Tuesday, July 20, 2021

Doenças infantis aumentam à medida que Covid retarda vacinações de rotina

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A Organização das Nações Unidas informou, na última quinta-feira (15), que cerca de 23 milhões de crianças perderam a vacinação de rotina em 2020 devido à pandemia de Covid-19, o maior número da última década. No Brasil, a cobertura vacinal para menores de 12 anos não atinge a meta do calendário do Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2018, segundo o próprio Ministério da Saúde.

Vacina ainda não foi liberada pela Anvisa (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

 

Com isso, avançam doenças antes erradicadas de muitos países, como sarampo e poliomielite. A lacuna na cobertura global de vacinação criou uma "tempestade perfeita", deixando mais crianças vulneráveis a patógenos infecciosos enquanto muitos países abrandam as restrições para o coronavírus, disseram a OMS e o Fundo das Nações Unidas para a Infância em um relatório anual, publicado no Daily Mail, com informações da Reuters.

Dez países, liderados pela Índia e Nigéria, respondem pela maior parte dos 22,7 milhões de crianças não vacinadas ou subvacinadas contra difteria, tétano e coqueluche (DTP) em 2020, aponta o relatório da ONU. São 3,7 milhões a mais do que em 2019 e o maior número desde 2009.

Surtos "grandes e perturbadores" de sarampo foram registrados em pontos críticos, incluindo Afeganistão, Mali, Somália e Iêmen, acrescentou o relatório.

Cerca de 22,3 milhões de crianças perderam a primeira dose da vacina contra o sarampo no ano passado. Foi a cobertura mais baixa contra a doença desde 2010. "A pandemia levou a um grande retrocesso na vacinação infantil, levando-nos de volta mais de uma década", afirmou Kate O'Brien, diretora de imunização da OMS, em uma coletiva de imprensa.

Houve um "aumento alarmante" de crianças com "dose zero" - aquelas que não receberam vacinação - que subiu de 13,6 milhões para 17,1 milhões no ano passado, disse Ephrem Lemango, chefe de imunização do UNICEF. Muitos vivem em países devastados pela guerra ou em favelas, ressaltou.

Pelo menos uma campanha de imunização contra doenças evitáveis foi adiada em 66 países por causa da covid-19, embora alguns, como o México, tenham iniciado programas de recuperação, descreveu a ONU. "Em 2021, teremos uma tempestade potencialmente perfeita prestes a acontecer e não queremos chegar a isso para soar o alarme. Estamos tocando agora", disse O'Brien.

A OMS pediu que as nações não suspendam as medidas de saúde pública e distanciamento social. “Veremos mais e mais transmissão de patógenos que, de outra forma, seriam patógenos evitáveis por vacinas”.

 

Brasil

Em queda desde 2018, a cobertura vacinal no Brasil não atinge a meta mínima. Não há um fator isolado que explique a baixa adesão às vacinas nos últimos anos, mas o medo da covid-19 interferiu, já que a queda foi histórica em 2020.

“O receio das pessoas de sair de casa e de frequentar unidades de saúde foi tão grande que a vacinação de rotina não foi percebida como um serviço essencial”, afirma o pediatra e neonatologista Renato Kfouri, presidente do departamento científico de imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

A mudança geracional também pode ser parte do problema. “A nova geração não conhece a difteria ou a paralisia, e nem os profissionais de saúde tratam mais essas doenças”, diz Flávia Bravo, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

Isso faz, segundo ele, com que muitos jovens e adultos, que não conviveram com essas enfermidades, ignorem a importância das vacinas para as crianças ou dos reforços que eles mesmos deveriam tomar.

Um terceiro fator que prejudica a cobertura vacinal é a própria organização das unidades de saúde. “Os postos de saúde funcionam em horário comercial, mas as mães – que historicamente são responsáveis pela vacinação das crianças – trabalham fora. É complicado engravidar, ter filhos, e ainda ter de faltar no trabalho. Seria melhor se houvesse postos de saúde funcionando até mais tarde ou agentes de saúde visitando as residências naqueles locais onde o acesso é mais difícil”, defende a diretora da SBIm.

 



from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Saude/noticia/2021/07/doencas-infantis-aumentam-medida-que-covid-retarda-vacinacoes-de-rotina.html

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