Friday, October 29, 2021

Como educar os filhos com respeito e gentileza?

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Para educar alguém com respeito, precisamos nos conhecer primeiro. Mas será que fazemos isso? “No mundo corrido, onde trabalhamos cada vez mais para pagar cada vez mais contas, e tudo isso, enquanto enfrentamos um vírus e uma crise sociopolítica, simplesmente abandonamos a ideia do autoconhecimento. Como vamos ensinar as crianças a respeitar se eu não respeito? Como vou exigir que falem sobre o que sentem se eu não falo?”, afirma a doutora em Ciências e em Saúde Coletiva Ligia Moreiras Sena, autora do livro recém-lançado "Criando com Amor em Tempos de Ódio" (Editora Cientista que Virou Mãe).

331 Mat Capa Educar com gentileza (Foto: Getty Images)

 

O autoconhecimento começa olhando para a criança que você foi, como lembra a pesquisadora argentina Laura Gutman, autora do best-seller "A Maternidade e o Encontro com a Própria Sombra" e também do mais recente "Uma Civilização Centrada na Criança: como uma criação amorosa pode revolucionar o mundo" (ambos da Editora Record). “Temos de abordar a nossa própria infância, compadecermo-nos da criança que fomos, para então nos compadecer e sentir nossos filhos”, afirma.

A professora Maria Antônia Santos, 40 anos, mãe de Antônio, 8 anos, e Laura, 6, sentiu melhora no clima da casa justamente quando passou a priorizar o autoconhecimento. “Parei de rotular meus filhos e colocar a culpa neles, e a olhar mais para mim. Sou adulta e posso me responsabilizar pelo que sinto”, diz. É exatamente essa a opinião da psicanalista e educadora parental Elisama Santos, colunista da CRESCER, que acaba de lançar o livro "Conversas Corajosas" (Editora Paz & Terra). “Quanto mais eu me conheço, menos eu coloco na conta do outro os meus sentimentos. A gente costuma pôr na criança a responsabilidade das nossas ações, como ‘eu gritei porque você não me obedeceu’. Quando passo a ter mais consciência de mim, consigo decidir melhor como vou agir e tiro do meu filho a responsabilidade pelas minhas ações”, explica.

 

 

Desde bem pequenos

Uma premissa para criar filhos com ternura é começar desde cedo. Sim, os bebês devem ser educados com firmeza e gentileza. Uma pesquisa da Universidade de Yale (EUA) mostrou que eles já são capazes, por exemplo, de distinguir o bem e o mal desde os 3 meses. Ou seja, nada de pensar “Ah, ele é pequeno, não entende nada”.

Os bebês compreendem e captam se estão sendo tratados com amor e respeito ou com violência. O desenvolvimento deles será totalmente impactado pela maneira com que recebem os estímulos. “Os primeiros três anos de vida são essenciais para se estruturarem as bases sólidas no seu desenvolvimento de vida. Sempre que fazemos uma boa conexão com nossos filhos, com brincadeiras e atenção, seu cérebro entende que o ambiente é seguro e relaxado, então o aprendizado ocorre de forma natural”, explica a psicóloga Rebeca Nascimento, coordenadora da área de psicologia da Associação de Cuidados Humanitários do Rio de Janeiro. Ou seja, priorize momentos que reforcem vínculos com o seu bebê. Fale com ele, explique o porquê das coisas, cante, brinque, conte histórias. Essa ligação é fundamental para uma educação firme e afetuosa desde cedo.

Conexão para a vida

Estamos mesmo mais conectados com os nossos filhos pelo fato de estarmos mais tempo em casa? O afeto, o vínculo, a conexão são, sem dúvida, uma premissa da educação gentil. Iniciamos a pandemia acreditando que esse ponto seria favorecido, mas já percebemos que não vem sendo bem assim. “A gente não está tendo mais tempo com os filhos, não está fazendo home office, não está fazendo homeschooling. A gente está se virando. É mais tempo com nossos filhos, mas com falta de preparo, de estrutura, de desejo. Uma coisa é você estar perto da criança, outra é você estar de fato com ela”, alerta a psicóloga Nanda Perim.

Por isso, esforce-se sempre para ter momentos de vínculo em família, na pandemia ou não. E isso você faz nas pequenas coisas do dia a dia: no abraço quando seu filho está triste, na conversa interessada quando ele volta da escola, no jogo de tabuleiro no fim de semana, no filme com pipoca no sofá da sala, na história que conta antes de dormir.

