Ser uma mãe calma e controlada, superando a tensão, sendo a líder graciosa, confiante e madura de que nossos filhos precisam: esta é a mãe que a maioria de nós aspiramos a ser, desejamos e até prometemos ser, mas pode ser difícil de sustentar! Porque a forma como reagimos tem mais a ver com o que sentimos. E, apesar de nossas melhores intenções, perdemos o controle e acabamos gritando com aqueles que mais amamos – nossos filhos.
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A meu ver, geralmente é uma mistura de consciência e gatilhos. Quando se trata de consciência, a maneira como vemos nossos filhos e seu comportamento tem um grande efeito em como reagimos a eles. Por exemplo, nos dias em que estamos nos sentindo felizes, tudo parece correr melhor para nós. O que está em questão aqui não é o fato de tudo funcionar para mim do jeito que eu quero, trata-se muito mais de as coisas não acontecerem do meu jeito. Não estar ciente disso aumenta a probabilidade de não suportar minha luta e, consequentemente, me sentir provocada pela minha filha ou pela situação.
Mas comparando isso com dias em que tenho muito a fazer e me sinto cansada ou frustrada. Estou muito mais irritada e facilmente muito mais propensa a reagir sem considerar o impacto potencial de minhas palavras e ações. Entendem? Aí vem o que esperamos: que eles ouçam e obedeçam nossas palavras? Ou estamos prontas para entender que eles podem precisar de mais ajuda nossa do que apenas nossa condução? Vemos o mau comportamento de nossos filhos como se eles estivessem “nos dando trabalho” em vez de “tendo problemas”? Vemos nossos filhos como “travessos” ou “maus”, ou os vemos como inerentemente bons, sempre tentando o melhor que podem em cada situação?
Tornar-se mais consciente de meu estado interior fez uma enorme diferença na qualidade de como reagimos com a filhos.
A outra razão pela qual podemos nos pegar gritando com nossos filhos são nossos próprios gatilhos. Frequentemente culpamos nossos filhos por nossas explosões e nos convencemos de que é porque eles não ouvem, são desrespeitosos, atrevidos ou se comportam mal. Mas é importante entender que esses são nossos próprios gatilhos em jogo. As ações, comportamentos ou eventos de nossos filhos podem apertar nossos botões, trazer à tona dor, traumas não resolvidos ou outras memórias de nossa própria infância e que muitas vezes nos fazem reagir sem pensar, de maneiras que geralmente nos arrependeremos mais tarde!
Esses gatilhos são o que em psicanálise chamamos de identificações projetivas, mas se não cuidamos dessas identificações, tendemos a pensar que são eles que precisam mudar seu comportamento, quando na verdade somos nós que temos o trabalho emocional de adaptação a nossas sombras a fazer. Por quê? Porque vamos nos sentir culpadas e envergonhadas.
1. Sempre começa e termina conosco.
Como mãe e como psicanalista, acredito que é nosso trabalho número 1 nos mantermos emocionalmente saudáveis (por meio de autocuidado, práticas de atenção plena ou outros meios) para que possamos realmente aparecer como as mães que queremos ser para nossos filhos. É realmente impossível ser consistente e emocionalmente generoso com nossos filhos quando somos uma esponja seca para nós mesmas.
2. Não conserte até se conectar.
Em qualquer situação estressante, experimente assumir uma postura de profunda empatia e praticar ver as coisas da perspectiva de seu filho. Quando realmente reconhecemos os sentimentos (todos os sentimentos!) de um ponto de vista empático, não haverá espaço para a raiva. E quando nossos filhos sentem que estamos do lado deles e os entendemos, mesmo quando estamos estabelecendo os limites necessários, eles vão querer se comportar e cooperar. É por isso que os limites empáticos são tão poderosos, porque nos conectamos enquanto estabelecemos limites.
O que geralmente parece para mim é algo assim: primeiro, tento reconhecer meus próprios sentimentos em voz alta: “Estou me sentindo frustrada agora” ou “Estou sentindo que estou ficando com raiva agora”. Então direi – de novo, em voz alta – como vou tentar me acalmar. Costumo dizer algo como “Não gosto de me sentir tão frustrada, não me faz sentir bem, vou tentar me acalmar… vou respirar fundo algumas vezes”. Então, vou respirar fundo na frente dos meus filhos e, é claro, que me sinto melhor depois disso e posso continuar em um estado de espírito mais produtivo.
É uma grande vitória para mim quando sou capaz de modelar a autorregulação dessa forma, mas está longe de ser fácil de fazer! É preciso muita prática, mas quanto mais sou capaz de me forçar a fazer uma pausa antes de voar, mais fácil se torna de fazer no momento. Quando você se sentir provocada pelo comportamento de seu filho, certifique-se de se voltar para dentro para ter uma noção de como tem se sentido ultimamente. Se você for capaz de reconhecer que ficou chateada, estressada ou frustrada, é mais provável que consiga lidar melhor com a situação.
Como você está se sentindo determina como você se comporta e isso tem mais a ver com o acúmulo de frustração, mágoa ou decepção já em seu sistema emocional do que com o que seu filho fez neste exato momento. Nem sempre é fácil de fazer, mas com um coração mole, um pouco de boa vontade e um pouco de prática, você encontrará o seu caminho.
Com carinho,
Monica Pessanha
+ Mônica Pessanha: "Como lidar com os 'nãos' que seu filho diz?"
Mônica Pessanha é psicanalista de crianças, adolescentes e mães. É coautora do livro 'Criando filhos para a vida'. É mãe de mãe de dois, um que virou “estrelinha” e da Melissa
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