"A minha filha era linda, saudável e cheia de sonhos", lembra Maria da Guia Lopes, 50 anos, do Distrito Federal. Thaynara Ferreira, 27 anos, contraiu covid-19 em abril, com 40 semanas de gestação, passou por uma cesárea de emergência, foi intubada e sofreu diversas complicações que a deixaram com danos cerebrais irreversíveis. Hoje, seis meses depois, ela está em casa, mas vive seus dias deitada em uma cama. "Ela apenas mexe os olhos e faz movimentos involuntários. Não fala, não anda, alimenta-se por sonda, precisa de oxigênio e usa fraldas", conta Maria.
O caso de Thaynara causou comoção nas redes sociais. Poucos dias antes de ser intubada, ela chegou a fazer posts nas redes sociais. “Quando eu sair dessa, prometo viver mais, perdoar a quem me magoou”, escreveu. Além do bebê Alexandre, 6 meses, Thaynara também é mãe de Fernando, 7 anos. Maria dá assistência para a filha e também cuida dos dois netos. Em entrevista à CRESCER, ela relembrou como tudo aconteceu e falou das dificuldades que enfrenta desde então.
"Thaynara não teve os síntomas típicos da covid-19. Não perdeu o paladar ou o olfato, ela apenas se sentia muito cansada e com dores nas costas. Foi algumas vezes ao hospital, mas os médicos sempre achavam que era por conta da reta final da gravidez e a mandavam para casa. Não se interessavam em ver a questão da covid. Então, ficava naquele 'vai e vem' até que no dia 3 de abril, com 40 semanas de gestação, começou a passar muito mal, vomitando e com dores nas costas. No dia seguinte, eu a levei ao hospital, mas não a atenderam porque estava muito cheio. Então, tivemos que ir para outra unidade. Chegando lá, ela foi atendida e logo fizeram o exame de covid. Ela ficou internada esperando o resultado do exame e, enquanto isso, um raio X mostrou que já estava com 30% dos pulmões comprometidos. Foi um susto! Devido à isso, ela foi transferida para uma maternidade e, no dia 5, fizeram uma cesárea de emergência. Alexandre nasceu bem, saudável, ficou com ela alguns dias. Thaynara até mandava fotos dele pra mim.
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No entanto, no dia 9, cinco dias após o parto, o estado de saúde dela piorou bastante e ela precisou ser intubada. Apesar de muitos esforços, a doença evoluiu cada vez mais e chegou a comprometer todos os seus pulmões. Os médicos até avisararam que o pior estava para acontecer, porém, depois de colocar drenos e realizar uma traqueostomia, seu quadro foi melhorando. Mas, infelizmente, Thaynara teve duas paradas cardíacas, embolia pulmonar e trombose. Uma sequência de acontecimentos que resultaram em lesões cerebrais graves. Hoje, ela não consegue andar, sentar, se alimenta por sonda e necessita usar fraldas. Para a medicina, o caso dela é irreversível, infelizmente. Minha filha não consegue se comunicar, vive completamente em estado vegetativo. Ela não vive mais fisicamente e espiritualmente. Mexe os olhos e faz alguns movimentos involuntários, apenas.
Financeiramente, conseguimos muitas coisas com a vaquinha online, como a cama, oxigênio e alguns equipamentos necessários para mantê-la em casa. Ela recebe acompanhamento médico, mas não tem evolução. Pelo contrário. Como não conseguimos custear fisioterapia, a condição dela tem piorado. Nem mesmo o auxílio que ela tem direito foi liberado. Ainda estamos esperando. Atualmente, somente meu marido trabalha. Moramos de aluguel e são sete pessoas aqui em casa: eu, meu marido, minhas três filhas e os dois filhos de Thaynara. Além dela, ainda tenho outra filha que é especial. Então, tem sido muito difícil.
Thaynara era linda, saudável, cheia de sonhos e hoje me deparo com ela nessa situação. Se, naquela época, a vacina já tivesse sido disponibilizada para as gestantes, se elas tivessem sido priorizadas, minha filha não estaria desse jeito. Até agora, estou em estado de choque. Todos os dias, eu olho pra minha filha... era tão cheia de vida. Ela tinha acabado de alugar uma kitinete para morar com os filhos. O mais velho, de 7 anos, reage com muita tristeza. Ele diz que a mãe dele vai ficar boa... Ele pede para o 'Papai do Céu não levar a mãezinha' dele agora. É muito triste. Estava buscando emprego, chegou a ser chamada para trabalhar, mas, infelizmente, hoje, não pode mais."
A família de Thaynara criou uma vaquinha online a fim de arrecadar recursos financeiros. Para ajudar, clique aqui.
Um estudo, publicado no JAMA Network Open, descobriu que mulheres grávidas que entram em trabalho de parto enquanto estão infectadas com covid-19 correm maior risco de complicações graves e morte do que aquelas sem o vírus. Pesquisadores da Universidade da Califórnia revelaram que as futuras mães que deram à luz com o vírus tinham cinco vezes mais chances de acabar em unidades de terapia intensiva (UTIs) e 10 vezes mais chances de morrer.
Já um levantamento levantamento feito pelo Observatório Obstétrico Brasileiro Covid-19 (OOBr) e divulgado neste mês, mostrou que os riscos de complicações e de morte também são maiores para aquelas que não se vacinaram. A letalidade é de 14,6% entre o grupo não imunizado. Ou seja, a cada 100 mulheres grávidas não vacinadas, com quadros graves de covid-19, pelo menos 14 vão à óbito. De acordo com os dados, no Brasil, 80,4% das gestantes e puérperas internadas por causa da covid-19 não tomaram nenhuma dose da vacina. Só 4,3% das internações foram de mulheres que já haviam tomado as duas doses do imunizante.
As principais organizações de saúde do mundo recomendam que todas as grávidas e puérperas se vacinem contra a covid-19 o mais rápido possível. Em setembro, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos voltou a reforçar a segurança das vacinas e sugeriu uma "ação urgente para aumentar a imunização" desses grupos.
from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Gravidez/noticia/2021/10/mae-de-dois-fica-em-estado-vegetativo-apos-dar-luz-com-covid-19-era-linda-e-cheia-de-sonhos-lamenta-avo.html