A vacinação tem uma história de sucesso no mundo inteiro e salva milhões de vidas anualmente. No entanto, apesar dos enormes avanços, muitas pessoas — incluindo quase 20 milhões de bebês por ano – ainda têm acesso insuficiente às vacinas.(1) Já no Brasil, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) é uma referência mundial. O Brasil foi pioneiro na incorporação de diversas vacinas no calendário do Sistema Único de Saúde (SUS) e é um dos poucos países no mundo que ofertam de maneira universal um rol extenso e abrangente de imunobiológicos.(2)
Porém, a alta taxa de cobertura vacinal, que sempre foi sua principal característica, vem caindo nos últimos anos, colocando em alerta especialistas e profissionais da área.(2) “Essas taxas vêm caindo desde 2015 no país, o que se acentuou a partir de 2017 e piorou drasticamente com a pandemia”, afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Juarez Cunha. Dados do PNI apontam que, em 2020, somente 4 das vacinas ofertadas ultrapassaram os 77% do público-alvo imunizado.(12) Esses índices estão bem abaixo da meta de 90% ou 95% de cobertura para cada uma, estabelecida pelo Ministério da Saúde.(13)
Crianças são mais vulneráveis
Segundo Juarez Cunha, esse movimento foi observado em todas as faixas etárias, mas no caso das crianças, a situação é ainda mais preocupante. “Por representarem um grupo mais vulnerável a várias doenças, para as quais há vacinas disponíveis, chama a atenção o crescimento dessa população infantil desprotegida”, diz.
De acordo com a gerente médica de vacinas da GSK, Lessandra Michelin, entre outros motivos, muitas crianças estão com o calendário vacinal atrasado porque os pais tiveram receio de tirá-las de casa durante a pandemia, o que é um equívoco. “Uma criança não vacinada está mais suscetível a doenças que podem ter sequelas graves e até serem fatais”, afirma a infectologista.
Além da pandemia, o próprio sucesso do Programa Nacional de Imunizações pode ser uma das causas da queda da cobertura vacinal.(2) Isso porque o PNI imunizou amplamente a população que hoje está com 30, 40 e 50 anos de idade, devidamente vacinada na infância, quando doenças como o sarampo ou a poliomielite eram visíveis e a preocupação em vacinar as crianças era maior. Hoje, como algumas doenças tem poucos ou nenhum caso, muitos pais não percebem a importância dessa imunização para os filhos.(2)
Pesquisa realizada entre 19 de janeiro a 16 de fevereiro de 2021 pela IPSOS Mori e encomendada pela farmacêutica GSK, com 501 pais ou responsáveis legais no Brasil, mostrou que aproximadamente 57% dos pais brasileiros desistiram ou adiaram algum compromisso ou consulta de saúde dos filhos durante a pandemia. Quando se trata especificamente de vacinação contra meningite meningocócica, 50% faltaram ou atrasaram alguma dose do esquema vacinal. O motivo, segundo 72% dos pais brasileiros, seriam as medidas restritivas. (28)
Volta às aulas presenciais
Segundo Juarez Cunha, a suspensão das aulas presenciais, somada às demais medidas sanitárias e de isolamento, vem reduzindo a incidência de doenças de transmissão respiratória no país desde o ano passado, como foi o caso da gripe. “Agora, com a perspectiva da volta à escola e a maior mobilidade da população, a tendência é de que essas doenças retornem, mas com um agravante: as pessoas estão menos protegidas porque não se vacinaram”, diz. Portanto, de acordo com o pediatra, é essencial manter a carteirinha de vacinação em dia. “Isso significa garantir o máximo de proteção para doenças que podemos evitar. São vacinas recomendadas, disponíveis e gratuitas. Temos tudo isso para oferecer às crianças”.
Cunha lembrou também que algumas vacinas têm doses de reforço, fundamentais para aumentar e prolongar a proteção. É o exemplo da vacina contra coqueluche, feita aos dois, quatro e seis meses de idade, com reforço ao um ano e três meses, e outro aos quatro anos na rede pública.(3) Na privada, também está disponível reforço para adolescentes e a cada dez anos para adultos.(10, 11) “Importante ter essas doses de reforço para o resto da vida”, explica.