Outra questão valiosa: não pense que, por dizer “não”, você corre o risco de perder o vínculo com o seu filho. Isso acontece, normalmente, quando o adulto foi educado sob essa ameaça, ainda que velada: “se você não me obedecer, eu não vou te amar”. “Então, quando essa criança, que viveu tal mensagem de forma repetitiva, vira pai e mãe, ela teme o mesmo. Teme que um erro seu, na condução da maternagem e da paternagem, signifique a perda do amor do filho. É aí que o autoconhecimento entra como uma ferramenta poderosa, porque você precisa compreender quais foram os processos que aconteceram com você na infância, para que possa lidar com eles na vida adulta de outra maneira”, diz o psicólogo Alexandre Coimbra Amaral.

 

 

Limite também é amor

Um outro princípio fundamental no ato de ensinar é dar limites. Parece contraditório? Pois não é. Educar com gentileza nem de longe significa ser totalmente permissivo, deixar que a criança faça aquilo que quer, na hora que quer, do jeito que quer. Pais amorosos orientam, ensinam, instruem e, dentro de tudo isso, está dar limites com bom senso.

Desde o nascimento, precisamos ter rotina e combinados em casa. Ainda que esses dois pontos tenham sido reconsiderados e reajustados, diversas vezes, na pandemia, eles são preciosos para a harmonia da família. “Os limites vêm com os combinados. O adulto vai medindo no que vale a pena ceder e o que vale o tempo maior de explicar e ensinar as regras sociais. Mas as crianças são parte de um time, que é a família, e ajudar a fazer os acordos aumenta as chances de segui-los depois”, diz a pediatra Juliana Alfano.

Ou seja, seu filho pode e deve ter a opinião dele ouvida e respeitada, sem que isso queira dizer que vai manipular você. Assim, quando ele não seguir algo que combinaram, ajude-o a identificar as consequências. Assim, estará criando alguém que pensa na ação e na reação, que mede seus atos, e não simplesmente obedece a uma regra estabelecida por outra pessoa. Nesse sentido, fica fácil entender por que os castigos não são uma boa ferramenta de educação: você até pode ter um resultado ali na hora, mas que aprendizado ele causa?

E não se esqueça de que, no caso de uma birra, tão comum entre 1 e 4 anos, o adulto é você, e esse comportamento nada mais é do que um pedido de ajuda. Ela ainda não sabe se expressar direito, colocar as emoções organizadas em palavras. Por isso, valide o sentimento do seu filho, nomeie essa sensação que, às vezes, ele nem sabe que existe, coloque-se no lugar dele. Quando se sente compreendido, o pequeno já começa a se acalmar.

331 Mat Capa Educar com gentileza (Foto: Getty Images)

 

 

Mais espaço para as emoções fluírem

Não tem como falar de educação com firmeza e gentileza sem considerar a educação emocional. Entender que todos nós podemos sentir — alegria, raiva, compaixão, tristeza, frustração — faz toda a diferença. O que precisamos ensinar aos nossos pequenos (e muitas vezes aprendermos também) é que esses sentimentos não podem causar consequências negativas, que desrespeitem o outro. Por exemplo, seu filho pode sentir raiva do irmão, mas não pode bater nele por causa disso.

E como a gente coloca essa educação emocional na prática? Antes de tudo, mostrando os nossos sentimentos. “Emoções são um tema que se ensina no cotidiano. E não só mostrando a emoção da criança, mas também a do adulto, assumindo o que nós sentimos, quebrando esse paradigma de que o pai e a mãe têm de ser impávidos colossos, que têm de estar ótimos o tempo inteiro. Por que não responder com sinceridade quando as crianças nos perguntam: mãe, você está triste? Sim, estou muito triste. Por que você está triste? Ah, por alguma coisa que aconteceu comigo no trabalho, você pode me dar um abraço? Isso é educação emocional”, orienta Alexandre Coimbra Amaral.

 


Deixe o campo aberto para o diálogo sobre as emoções. Não subestime quando seu filho disser que está com medo, triste ou chateado. Valide e acolha os sentimentos e converse sobre o assunto. Isso pode, inclusive, ajudar você a lidar melhor com as suas próprias emoções. Foi o que sentiu o contador Ricardo Duarte, 32 anos, pai de Vicente, 3 anos. “Eu e meu marido temos dificuldade para falar sobre sentimentos, devido a todo o nosso histórico de vida. Estamos reaprendendo a entender e a lidar com as nossas emoções e fragilidades ao ensinar sobre isso para nosso filho”, diz.

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from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Educacao-Comportamento/noticia/2021/10/como-educar-os-filhos-com-respeito-e-gentileza.html

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