Estamos em mais um novembro roxo. Estamos em mais um ano em que o mundo se une em prol de uma melhor conscientização sobre a prematuridade, prevenção, suas causas, seus efeitos e consequências - a curto e a longo prazo - para a sociedade, famílias e bebês. Com certeza já subimos alguns degraus e que já provocaram mudanças em muitas equipes de saúde, famílias e prematuros. Porém, ainda faltam muitos degraus em prol de uma verdadeira conscientização sobre o real sentido do que significa nascer prematuramente e todos os impactos sociais, econômicos e de saúde física e psíquica envolvidos na realidade brasileira e mundial diante dos nascimentos antes das 37º semana gestacional.
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Afirmo sobre a importância de compreendermos o verdadeiro sentido e consequências de um nascimento prematuro, pois viver o novembro roxo não significa apenas enfeitar as UTIs neonatais de roxo para oficializarem o mês da prematuridade.
Foi muito difícil começar esse texto, porque não estou sendo contra a nenhuma ação nas quais as UTIs ficam mais belas, os nossos prematuros mais lindos com roupinhas especiais, a equipe mais colorida com essa cor tão linda e esperada por todos nós, que é o roxo, entre tantas outras ações que são embasadas na humanização e no cuidado centrado à família.
Porém, ao receber um depoimento de uma mãe prematura na semana passada, precisava usar a escrita como uma forma potente de gerarmos ainda mais reflexões sobre o que de fato significa a prematuridade e como as instituições, ONGs, equipes, famílias que lutam por essa causa podem se unir para, cada vez mais, mudar a dura realidade de várias famílias prematuras e seus bebês em muitos lugares de nosso país, tão extenso e diverso.
A mãe prematura e que não terá a sua identidade revelada escreveu o seguinte depoimento e que chegou até mim pelo projeto interdisciplinar @prematurosbr: "Interessante que a porta da UTI está decorada com o mês roxo, escrito na porta pequenos guerreiros. Mas não colocaram o tema da campanha desse ano que é separação zero. Infelizmente onde minha bebê está internada não tem o contato pele a pele. Estou sentindo muita falta disso, até porque já faz mais de 3 meses que minha bebê está na UTI e nem coloquei ainda no peito para mamar. Assisti ao seu vídeo agora que os pais precisam fazer parte de todo o processo de internação, mas infelizmente muitas utis não pensam dessa forma, mas creio que o dia da alta hospitalar estará próximo¨.
A realidade dessa mãe, infelizmente, é a realidade de muitas famílias prematuras. Famílias que relatam falta de cadeira para se sentarem, de sala para os pais passarem o dia nos hospitais, de falta de banco de leite para ordenha e pasteurização do leite humano, sobre o pouquíssimo tempo destinado às visitas - como cerca de 40 minutos por dia - da falta da posição e método canguru para acalentarem os seus bebês, da falta da presença do toque afetivo e único das mãos dos pais, da falta da voz materna e paterna para ninarem os seus bebês em incubadoras, da falta da família como o real e verdadeiro centro de atenção em todos os períodos de uma gestação de risco e internação hospitalar, da falta de um pré-natal com a devida atenção aos fatores de risco e que levam à prematuridade... são tantos exemplos em que a humanização e a família não são o centro da atenção no contexto da prematuridade, que realmente todos os envolvidos com essa realidade e que acreditam na força do amor, da afetividade, da espiritualidade e da ciência... precisam realmente lutar, expor relatos reais, averiguar e transformar essa dura realidade e que acomete muitas famílias prematuras.
A humanização precisa acontecer todos os dias nas UTIs do nosso país. Afinal de contas, humanização, antes de caracterizar ações dentro de um contexto hospitalar, deve caracterizar a conduta de todo e qualquer profissional que escolhe a prematuridade como o seu foco de atenção profissional.
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Gratidão a todas as equipes de saúde humanizadas que eu tenho e tive a honra de conhecer diariamente. Gratidão a todo profissional de saúde que tenta unir afetividade, espiritualidade e ciência em suas ações diárias de cuidado intensivo com os prematuros e seus pais. Gratidão a Ong Prematuridade.com pela excelência política e social com a nossa causa, especialmente pelo tema da campanha desse ano – SEPARAÇAO ZERO-. Gratidão a todas as famílias resilientes, fortes e que demonstram o quanto a prematuridade significou para cada pai, mãe, avós, tios....
Convido a todos a terem gratidão pelo que já conseguimos mudar nessa realidade tão complexa e que não se finaliza com a alta hospitalar, chamada prematuridade... acredito que a gratidão seja o melhor caminho para continuarmos fortes e mantermos o nosso caminho e processo incansável de transformação e conscientização. Afinal de contas, somente o amor pode nos ensinar... é isso que temos que continuar a demonstrar: um prematuro só consegue chegar mais longe, mais estável clinicamente e com menos dificuldades se ele tiver o amor, a presença e o cuidado duradouro de seus pais nas UTIs.
Para a manutenção da vida é preciso amor! Para a manutenção da vida de um bebê é preciso o amor e a presença de seus pais... e tudo isso já é confirmado cientificamente na área da neonatologia, pediatria e neurologia. Amor é o grande adubo para a reorganização neurológica de qualquer prematuro, ganho de peso, estabilidade clínica, cura de uma infecção... separação zero é antes de tudo uma conduta que preza o amor, a presença para a promoção da saúde de famílias e prematuros para cada bebê poder chegar o mais longe possível, com o máximo de qualidade de vida e saúde.
Portanto, finalizo esse texto com 4 palavras: gratidão, força, união e fé... não desejo que essas palavras sejam em vão e, sim, palavras que marquem a conduta de cada equipe hospitalar, de cada profissional de saúde, de cada instituição, de cada ONG e de cada espaço em prol da real conscientização do que de fato significa a PREMATURIDADE. Seguimos... para mais longe chegarmos!!!!!
Um grande abraço, com afeto, Teresa Ruas
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