Também conhecida como “tosse comprida”, a coqueluche é uma infecção altamente contagiosa.(5, 6) A doença acomete principalmente crianças menores de um ano, podendo ser fatal.6 Como forma de prevenir contra a coqueluche nos primeiros meses de vida, a vacina Tríplice Bacteriana (dTpa) integra o calendário de vacinação da gestante.(7, 5, 8) O bebê obtém os anticorpos a partir da produção da mãe que recebe o imunizante ainda durante a gestação.(9) Essa será a sua proteção contra a doença nos primeiros meses de vida.(7, 9)
Outras ameaças
Doenças que são mais comuns e com riscos mais elevados em pessoas com idade escolar, devem acender o alerta em pais e responsáveis na volta às aulas.(16, 17) Um exemplo é a meningite meningocócica.(16) Até 23% dos adolescentes são portadores da bactéria causadora da infecção, sendo muitas vezes assintomáticos e transmitindo a doença que pode levar a óbito em até 24 horas.(16, 18, 19, 20)
A pneumonia é outro risco subestimado. A infecção é uma das principais razões de hospitalização e óbito em crianças menores de cinco anos em todo o mundo.(17, 21) A principal bactéria causadora da pneumonia, o pneumococo, também pode causar otite média, sinusite, conjuntivite e, em casos mais graves, bacteremia e meningite.22 Estima-se que praticamente todas as crianças, em algum momento da fase pré-escolar, tenham sido transmissoras do pneumococo em ao menos uma ocasião. (21)
O sarampo, por sua vez, é uma evidência dos riscos da falta de adesão aos esquemas vacinais.(23) Considerado eliminado no Brasil em 2016, após sucessivas quedas das taxas vacinais nos anos seguintes, a doença voltou a fazer vítimas, incluindo crianças.(23, 24)
Calendários público e privado
O Ministério da Saúde orienta a vacinação das crianças e dos adolescentes de acordo com o calendário do PNI e todas as vacinas recomendadas estão disponíveis gratuitamente nos postos de saúde pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Essas vacinas oferecem proteção para diversas doenças.(5,6,14)
Já a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) possuem calendários de vacinação com recomendações que complementam o PNI, abrangendo também vacinas que atualmente só estão disponíveis na rede privada para a imunização das crianças até a terceira idade.(3, 4)
Material dirigido ao público geral. Por favor, consulte o seu médico.
REFERÊNCIAS:
1 – WORLD HEALTH ORGANIZATION. Immunization Agenda 2030. Disponível em:< https://www.who.int/immunization/immunization_agenda_2030/en/> Acesso em 17 de agosto de 2020.
2 – FIOCRUZ. A queda da imunização no Brasil. Disponível em: <https://portal.fiocruz.br/sites/portal.fiocruz.br/files/documentos/revistaconsensus_25_a_queda_da_imunizacao.pdf> Acesso em 9 de julho de 2021.
3 – SOCIEDADE BRASILEIRA DE IMUNIZAÇÕES. Calendário de vacinação do nascimento à terceira idade: recomendações da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) - 2021/2022 (atualizado 10/05/2021). Disponível em: <https://sbim.org.br/images/calendarios/calend-sbim-0-100.pdf>. Acesso em: 26 maio. 2021
4 – SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA (SBP). Calendário de vacinação 2021. Disponível em: <https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/23107b-DocCient-Calendario_Vacinacao_2021.pdf> Acesso em 9 de julho de 2021.
5 – PORTAL FAMÍLIA SBIM. Doenças. Coqueluche (pertussis). Disponível em: <https://familia.sbim.org.br/doencas/coqueluche-pertussis> Acesso em: 9 nov. 2020.
6 – MINISTÉRIO DA SAÚDE. Boletim epidemiológico da coqueluche no Brasil de 2010 a 2014. Disponível em: <https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2018/marco/29/Boletim-epidemiologico-de-2010-a-2014.pdf>. Acesso em: 9 nov. 2020.
7 – SOCIEDADE BRASILEIRA DE IMUNIZAÇÕES. Calendário de vacinação SBIm gestante. Disponível em: <https://sbim.org.br/images/calendarios/calend-sbim-gestante.pdf> Acesso em: 9 nov. 2020.
8 – MINISTÉRIO DA SAÚDE. Saúde de A a Z. Coqueluche: causas, sintomas, tratamento, diagnóstico e prevenção. Disponível em: <https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z-1/c/coqueluche>. Acesso em: 13 jan. 2021.
9 – CENTERS FOR DESEASE CONTROL AND PREVENTION. Vaccines and Pregnancy Home. Vaccines & Pregnancy: Top 7 Things You Need to Know. Disponível em: <https://www.cdc.gov/vaccines/pregnancy/pregnant-women/need-to-know.html>. Acesso em: 9 nov. 2020.
10 – SOCIEDADE BRASILEIRA DE IMUNIZAÇÃO (SBIm). Calendário de vacinação para adolescentes. Disponível em: <https://sbim.org.br/images/calendarios/calend-sbim-adolescente.pdf> Acesso em 9 de julho de 2021.
