Existem algumas enfermidades sobre as quais a gente já ouviu falar, mas não tem a menor ideia do que sejam. Isso ocorre, principalmente, porque há pouquíssimo casos. A difteria é uma dessas doenças. Por causa das campanhas de vacinação, ela está bem controlada e, por essa razão, provavelmente você nunca viu uma criança com esse mal. “Até pediatras mais jovens desconhecem a difteria, graças às vacinas”, explica a infectologista Rosana Richtmann, diretora do Comitê de Imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia. Ainda bem!
No entanto, é preciso “saber sobre o inimigo”. Entender sobre a difteria só vai validar ainda mais a necessidade de não deixar de vacinar seu filho contra ela. A seguir, descubra o que é difteria, e como essa enfermidade pode ser perigosa.
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Trata-se de uma doença infecciosa, transmissível, causada pela toxina da bactéria Corynebacterium diphtheriae. Ela atinge as vias respiratórias – amígdalas, faringe, laringe, nariz, mas pode pegar outros locais, como a pele.
A contaminação ocorre por via respiratória. Pessoas assintomáticas ou com sintomas podem transmitir pelo espirro ou pela tosse. O período de transmissibilidade, uma vez que a pessoa tenha o quadro clínico, pode ser de até duas semanas. Já o período de incubação, ou seja, entre a pessoa ter contato com alguém com difteria e desenvolver a doença pode ser de um a seis dias. Embora menos frequente, além do contágio por meio de contato com secreções das vias respiratórias, é bem raro, mas pode acontecer de a bactéria ser transmitida também no toque com a pele infectada.
Entre os principais sintomas estão a dor de garganta, dificuldade para engolir, febre, dor de cabeça, calafrios e mal-estar. “No entanto, o mais preocupante é sua evolução para a forma mais grave, quando surgem placas acinzentadas que cobrem as amígdalas e os linfonodos (gânglios) do pescoço. Com isso, eles se juntam e formam uma espécie de barreira que vai da garganta até a via aérea superior, levando a uma insuficiência respiratória grave e de difícil tratamento. O paciente tem dificuldade extrema para respirar e engolir”, afirma o infectologista Daniel Jarovsky, do Sabará Hospital Infantil (SP).
E pode haver outros desdobramentos: “A ação da bactéria ainda pode provocar comprometimento neurológico e cardíaco – levando à inflamação do coração, conhecida como miocardite. Além disso, como já foi citado, também pode acometer o centro da respiração, provocando parada respiratória. Mais raramente, pode chegar ao sistema nervoso, causando uma paralisia facial. Em resumo, o quadro mais grave da difteria pode levar à morte”, diz Rosana Richtmann. O infectologista Daniel Jarovsky ressalta que o grau de letalidade para os casos graves é altíssimo: “Dados atuais da Organização Pan-Americana de Saúde mostraram que ele chegou a 90% na América Latina”, diz.
O tratamento deve ser feito logo que houver confirmação do diagnóstico por meio de exame de cultura da bactéria. Muito mais do que usar antibiótico, é preciso neutralizar a toxina que essa bactéria provoca. “Por isso, o soro antidiftérico deve ser administrado o mais precocemente possível. Ele é encontrado, basicamente, em centros de referência de imunobiológicos especiais”, informa a infectologista Rosana Richtmann.
A prevenção é apenas uma: vacina, vacina e vacina. Não há outra forma de se proteger contra a difteria. E os imunizantes estão aí, disponíveis. A criança deve receber as primeiras doses aos 2, 4 e 6 meses, com reforço depois de um ano, seguido de novos reforços a cada dez anos. A vacina contra a difteria está incluída na tríplice bacteriana, a DPT – que protege contra difteria, coqueluche e tétano. “É importantíssimo manter as taxas de vacinação elevadas. Como a doença não foi eliminada, mas, sim, controlada, a bactéria ainda circula entre nós. Caso a cobertura vacinal caia, existe o risco da reintrodução da difteria no Brasil”, afirma Daniel Jarovsky.
+ Quais vacinas podem ser feitas no mesmo dia?
Rosana Richtmann alerta para um outro cuidado fundamental: “Caso haja confirmação de um caso, é preciso investigar quem foi exposto à pessoa contaminada, mesmo aqueles que não têm sintomas. E fazer a profilaxia com antibióticos para não haver disseminação da doença”, conclui a médica. Como dá para notar, não há por que correr riscos. Se existe vacina, não faz o menor sentido deixar seu filho correr o risco de adoecer por algo que é prevenível. Por isso, mantenha a carteira de vacinação dele sempre em dia e peça sempre orientação do pediatra.
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