É durante a infância que muitas das pessoas que desenvolverão algum tipo de alergia - seja ela alimentar ou alérgica - manifestam os seus primeiros sintomas. E essas doenças são mais comuns do que se imagina. De acordo com a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), a asma atinge entre 10% e 25% da população brasileira, e a rinite, segundo o International Study of Asthma and Allergies (ISSAAC), compromete cerca de 26% crianças e 30% dos adolescentes.
Para marcar o Dia Mundial da Alergia, celebrado neste 8 de julho, CRESCER conversou com especialistas para entender quais os principais sintomas das alergias comuns entre os pequenos, como é possível preveni-las e quais os tratamentos disponíveis.
Mas por que as alergias costumam começar na infância? Segundo a pneumologista Angela Honda, líder de programas educacionais da Fundação ProAR, o sistema imunológico das crianças ainda é imaturo e a alergia é uma resposta do corpo a algo interpretado como um agente irritativo. “Há um estudo brasileiro que mostra que 20% das crianças desenvolvem alguma resposta alérgica durante a infância”, afirma a médica.
Essa condição faz com que algumas alergias sejam mais frequentes, a depender da faixa etária. O pediatra alergista Bruno Paes Barreto, membro do Departamento Científico de Alergia na Infância e na Adolescência, explica por exemplo que bebês são mais propensos a apresentar alergias alimentares e dermatológicas, enquanto crianças um pouco mais velhas, em idade pré-escolar, podem começar a apresentar alergias respiratórias.
As principais alergias da infância
Alergias alimentares: segundo os especialistas, elas geralmente se manifestam com sintomas digestórios, como diarreia e vômito, mas podem também manifestar sintomas cutâneos, com coceiras e vermelhidão na pele.
Alergias dermatológicas: A criança com esse tipo de alergia normalmente apresenta eczemas (áreas de irritação na pele, geralmente localizadas em regiões de dobras, como joelhos).
Alergias respiratórias: As mais conhecidas são rinite e asma. A rinite apresenta sintomas nasais, como espirro, coceira e obstrução frequente. Já a asma geralmente causa tosse, chiado no peito, cansaço e falta de ar.
Segundo Angela, o diagnóstico da maioria das alergias é clínico. “Os sintomas de alergias são frequentes e, muitas vezes, os pais conseguem relacioná-los a algum ambiente ou momento”, conta a médica, que explicou ainda que a criança pode, por exemplo, apresentar sintomas de alergia ao ter contato com um animal de estimação ou estando em ambientes com poeira, indicando que ela pode ser alérgica.
É possível saber se a criança apresenta alergia através de um exame de sangue ou de uma testagem realizada no braço. “Mas às vezes, dependendo da idade, o resultado não é tão confiável. A partir dos 5 anos, os exames se tornam mais confiáveis”, explica.
Já o tratamento, segundo o médico, muitas vezes é feito por exclusão. “Se a criança tem alergia a leite, por exemplo, eu a afasto do alimento. Se ela depender do leite, pode ser feita a troca por uma fórmula substitutiva ou por uma proteína de outras fontes”, detalha. Caso a alergia seja respiratória, pode ser feito um tratamento de prevenção. “Não dá para impedir 100% o contato com poeira, por exemplo. Mas existem medicamentos que podem estabilizar os sintomas”.
No caso das alergias respiratórias, segundo acrescenta a pneumologista Angela, também pode ser feito tratamento com anti-inflamatórios, o corticoide nasal. A limpeza e lavagem do nariz também é muito importante.
O período de frio pode deixar as crianças mais suscetíveis a apresentar crises de alergia, já que os ambientes costumam ficar mais fechados. Além disso, a poluição interna, que inclui poeira e até mesmo produtos de limpeza, também pode desencadear crises alérgicas.
Condições locais também podem contribuir para as alergias. “Na região Norte, por exemplo, onde o clima é mais úmido, há mais tendência de proliferação de ácaro e mofo. Já no Sudeste, principalmente na região do Paraná e Santa Catarina, as crianças que são alérgicas a pólen sofrem muito na primavera, quando ocorre a polinização”, explica Bruno Paes Barreto.
Pais alérgicos, segundo o médico, também têm mais chances de ter filhos alérgicos, ainda que a alergia não necessariamente seja a mesma. “O pai pode ter asma e o filho pode desenvolver dermatite, por exemplo. Quando um dos pais é alérgico, a chance de a criança desenvolver alguma alergia é em torno de 50%. Se ambos forem alérgicos, a chance aumenta para cerca de 80%”.
A pneumologista Angela acrescenta que crianças que estão mais expostas à poluição também são mais propensas a desenvolver alergias. “A criança de cidades grandes, por exemplo, têm mais chance de desenvolver alergias do que as que moram no interior”, diz.
Alergias respiratórias, como a rinite, podem apresentar sintomas parecidos com o coronavírus e deixar os pais em dúvida: será que meu filho está com covid-19? O médico alergista explica que a diferença entre os quadros é que as alergias respiratórias apresentam sintomas frequentes, enquanto a covid é pontual. “A covid pode vir com febre e dor de cabeça, sintomas que a alergia não apresenta”, completou.
Além disso, há também os sintomas gastrointestinais (como dor abdominal e diarreia), que a covid-19 pode causar, mas que não são causados por alergias respiratórias, explica Angela.
Para os especialistas, fortalecer o sistema imunológico da criança desde pequena pode ajudar a prevenir as reações alérgicas. “O aleitamento materno exclusivo e o parto normal, por exemplo, são chamados de imunomoduladores. Eles conseguem modular o sistema imunológico e isso pode ajudar a pelo menos protelar o aparecimento de alergias”, diz Barreto.
Angela diz também que é importante que o lar da criança seja sempre um ambiente livre de tabaco e orienta que a limpeza não seja feita com vassoura, que acaba levantando poeira. “A vassoura limpa a poeira grossa, mas a poeira fina sobe e fica no ambiente. De preferência, use um pano úmido ou passe aspirador, mesmo em piso frio”, recomenda a médica.
O quarto da criança, que é o local onde ela geralmente fica por mais tempo, deve ser preferencialmente um lugar arejado e que bata sol. “A cortina deve ser uma que dê para tirar e lavar. Melhor ainda se for persiana, em que é possível retirar a poeira com um pano úmido. Evite também tapetes, bichos de pelúcia, livros ou qualquer coisa que junte pó”, sugere. Além disso, é importante que seja feita a troca frequente de lençóis e fronhas e que cobertores com pelinhos sejam evitados.
Saiba como assinar a Crescer para ter acesso a nossos conteúdos exclusivos
from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Saude/noticia/2021/07/dia-mundial-da-alergia-saiba-quais-sao-mais-comuns-na-infancia-e-como-trata-las.html