Com o relaxamento da quarentena e a volta às aulas presenciais, os médicos têm notado um aumento no número de casos da doença popularmente conhecida como mão-pé-boca. Mas o que será que tem causado essa alta? Há motivos para alarde?
De acordo com dados fornecidos pelo Hospital Infantil Sabará, em São Paulo, somente neste ano, 266 crianças foram diagnosticadas com a doença após procurarem o pronto-atendimento. No ano passado, o total de crianças que foram ao hospital e receberam esse diagnóstico foi de apenas 68. Vale destacar, porém, que o número de casos da doença relatado até 16 de novembro deste ano se assemelha ao de 2019 (período antes da pandemia), quando 248 crianças foram diagnosticadas de janeiro a dezembro.
Para pediatra Caroline Peev, do Sabará, o cenário se deve à retomada do convívio social entre as crianças, e ocasiona a alta de casos não só dessa doença, mas de várias infecções virais comuns da infância. “A volta do convívio social entre as crianças, em parquinhos, escola e aniversários, pode ter alavancado os casos. Os vírus precisam de hospedeiros para se multiplicar, então onde há aglomerações, há infecções. Na pandemia as crianças não se encontraram, por isso notamos uma diminuição das doenças virais”, explicou.
Além disso, a diminuição dos casos de covid-19 pode também estar contribuindo para o aumento de diagnósticos da mão-pé-boca. “Com os casos de covid-19 baixando, esses vírus que estão circulando entre a população acabam sendo mais diagnosticados”, completou o infectologista pediátrico Victor Horácio, do hospital Pequeno Príncipe.
A CRESCER entrou em contato com o Ministério da Saúde, mas não obteve retorno sobre os dados nacionais do diagnóstico da doença. O governo federal reafirmou que as condições de convívio próximo favorecem a infecção, que ocorre pelo contato com secreções respiratórias e orais de pessoa infectada (ao tossir ou espirrar), assim como pelo contato físico, como em beijos, abraços, e compartilhamento de copos e talheres.
A boca notícia é que, apesar de ser bastante comum na infância, a mão-pé-boca não costuma evoluir para casos graves.
A mão-pé-boca é uma doença contagiosa, causada principalmente pelo vírus Coxsackie. “Como o próprio nome já diz, a doença pode causar feridas na boca e lesões nas mãos e nos pés. Geralmente, a criança começa a apresentar sintomas depois de 3 a 4 dias da infecção”, esclareceu o infectologista do Pequeno Príncipe, onde também ocorreu um aumento de casos após a flexibilização do isolamento, este ano, apesar de não haver dados contabilizados.
Dra. Carolina explica que a doença costuma atingir principalmente crianças de até 6 anos de idade. “Ela geralmente é transmitida através de contato direto ou superfícies como brinquedos e objetos contaminados pelo vírus”, disse. Mesmo quando as lesões desaparecem, a criança pode continuar transmitindo a doença por cerca de 4 semanas, complementou Dr. Victor.
Medidas de higiene são a melhor forma de prevenir o contágio. “Lavar bem as mãos, tanto a criança quanto as pessoas que têm contato com ela, é uma medida que evita a transmissibilidade”, afirmou o infectologista.
O Ministério da Saúde reforça ainda medidas como usar lenços de papel ao espirrar ou tossir e depositá-los em lixeira imediatamente após o uso; não compartilhar toalhas ou itens de uso pessoal, como copos, xícaras e talheres; lavar roupas de cama com sabões desinfetantes.
É importante também que os pais evitem mandar crianças com sintomas infecciosos para a escola, completou a Dra. Caroline, o que geralmente dura entre 7 e 10 dias. Não há vacina para a prevenção da doença mão-pé-boca.
Não existe nenhuma terapia específica para a doença e o tratamento é feito com medidas de suporte. “Geralmente receitamos um analgésico, como paracetamol, e anti-inflamatórios para alívio da dor e do desconforto causados pela febre e pelas lesões na boca”, explicou o infectologista. Além disso, Dra. Carolina acrescenta que é importante manter a criança hidratada e deixar suas unhas curtas, para evitar infecção local.
A regressão do quadro ocorre espontaneamente em 7 a 10 dias e o tratamento da doença. Neste período, deve ser dada preferência a alimentos pastosos e frios, evitando-se sucos ácidos, refrigerantes, alimentos quentes ou temperados.
"Recomenda-se também manter boa higiene oral, com o uso soluções antissépticas bucais, além de maior atenção à higiene e hidratação da pele. Por ser um quadro viral, antibióticos não devem ser usados, a não ser quando as lesões iniciais da doença sofrem infecção secundária por uma bactéria. O diagnóstico e a orientação terapêutica podem ser feitos na Unidade Básica de Saúde, não sendo necessário buscar o serviço de emergência para isso", explica o Ministério da Saúde, em nota à nossa reportagem.
De modo geral, a doença não costuma evoluir para casos mais graves. Mas como ela causa lesões na boca, a criança pode deixar de se alimentar corretamente, o que pode causar desidratação. “Alimentos como purê, mingau, gelatina e sorvete são mais fáceis de engolir e a criança pode aceitar com mais facilidade”, indicou o médico. Manter a higiene também é fundamental durante essa fase, para evitar que as lesões infeccionem.
Recomenda-se, ainda segundo o Ministério da Saúde, uma nova avaliação médica se houver persistência de febre alta com calafrios ao longo do quadro ou se as lesões orais impedirem a ingestão de líquidos, pelo risco de desidratação.
Saiba como assinar a Crescer para ter acesso a nossos conteúdos exclusivos
from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Saude/noticia/2021/11/medicos-relatam-aumento-no-numero-de-casos-de-mao-pe-boca-entre-os-pequenos-entenda-doenca.html