Tuesday, September 29, 2020

Aline Wirley: "O tempo passa rápido demais"

Criança medindo menino (Foto: Getty Images)

 

Antes de o Antônio nascer, umas das coisas que eu sempre ouvia de outras mães, com relação ao crescimento dos filhos, era: ”Nossa, como o tempo passa rápido”.

 

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No começo, nos sentimos meio perdidas, as noites parecem mais longas, e muitas das vezes, ficamos somente imersas nas funções e no trabalho acumulativo e desafiador que um filho trás. No entanto, num piscar de olhos, assim, de repente, eles crescem.

Antônio acabou de fazer 6 anos, e agora eu entendo bem o que essa frase quer dizer. A realidade é que parece que foi ontem que ele chegou indefeso, pequeno, com apenas 2,075 kg, completamente dependente. Ainda sinto o bafinho de leite na boquinha sem dente, o cheirinho gostoso de neném que a casa tinha e a ansiedade que eu sentia em deixar tudo perfeito para suprir as necessidades dele.

Parece que foi ontem que saímos do hospital sem saber ao certo como seria a nova vida, com um novo ser que chegou dominando os nossos mundos. No entanto, seis anos se passaram... E hoje eu tenho em casa uma criança correndo de um lado para o outro, me dizendo que já sabe o que quer ser quando crescer, com suas próprias vontades e desejos, colocando a própria roupa, escolhendo o que quer comer, dentes de leite indo embora e as feições, antes tão delicadas, se transformando. E, de fato, tudo isso desafia minha capacidade de compreender que, algum dia, ele me dirá que vai sair de casa em busca de trilhar seu próprio caminho. Talvez você possa me dizer: “Aline, ainda falta muito para isso acontecer... Você está precipitando as coisas”. E talvez seja isso mesmo! Mas a realidade é que sim, com eles, o tempo passa rápido demais. E assim como não existe um manual que nos ensine como ser mãe, também não existe um manual que nos ensine o entendimento do momento da separação. 

Outra frase conhecida me vem à cabeça agora : “Criamos nossos filhos para o mundo”. E confesso que, quando penso nisso, o coração aperta. Vê-lo crescer saudável, feliz. E o educando para que ele seja um homem íntegro e independente, hoje é a minha maior missão de vida. Mas, às vezes, num momento de contemplação enquanto ele dorme, procuro o meu bebezinho. Aquele que cambaleou muito para dar os primeiros passos, que não gostava de papinha salgada, e que fez meu coração explodir quando ouvi “mamãe” pela primeira vez. Apego? Talvez sim! Mas esses são alguns dos devaneios de uma mãe que ama o seu filho mais do que qualquer coisa na vida. E esse apego maternal me deixa extremamente vulnerável quando penso no que a vida reserva para o meu filho. Aliás, é assim que me sinto desde que Antônio nasceu. A mistura de uma força surreal com a vulnerabilidade, que caminham lado a lado dentro de mim. A mesma força que me capacita para enfrentar o mundo por ele, caso seja necessário, também me fragiliza quando percebo que não tenho controle sobre tudo, e que coisas podem acontecer independentemente de mim. E isso me assusta.

No entanto, não há o que fazer. A maternidade é isso. Não saber o que será o amanhã, mas estar inteira e presente no aqui e agora. Para mim, esse é um dos maiores ensinamentos que o Antônio me trouxe. Reconhecer que o momento presente é sagrado e único, e que cada momento deve ser vivido com todo amor e atenção. Esse é o único jeito de manter esses momentos vivos em nossos corações e nas nossas memórias . Enquanto isso, eu, Aline, vou exercitando em mim o desapego, na esperança de que, no futuro, quando chegar o momento, eu esteja preparada para o corte do cordão umbilical.

Enquanto isso, sigo lutando para que o meu filho conheça um mundo melhor. Mas se pudesse fazer um pedido como mãe, seria essa prece ao tempo:

“És um Senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho,
Tempo, tempo, tempo,
Vou te fazer um pedido
Tempo, tempo, TEMPO”.

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from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Colunistas/Aline-Wirley-Bicho-Mae/noticia/2020/09/aline-wirley-o-tempo-passa-rapido-demais.html