Quando eu li uma pesquisa realizada pelo Seek, uma plataforma australiana de busca de empregos, com 4.800 australianos, várias questões me chamaram a atenção. Uma delas é a de que certas habilidades que os empregadores consideram muito importantes ao contratar um profissional eram subvalorizadas por quem buscava um trabalho. Ou seja, isso distanciava o match entre quem oferece e quem procura um emprego.
Entre as várias skills fundamentais, segundo o estudo, como habilidade de comunicação, automotivação e iniciativa, três foram destacadas como as tops e revelaram de que forma empregadores e candidatos as valorizavam:
- Trabalho em equipe e colaboração: fundamentais para 32% dos empregadores, mas somente para 21% dos candidatos;
- Pensamento crítico e resolução de problemas: valiosos para 28% dos empregadores versus para 19% dos profissionais em busca de emprego;
- Atenção aos detalhes: importantes para 27% dos empregadores, mas não apareceu no top 5 de característica fundamental para os candidatos.
Bem, para além de nos fazer refletir nessas características (e, sim, por que, não, até inclui-las no currículo se fizer sentido), sabe a relação de todas elas com a maternidade e paternidade? Absolutamente tudo, desde, claro, que estejamos abertos para toda a avalanche de desafios e aprendizados que ganhamos sendo pais e mães, como explica a psicóloga Rita Calegari, da ICareGroup: “Precisamos lembrar que qualquer experiência tem, de fato, o dom de trazer à tona competências que temos embrionárias, mas não estão fortalecidas. A maternidade e a paternidade abrem possibilidades de upgrade em termos de novos conteúdos, mas, para ser positivamente transformadora, esse homem ou mulher precisa estar desperto, disponível para vivenciar esse período com a criança, se informar, aprender, evoluir”.
Abaixo você entende por que cada uma dessas habilidades destacadas na pesquisa é altamente potencializada pela maternidade e paternidade. Preparado para refletir e usá-la a seu favor em uma próxima entrevista?
Independente da área de atuação ou cargo, o trabalho em equipe é considerado uma competência fundamental nas empresas. Isso porque a união de saberes, ideias e a força-tarefa de todos, a partir do conhecimento de cada um, vão levar a um objetivo comum, que é o sucesso no resultado de um determinado trabalho. É tirar o holofote de si mesmo e jogar em todos.
E não é assim na maternidade e na paternidade, quando falamos que é preciso uma aldeia para cuidar de uma criança? De que precisamos de rede de apoio, seja essa uma amiga, a escola, a babá? “Quando nos tornamos pais e mães, abrimos a possibilidade de sermos mais humildes, já que vemos, na prática, que não é possível controlar tudo, que não sabemos tudo. Por melhor que sejamos, a criança vai cair, falar um palavrão, e isso faz parte do desenvolvimento dela”, diz Rita Calegari. E reforça: “A maternidade e a paternidade nos mostram que não vamos dar conta sozinhos. Mãe e pai são bons são cercados de pessoas bacanas. O mesmo vale para uma equipe de alta performance. Não adianta ter um gênio único, é preciso existir humildade para olhar que todos agregam, têm outro ponto de vista, de entrega, de conhecimento”.
Sabe aquele momento no trabalho em que você está diante de um novo desafio, um problema que precisa ser resolvido e sem muito tempo? Pois bem. São nessas horas que precisamos ter serenidade para: analisar a situação, ativar a criatividade, inovar e buscar uma saída. Assim, sem manual.
E tem manual para ser pai e mãe? Quem dera... E não conseguimos encontrar uma solução? Sempre (OK, às vezes, choramos, sofremos, mas agimos)! “Na educação de uma criança, por mais que a gente estude, seja especialista, ela virá com uma pergunta ou comportamento que não sabemos lidar. Ou seja, temos de tirar o coelho da cartola!”, diz Rita. E quantos coelhos não saíram da nossa cartola no contexto da pandemia e de todas as adaptações que tivemos de fazer para trabalhar em home office, cuidar da casa, colocar as crianças nas aulas online...
Sem contar que os filhos são nossos verdadeiros estímulos 24 horas. Sem querer, eles nos colocam à prova o tempo todo, seja na hora de agirmos rápido mediante um engasgo, seja ao analisarmos onde erramos e podemos melhorar, o tal pensamento crítico. “A segurança e a confiança que os pais ganham no traquejo com os pequenos podem fazer com que, no ambiente de trabalho, ao ter de resolver alguma questão, eles sejam muito mais tranquilos. Isso porque, no ambiente profissional, ela está lidando com uma operação, um produto ou venda, e não com a vida do filho”, afirma Rita.
Na hora de executar um trabalho, é fundamental analisar como cada ação sua (micro) vai impactar o seu time (quando for o caso), a empresa, a sociedade (macro). Quando saímos do automático e passamos a observar os detalhes, abrimos a possibilidade de sermos mais criativos, de buscar outras perspectivas e encontrar saídas. É analisar atentamente um novo cliente, um novo projeto, enxergar arestas que podem ser ajustadas. Aquele detalhe que vai fazer diferença no resultado final.
Certamente, a sua clássica pressa para resolver tantas coisas na rotina já foi interrompida pelo seu filho, naquele momento que ele chamou sua atenção para as formigas caminhando juntas no jardim, a flor que desabrochou, o pássaro vermelho que voou na árvore. “A criança permite que a gente veja o simples, nos abre os olhos para novas preocupações, seja a tomada de casa que precisa ser coberta para que ela não coloque o dedo, a quina do armário que sempre esteve lá, mas agora é sinal de perigo”, explica a psicóloga.
Para criarmos vínculo e compreendermos os nossos filhos precisamos sair do mundo “dos grandes” e entrar no universo “dos pequenos”. E você já faz isso muito, quando se agacha para conversar na altura do seu filho.Segundo Rita, "as pequenas conquistas do amadurecimento da infância são detalhes". E a verdadeira beleza da vida não está mesmo nos detalhes?
Ana Paula Pontes é jornalista, editora-chefe da CRESCER e mãe do João, 17 anos. Para ela, há um pouco da maternidade em tudo o que nos rodeia e um pouco de tudo na maternidade.
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