11 – SOCIEDADE BRASILEIRA DE IMUNIZAÇÃO (SBIm). Calendário de vacinação para adultos. Disponível em: <https://sbim.org.br/images/calendarios/calend-sbim-adulto.pdf> Acesso em 9 de julho de 2021.
12 – Pesquisa realizada na base de dados DATASUS, utilizando os limites “Imuno" para Linha, “Ano” para Coluna, “Coberturas vacinais" para Medidas, e "2015 - 2020" para Períodos Disponíveis. Disponível em: <http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/dhdat.exe?bd_pni/cpnibr.def>. Acesso em: 6 jan. 2021.
13 – MINISTÉRIO DA SAÚDE. Coberturas vacinais no Brasil. Disponível em: <https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2017/agosto/17/AACOBERTURAS-VACINAIS-NO-BRASIL---2010-2014.pdf>. Acesso em: 6 jan. 2021.
14 – PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION. Immunization Newsletter. The Immunization Program in the Context of the COVID-19 Pandemic. March 2020. Disponível em: <https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/52046/EPIv42n12020_eng.pdf?sequence=5&isAllowed=y>. Acesso em: 12 maio. 2021.
15 – WORLD HEALTH ORGANIZATION. Princípios orientadores para as atividades de vacinação durante a pandemia de COVID-19. Disponível em: <https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/331590/WHO-2019-nCoV-immunization_services-2020.1-por.pdf>. Acesso em: 12 maio. 2021.
16 – ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Meningococcal meningitis. Disponível em: <www.who.int/en/news-room/fact-sheets/detail/meningococcal-meningitis>. Acesso em: 6 jan. 2021.
17 – SOCIEDADE BRASILEIRA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA. Notícias. 12 de novembro: Dia Mundial da Pneumonia. Disponível em: <https://sbpt.org.br/portal/dia-mundial-pneumonia-2018/>. Acesso em: 6 jan. 2021.
18 – CASTIÑEIRAS, TMPP. et al. Doença meningocócica. In: CENTRO DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE PARA VIAJANTES. Disponível em: <http://www.cives.ufrj.br/informacao/dm/dm-iv.html>. Acesso em: 6 jan. 2021.
19 – ERVATI, M.M. et al. Fatores de risco para a doença meningocócica. Revista Científica da FMC, 3(2): 19-23, 2008.
20 – CHRISTENSEN, H. et al. Meningococcal carriage by age: a systematic review and meta-analysis. Lancet Infect Dis, 10(12): 853-61, 2010.
21 – ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE. Vigilância das pneumonias e meningites bacterianas em crianças menores de 5 anos. Disponível em: <https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/52718/9789275721896_por.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 6 jan. 2021.
22 – INSTITUTO DE TECNOLOGIA E IMUNOBIOLÓGICOS DE BIOMANGUINHOS. Doença pneumocócica: sintomas, transmissão e prevenção. Disponível em: <https://www.bio.fiocruz.br/index.php/br/doenca-pneumococica-sintomas-transmissao-e-prevencao>. Acesso em: 6 jan. 2021.
23 – FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Notícias. Sarampo de volta ao mapa. Disponível em: <https://portal.fiocruz.br/noticia/sarampo-de-volta-ao-mapa>. Acesso em: 6 jan. 2021.
24 – MINISTÉRIO DA SAÚDE. Informe semanal sarampo – Brasil, semanas epidemiológicas 1 a 49, 2020. Disponível em: <https://www.gov.br/saude/pt-br/media/pdf/2020/dezembro/28/boletim_epidemiologico_svs_50.pdf>. Acesso em: 6 jan. 2021.
25 – BRASIL. Ministério da Saúde. Vacinação é a maneira mais eficaz para evitar doenças. Disponível em: <http://antigo.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/45875-vacinacao-e-a-maneira-mais-eficaz-para-evitar-doencas>. Acesso em: 12 maio. 2021.
26 – BRASIL. Ministério da Saúde. Calendário nacional de vacinação da criança. Disponível em: <https://antigo.saude.gov.br/images/pdf/2020/marco/04/Calendario-Vacinacao-2020-Crianca.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2021.
27 – BRASIL. Ministério da Saúde. Calendário Nacional de Vacinação do Adolescente 2020. Disponível em: <https://www.saude.gov.br/images/pdf/2020/marco/04/Calendario-Vacinacao-2020-Adolescente.pdf>. Acesso em:12 maio. 2021.
28 – Dados retirados da pesquisa realizada pela Ipsos MORI, em nome da GSK, com 4.962 pais ou responsáveis em 8 países, entre 19 de janeiro e 16 de fevereiro de 2021.
NP-BR-ABX-WCNT-210009 - JULHO/2021
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