A história de Kelly Pinkney, 41, renderia um bom enredo de novela. Motorista de ambulância em Londres, na Inglaterra, Kelly não sabia a identidade de seu pai biológico, no entanto, graças a um teste de ancestralidade, ela conseguiu encontrar sua família paterna por meio de um primo. É claro que o caminho até essa descoberta não foi fácil e teve várias reviravoltas, com direito até a investigação nível "FBI".
A mãe da inglesa engravidou após passar uma noite com um homem que ela não conhecia. E 10 semanas depois ela soube que estava grávida. Não foi fácil ser uma mãe solo. Foram muitas críticas, principalmente devido ao preconceito da sociedade nos anos 1980, quando Kelly nasceu. A princípio, ela ficou com a sua mãe, porém, ainda pequena, por volta dos 4 anos de idade, acabou passando um tempo em uma sucessão de lares adotivos, até que aos 9 anos foi para um orfanato. Foi lá que ela começou a questionar sua identidade, porque ela tinha pele e cabelos escuros e olhos castanhos, enquanto toda a família de sua mãe era clara. "Minha cor se tornou uma coisa para mim. Foi muito difícil, porque eu estava em um orfanato, então eu era diferente de qualquer maneira, não tinha família e também era diferente porque tinha uma cor que ninguém mais tinha", relata Kelly.
Aos 10 anos, ela voltou a morar com a mãe e quis saber mais sobre sua família paterna. A única informação que ela tinha era que seu pai poderia ser árabe ou egípcio. Dessa forma, sem ter nenhuma pista e como iniciar uma busca, ela deixou o sonho de conhecer o pai adormecido por um tempo. "Por onde eu começaria? Eu pensei sobre isso em uma ocasião estranha. Eu me perguntei como ele seria. Eu me pareço com ele? Ele tem outros filhos?", questionava Kelly.
Após anos morando com a mãe, a motorista decidiu formar sua própria família e, aos 15 anos, foi morar com o namorado, com quem teve seu filho, hoje com 17 anos. No entanto, logo depois, o casal se separou.
Há dois anos, Kelly achou uma luz no fim do túnel. A inglesa soube que seu amigo tinha feito um teste de ancestralidade, na Califórnia (EUA), que usa uma amostra da saliva para avaliar a herança genética. Na época, o teste foi anunciado por 150 libras (em torno de R$ 1.120, na cotação atual) e Kelly não podia pagar, mas, alguns meses depois, ela viu a oferta por 99 libras (cerca de R$ 739) e decidiu se presentear.
Após cinco semanas de fazer o teste, os resultados chegaram e ela descobriu que era 50% persa. No entanto, a empresa também revelou que um primo dela estaria cadastrado em seu site e acabou conectando os dois. Após conversar com o primo, ela descobriu que a mãe dele tinha seis irmãos e um deles poderia ser seu pai. Dois estavam mortos, dois viviam nos Estados Unidos e outros não haviam estado em Londres no final dos anos 1970.
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O tal primo prometeu conversar com a família sobre o caso, porém, quando ele entrou em contato novamente, seu tom de voz já havia mudado. Ele disse que havia um erro e sua mãe e avó disseram que a família não tinha vindo para o Reino Unido até o final dos anos 80. Segundo ele, a empresa teria cometido um erro. "Mas, eu sabia que o DNA não podia estar errado, então comecei a fazer minha própria pesquisa, virei uma agente do FBI", afirmou Kelly.
Foi então que ela rastreou dois dos irmãos da família no Facebook, porém, eles não responderam às mensagens dela, então ela começou a conversar com suas filhas. As mulheres concordaram com um teste de DNA, que acabou indicando que elas eram primas. Outro irmão nos Estados Unidos também aceitou fazer um teste de DNA, que apontou que ele era tio de Kelly.
A notícia acabou se espalhando na família e, então, Kelly recebeu uma mensagem de outro irmão chamado Saeed, que ainda morava em Londres. Ele disse que reconheceu a mãe da motorista e concordou em fazer o teste. Depois de 41 anos, Kelly finalmente encontrou o pai e o mais curioso era que ele se arrependia por não ter tido filhos.
Há alguns meses, pai e filha finalmente puderam se encontrar e a inglesa ficou muito emocionada com o final dessa história: "Quando descobri, chorei incontrolavelmente por uma hora. Eu não conseguia parar. Pensei em toda a dor. Houve um grande alívio, finalmente soube quem eu era". Kelly conta que o pai nunca se casou, mas sempre quis ter filhos. "Foi um choque enorme para ele, pois ele nunca soube que eu estava lá, enquanto eu sabia que ele estava". A motorista agora planeja encontrar sua avó, que também está no Reino Unido, e outros primos nos Estados Unidos, com quem ela desenvolveu um relacionamento próximo.
Um porta-voz da 23andM, empresa que fez os testes, também comentou o caso de Kelly. "Embora não tenhamos sido projetados especificamente para ajudar as pessoas a confirmar a ascendência ou encontrar pais biológicos, nossa ferramenta DNA Relatives ajuda as pessoas a encontrar e se conectar com parentes genéticos participantes", explica a companhia. "Esse recurso é totalmente opcional, o que significa que os clientes devem escolher participar ativamente e são informados antecipadamente de que, ao usar a ferramenta, podem descobrir relacionamentos inesperados", informa a empresa.
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from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Educacao-Comportamento/noticia/2021/11/teste-de-ancestralidade-ajuda-mulher-encontrar-pai-biologico-apos-41-anos.html