A fase da alfabetização, momento em que criança começa a aprender a ler e escrever, é um marco para as famílias — e uma conquista (e tanto!) para os pequenos. No entanto, milhares de crianças estão passando por essa fase justamente em um momento em que o mundo enfrenta uma pandemia, o que acaba tornando o aprendizado um desafio ainda maior. A psicóloga e empresária Marcela Gimenez, de São Paulo, conta que a filha, Izabel, 7 anos, está com dificuldades. "Minha filha tem atraso verbal, o que dificulta a alfabetização, mas com a paralisação das aulas presenciais, as coisas complicaram um pouco mais. Ela ficava na aula em período integral, com reforço à tarde. Agora, tem 40 minutos de hora/aula por dia e uma pilha de lições que cansam. Ela não consegue ainda fazer sozinha", conta.
Segundo a mãe, Izabel "ainda não lê 100%". "Ela junta as sílabas, o que não era esperado para o período, e tem muito interesse. Mas só com as aulas online não deu certo aqui! Então, uso meios 'caseiros' para ajudá-la, como receitas para ela ler e executar, jogo de leitura de placas na rua... Mas nunca tive vocação para professora, então, troco ideias com outras mães para ajudar, e ainda trabalho no meio disso tudo. É uma batalha para não desistir", desabafa.
Já Eriane Savóia, de São Paulo, disse que, mesmo com todas as limitações e dificuldades do ensino à distância, acha que o filho Davi, 6 anos, evoluiu bem. Segundo ela, a escola conseguiu identificar os alunos que necessitavam de um apoio maior. "Meu filho precisou de reforço, então, além das aulas normais, ele tem aulas de reforço de alfabetização em outro horário. Está indo bem e já consegue ler e escrever coisas básicas. A professora dele é sensacional. Teve até um momento muito especial, há uns 20 dias, que ela percebeu que ele estava fluindo bem e fez com que ele lesse várias palavras no exercício. Choramos juntas na aulas online! (risos) Foi muito emocionante perceber isto de perto", comemora. "Achei que não seria possível todo este processo de forma online, mas confesso que me surpreendi", completa.
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Para o pequeno Renato, 6, as aulas online também deram certo, mas a mãe, Priscila Dias, admite que tem dedicado todas as tardes para ajudar o pequeno nesse processo de alfabetização. "Ele iniciou a quarentena conhecendo as letras do alfabeto e sabendo escrever palavras simples. Mas aprendeu a ler durante o isolamento e, hoje, já consegue ler livros e gibis. Também já consegue escrever textos curtos e de acordo com a idade", conta, orgulhosa. "Porém, eu dedico as tardes durante a semana para acompanhá-lo. Sozinho, ele se dispersa. A escola oferece uma plataforma que ele conseguiu se adaptar, e a professora fornece conteúdo para reforçar a aula. Então, coloquei ele pra fazer todas essas atividades. Não tenho dúvida que se tivesse aula presencial, ele estaria mais avançado, mas é nítido o progresso dele", finaliza.
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ALFABETIZAÇÃO NA PANDEMIA
Reunimos, abaixo, algumas observações e dicas para os pais de crianças que estão no processo de alfabetização durante a pandemia:
"Claramente, o processo de aprendizagem é prejudicado com a pandemia, mas os pais não devem se preocupar excessivamente. As crianças são naturalmente curiosas e têm um interesse genuíno por aprender. O que acontece é que a alfabetização com a professora presente é diferente do ensino online. Na sala de aula, um coleguinha que está mais à frente, acaba estimulando naturalmente o outro. E quando as aulas retornarem, os professores farão um nivelamento, a escola dará conta disso. Além disso, a alfabetização vai se dar em algum momento. Segundo o MEC, isso pode se dar até os 8 anos. É um processo contínuo. Então, nesse momento, os que os pais precisam fazer é dar apoio, tornando o processo mais leve, sem forçar a barra. Vejo que muitas crianças acabam não querendo aprender justamente por causa dessa pressão. Estimule desenhando as letras com seu filho, buscando letras em revistinhas, use quebra-cabeças, jogos da memória, tabuleiros... E lembre-se: cada criança tem seu tempo!" (psicóloga e psicopedagoga Grace Falcão, especializada em terapia familiar e infantojuvenil)
"Quando não há nenhum problema audiovisual, comprometimento neurológico ou emocional e o desempenho da criança não vai bem, provavelmente, a causa esteja em um conjunto de problemas e conflitos que a criança esteja vivenciando em seu lar. Nesse caso, os pais devem parar e avaliar: será que essa velocidade de aprendizado realmente não está boa ou trata-se apenas de uma cobrança minha porque quero que meu filho seja igual a uma outra criança? Algumas dicas para ajudar nesse processo de aprendizagem também é permitir que ele tenha pequenas pausas durante o estudo e fazer uma planilha com bonificações (passeios na pracinha ou minutos a mais de desenho) para estimular a motivação e a inspiração. São estratégias mais eficazes do que obrigar a estudar." (psicólogo Alexander Bez)
"Essa cobrança de ler e escrever na 'idade certa', nada mais é do que uma necessidade que os pais desenvolvem de criar uma comparação, e o resultado não é positivo. Nesse momento, os pais devem provocar nos filhos o prazer por aprender e não a cobrança por aprender. Aprender a saborear uma leitura, uma escrita, o prazer de formar as vogais e entender uma letra. Esse prazer, nesse momento de pandemia, é muito mais especial do que se preocupar se o seu filho está no mesmo ritmo que os coleguinhas. Elimine a cobrança, dê tempo para cada criança, perceba que elas funcionam diferente e foque em despertar nos pequenos o prazer pelo conhecimento. E para os pais de crianças que não estão conseguindo aprender, não despertem neles a sua ansiedade. Acolha a criança, faça ela perceber que você está com ela. Diga que ela vai aprender. O conhecimento não tem que ser feito por obrigação. Essa vontade de aprender deve partir delas e o nosso papel, como pais, é inspirar." (pedagogo e gestor educacional Lucas Fonseca)
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