A CoronaVac, vacina produzida pelo Butantan em parceria com a farmacêutica Sinovac, demonstrou que tem um papel significativo em prevenir casos graves de covid-19 em gestantes. Foi o que apontou um estudo feito por pesquisadores britânicos e brasileiros. De acordo com os achados da pesquisa, o imunizante teve 85% de eficácia contra casos graves de covid-19 entre gestantes, quando as mulheres tinham completado seu esquema vacinal — o que revela a importância de se tomar as duas doses da vacina.
A pesquisa foi publicada na plataforma SSRN, ligada à revista científica The Lancet, em forma de pré-print, então, ainda precisa ser revisada pelos pares. No entanto, o estudo traz dados animadores. O levantamento foi realizado com gestantes, de 18 a 49 anos, no Brasil, com registro de testes RT-PCR, entre 15 de março de 2021 e 3 de outubro de 2021, cadastrados no e-SUS Notifica, do Ministério da Saúde.
O trabalho se baseou nos testes de 19.838 mulheres grávidas. Desse grupo, 37,4% testaram positivo para a covid-19 e 7,9% tinham doença grave. É importante enfatizar também que apenas 83% das mulheres grávidas que receberam a primeira dose de CoronaVac completaram o esquema de vacinação, sendo que uma única dose da vacina CoronaVac não foi eficaz na prevenção da covid-19 sintomática. Já nas mulheres com esquema vacinal completo, a eficácia de duas doses de CoronaVac foi de 41% contra a covid-19 sintomática.
Com base nos dados, os pesquisadores concluíram que: "duas doses da CoronaVac aplicada em mulheres grávidas foi eficaz na prevenção de covid-19 sintomático e altamente eficaz contra doenças graves em um ambiente que combina alta carga de doença e elevada mortalidade materna relacionada à covid-19", diz a publicação.
O Ministério da Saúde informou à CRESCER que as gestantes e puérperas também receberão a dose de reforço contra a covid-19. Nesta semana, a pasta ampliou o público que deve receber a dose adicional para todas as pessoas maiores de 18 anos. Antes, a indicação valia apenas para idosos, imunossuprimidos e profissionais de saúde. O governo federal também antecipou o intervalo de aplicação da terceira doses de seis para cinco meses.
A recomendação é para que os postos usem vacinas diferentes das que foram aplicadas anteriormente, o que inclui as vacinas — AstraZeneca, CoronaVac, Janssen e Pfizer. No entanto, o MS anunciou que gestantes e puérperas só deverão ser imunizadas com a vacina da Pfizer, sem explicar o motivo, já que a CoronaVac também está liberada para este público. O estado de São Paulo também anunciou que as grávidas e puérperas poderão ser vacinadas, no entanto, o imunizante pode ser tanto o da Pfizer como da CoronaVac.
Entidades como a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e a Associação de Obstetrícia e Ginecologia de São Paulo (Sogesp) já vinham se posicionando a favor da dose de reforço para gestantes e puérperas, devido ao “maior risco de desenvolver as formas grave da covid-19 e, consequentemente, maior risco de morte materna”, além de maiores chances de prematuridade.
A Febrasgo ressaltou que esse grupo seja imunizado com as vacinas aprovadas para mulheres grávidas e em puerpério, preferencialmente a da Pfizer/BioNTech. "Produzida a partir de mRNA, esta vacina foi bastante aplicada em gestantes e não apresentou intercorrências", disse a Federação, em nota. Caso a vacina da Pfizer não esteja disponível, a CoronaVac, produzida pelo Butantan por meio de vírus inativado, também pode ser aplicada neste grupo, segundo a Febrasgo.
A American College of Obstetricians and Gynecologists também recomenda que gestantes e puérperas recebam uma dose de reforço da vacina contra a covid-19 após completar seu esquema vacinal — no caso da Pfizer, a entidade orienta que isso acoteça seis meses após a segunda dose.
"Hoje, os dados mostram que, com o passar do tempo, há uma diminuição da eficácia das vacinas e, quanto maior a idade da pessoa e quanto mais condições crônicas ela tiver, maior essa perda de proteção. Então, daí a ideia de revacinar todos. E como as gestantes e puérperas têm riscos maiores de desenvolver formas graves, elas devem ser priorizadas. Mas essa revacinação deve ser realizada em todas as pessoas", esclareceu o infectologista e pediatra Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
Segundo a obstetra e professora Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Melania Amorim, grávidas e puérperas não só podem como devem tomar a terceira dose da vacina contra a covid. "Esta tem sido minha bandeira de luta e da rede feminista de GO [Ginecologistas e Obstetras] desde que surgiu a possibilidade de terceira dose diante dos estudos que mostram queda dos anticorpos pós 6 meses de vacina. Ou seja: quem tomou a vacina logo antes de engravidar ou bem no começo de engravidar está novamente exposta ao aumento do risco de contrair a covid-19 e ter as complicações que tão bem conhecemos e passamos todo esse tempo divulgando, porque a gravidez aumenta o risco de complicações e morte por covid-19 e esse risco de morte é cerca de cinco vezes maior nas formas graves da doença em não vacinadas, estimando-se, portanto, que volte a aumentar na medida em que ocorre essa queda de anticorpos", explica a especialista.
Para a médica, é necessário concentrar os esforços para tranquilizar as gestantes quanto à vacina. "Infelizmente médicos leigos e antivacinas que não acessam as evidências ou interpretam os estudos de forma desonesta e equivocada ficam fazendo alertas falaciosos ou, pior, falando que a bula 'proíbe'. E não é nada disso. Como toda bula, até de água destilada ou de um simples paracetamol, a bula da Pfizer que é a vacina mais usada e mais estudada avisa que o uso na gravidez deve ser feito sob orientação médica. Mas essa 'orientação' não é de um médico desavisado, obviamente", alerta a pesquisadora. A professora ressalta, ainda, que as vacinas são seguras e não há motivos para medo. "Há muitos estudos recentes garantindo a segurança das vacinas comparando pessoas vacinadas com controles da população", finalizou.
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from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Gravidez/noticia/2021/11/duas-doses-de-coronavac-tem-eficacia-de-85-para-evitar-casos-de-covid-19-grave-em-gestantes-aponta-estudo.html