parto, 79% das respostas se referiam a essa questão. Entre outras inquietações das gestantes estão: não ser respeitada durante o trabalho de parto e parto (71%); não poder fazer o contato pele a pele com o bebê (70%); falta de vaga na maternidade (63%); não poder seguir o plano de parto (53%) e não ser acompanhada por obstetras, seja médico ou enfermeiro (47%).
A amamentação também esteve no centro das preocupações das mulheres, 69% das gestantes se preocupavam em não poder amamentar seus bebês ao seio por causa da apresentação de sintomas ou diagnóstico de covid-19, sendo que índice semelhante ou 64% das gestantes também apresentaram preocupação em não poder amamentar mesmo que não tivessem sintomas.
Vale lembrar que o leite materno é tão essencial a que mesmo a mãe com covid-19 pode e deve amamentar. “Se ela estiver com vontade e em condições, não há problema algum. Basta tomar todos os cuidados de praxe, como lavar bem as mãos e usar máscara durante o aleitamento, e deixar que alguém cuide do bebê logo depois de alimentá-lo”, diz o pediatra Moises Chencinski. Para a mãe que não consegue ou não quer, é possível tirar o leite para outra pessoa oferecer ao bebê. No entanto, é importante saber que o novo coronavírus não é transmitido pelo leite. Inclusive, mãe com covid que amamenta e/ou que tomou a vacina, passa anticorpos para o filho. Não significa que ele fique imunizado, mas fica mais protegido.
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O estudo também avaliou a situação das mães de bebês nascidos durante a pandemia, com relação aos períodos de pós-parto imediato e tardio. Durante a pesquisa, foi identificado que 80% das respostas revelam que a maior preocupação das puérperas era não poder levar o bebê ao hospital, em caso de alguma emergência. O risco do bebê ser contaminado por alguém que esteja infectado pelo coronavírus aparece em segundo lugar com 73% das respostas.
Já no caso da amamentação, 58% das puérperas tinham medo de não poder amamentar ao seio o bebê se a mãe apresentar sintomas da covid-19. O estudo identificou outras preocupações entre as puérperas como não ter todo suporte de profissionais por conta do isolamento social (56%), ficar sozinhas com o bebê (55%) e entrar em contato com pessoas que não estão cumprindo o isolamento social (55%).
Diante desses dados, as pesquisadoras decidiram criar um grupo voluntário formado por 21 psicólogos perinatais, que foi intitulado de Grupo de Intervenção em Crise (GIC), para oferecer atendimento online às gestantes e puérperas durante a pandemia.
No entanto, as pesquisadoras ressaltam que autoridades públicas também precisam apoiar as gestantes e puérperas nesse momento. "Responder às preocupações e oferecer estratégias para aumentar a sensação de segurança e controle é um objetivo da intervenção que propomos no sentido de manter a saúde mental e bem-estar dos pais", diz as pesquisadoras no estudo.
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