Os índices de cobertura vacinal vêm caindo em todo o Brasil entre crianças e adolescentes. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), de 2015 a 2019 esse índice foi de 90% a 95% para cerca de 70%, aumentando o risco de doenças já erradicadas ou controladas voltarem a circular entre a população. Para incentivar a atualização dos esquemas vacinais, a SBI lançou a campanha Movimento Vacinação (www.movimentovacinacao.com.br)
Para os médicos infectologistas Carlos Starling e Nanci Silva, consultores da SBI, existem três fatores principais que explicam esse fenômeno. Um deles é o agravamento da crise econômica nos últimos anos, que dificulta o deslocamento dos pais até os postos de saúde e locais de vacinação. “Precisamos criar estratégias, facilitar a vida do indivíduo, como ampliar os horários de atendimento dos postos. Não é fácil sair do trabalho para levar o filho para ser vacinado”, diz Nanci Silva.
O segundo é que a própria eficiência das vacinas no controle e até na erradicação das doenças acaba funcionando como uma espécie de “efeito colateral”. Para Carlos Starling, como as pessoas não veem doenças controladas pelas vacinas circularem entre a população com tanta frequência, elas esquecem que isso acontece justamente pela efetividade das imunizações. “Elas acabam temendo mais os efeitos colaterais banais e transitórios das vacinas, como a dor no braço, do que a doença em si”, afirma o médico. Segundo Nanci Silva, muitos médicos mais jovens nem chegaram a atender pacientes com doenças que já estão controladas ou erradicadas pelas vacinas.
Para Nanci, um terceiro problema é que nos últimos anos houve um aumento na disseminação de notícias falsas pelas redes sociais e aplicativos de comunicação, o que causa confusão e dúvidas na população. “Algumas pessoas seguem uma linha mais naturalista, de deixar a doença acontecer. É preciso que os médicos cheguem mais próximos dos pacientes, discutam com a comunidade e façam um corpo a corpo para incentivar a vacinação, que tem uma eficácia inequívoca, vide a erradicação de doenças como a varíola”, diz a médica. Nanci também defende que os adultos aproveitem a ida os postos com os filhos para atualizarem seus próprios esquemas vacinais.
Na opinião de Carlos Starling, o movimento antivacina é um fator de menor importância nessa equação. “As vacinas sempre foram muito bem recebidas pela população brasileira, o povo adere às campanhas”, diz. Segundo o infectologista, o movimento antivacina não tem tanta expressão aqui quanto na Europa ou nos Estados Unidos.
Em 2020 e 2021, com a pandemia do Covid-19, mais pessoas ainda atrasaram a vacinação de seus filhos pelo medo de frequentar os postos de saúde. Segundo Starling, o calendário vacinal está atrasado no Brasil em praticamente todas as imunizações. Mas uma das que mais preocupam é o sarampo, não só no Brasil como no mundo todo. No ano passado foi estimado que 117 milhões de crianças em 37 países poderiam ficar sem a vacina contra a doença por causa da pandemia do coronavírus, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em 2016, o Brasil recebeu um certificado de erradicação de sarampo da Organização Pan Americana de Saúde (OPAS). Porém, já em 2018 novos casos da doença recomeçaram a aparecer. Naquele ano, foram confirmados 10.346 casos de sarampo. Em 2019, o Brasil perdeu seu certificado, e 20.901 casos da doença foram registrados. Em 2020, foram 8.448 casos e, até maio de 2021, 456 casos foram atestados no país, de acordo com dados do Ministério da Saúde.
O sarampo pode causar complicações como infecções respiratórias, pneumonia, diarreia, desnutrição e problemas neurológicos, consequências muito mais graves do que os efeitos colaterais possíveis da vacina, como dor de cabeça, irritabilidade e febre baixa. Segundo a OPAS, o sarampo continua sendo uma das principais causas de morte entre crianças pequenas, apesar de existir uma vacina. Entre 2000 e 2017, a vacinação evitou cerca de 21,1 milhões de mortes por sarampo no mundo.
Mesmo uma doença como a pólio, que já está erradicada há décadas no Brasil e que existe apenas em alguns poucos países do mundo, pode voltar a circular se a cobertura vacinal cair demais e se pessoas infectadas entrarem no país. “Nós vimos isso acontecer rapidamente com o H1N1 em 2009 e com a Covid-19 agora. Não podemos cochilar”, diz Starling.
Portanto, agora é a hora de verificar a carteirinha de vacinação do seu filho e completar as doses de vacina e de reforço que estão faltando. Se tiver dúvidas sobre quais imunizações precisam ser realizadas, procure um pediatra ou o responsável pela vacinação em um posto de saúde.
Confira aqui o calendário de vacinação da criança de 0 a 11 anos:
Bebês prematuros exigem cuidados especiais
Crianças que nascem antes de completarem 37 semanas de gestação devem receber uma série de cuidados especiais, e com a vacinação não é diferente. Por exemplo, os bebês prematuros devem receber a categoria acelular da vacina tríplice bacteriana, que protege contra coqueluche, tétano e difteria.
O tempo de aplicação da vacina da hepatite B também é diferente para os recém-nascidos com menos de 33 semanas de gestação e/ou menos de 2 quilos. Nesse caso, é necessário usar o esquema com quatro doses (0-1-2-6 meses), em vez de três doses (0-2-6). Outra diferença importante é a administração de um anticorpo monoclonal contra o vírus sincicial respiratório, uma das principais causas de infecções das vias respiratórias e dos pulmões em recém-nascidos.
Nos prematuros o risco de complicações respiratórias é dez vezes maior do que em bebês nascidos a termo. É preciso destacar também que a vacina BCG, que protege contra a tuberculose e que é administrada no bebê logo ao nascer, só pode ser aplicada em crianças com mais de dois quilos.
Devemos ainda lembrar que para quem tem bebê em casa, seja nascido a termo, seja prematuro, é fundamental que as pessoas que têm mais contato com a criança também estejam com suas carteirinhas em dia e imunizadas contra coqueluche, influenza, varicela, sarampo, caxumba e rubéola.
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