Desde um ano de idade, Clara Maria estudou na escola privada Arte de Crescer, em Natal, Rio Grande do Norte (RN). Este ano, ela começou a quinta série e sabia que seria o último ano que poderia estar com os amigos, já que seu colégio não tem o Ensino Fundamental II. No entanto, a aluna, hoje com 11 anos, não esperava que esse tempo seria encurtado com chegada do coronavírus ao Brasil. Com as aulas presenciais suspensas, a estudante passou a ter aulas em casa. Após seis meses de quarentena, a cidade de Natal autorizou a volta das aulas presenciais em colégios particulares e Clara pôde, assim, voltar para se despedir de sua escola, porém, em uma realidade totalmente diferente.
A publicitária Lorena Dantas, 37, decidiu levar a filha para a escola, pois percebeu que a menina estava abalada emocionalmente de ter que ficar longe dos amigos, além de estar saturada das aulas por meio das telas. A mãe, que voltou a trabalhar presencialmente, também notou que a escola se preparou para o retorno dos alunos, aplicando todos os protocolos de higiene e isso acabou lhe dando mais segurança. "Há a questão também que no Rio Grande do Norte, os casos de covid estão em baixa".
DO ONLINE AO PRESENCIAL
Apesar de não ter tido tantas dificuldades de aprendizagem com as aulas online, Clara passou por alguns desafios durante esse período. "Ela teve alguns problemas de conexão e quando não conseguia entrar, ficava muito nervosa", diz a mãe. A menina estudava das 14h30 às 18 horas por meio de aulas síncronas, isto é, fazia as aulas junto com os professores.
Durante a quarentena, Lorena conta que a filha se sentia muito angustiada, principalmente por, possivelmente, não ter a oportunidade de se despedir da escola, em que estudou por muito tempo. "Isso mexeu demais com ela. Além disso, a Clara começou a ficar mais ansiosa".
No dia 16 de setembro, as aulas presenciais na escola de Clara voltaram. "Nós conversamos e ela disse que queria voltar", conta a mãe. Antes de iniciar as aulas presenciais, a escola mandou para os pais uma lista com os itens que as crianças deveriam levar, como máscaras (pelo menos duas, para a troca a cada duas horas), álcool em gel e a própria garrafinha de água.
Segundo Joris Galvão, diretor da Arte de Crescer, desde agosto, a escola vem se preparando para a volta presencial. "Era uma demanda, principalmente, dos pais de crianças menores, porque eles não tinham com quem deixar os filhos". A princípio, a instituição decidiu começar apenas com a Educação Infantil e Ensino Fundamental I. A creche, que atende crianças menores de dois anos, só iniciará as atividades presenciais a partir de outubro. Para o diretor, esse tempo é necessário para adaptação da escola para receber os pequenos.
Joris explica que em relação aos alunos da educação infantil houve uma grande surpresa. "Eles se adaptaram muito rápido. Não estão pedindo para tirar a máscara e na hora de medir a temperatura já esticam o bracinho", conta. Os professores ficam o tempo todo de máscaras e face shields. No entanto, estão encontrando formas de se aproximar das crianças. Quando necessário, por exemplo, os educadores se vestem com uma espécie de capa, feita de PVC, para conseguir abraçar os alunos que pedem.
O RITUAL
Quando chegam à escola, as crianças já vão em direção a um tapete sanitizante para a higienização dos sapatos. Depois, é feita a medição de temperatura, higienização das mãos e da mochila. Antes de entrar na sala, os alunos também precisam deixar os sapatos do lado de fora e ficar com meias antiderrapantes.
Dentro da sala, há marcações para manter o distanciamento social de 1,5 metro. Os estudantes também devem ficar o tempo todo de máscara, com exceção da hora do lanche, que é feito em sala. Depois do lanche, elas colocam uma máscara nova. Na escola, ainda há poucas crianças. Por isso, ainda não é necessário o revezamento. Joris diz que por enquanto voltaram apenas 30% dos alunos. "Os pais ainda estão esperando os 10 dias de adaptação.
De acordo com o diretor da escola, o maior desafio hoje para os educadores é tornar as aulas interessantes. No caso da educação infantil, os pequenos começaram com rodas de conversas e estão aprendendo sobre o significado das novas sinalizações na escola. Para esse nível, os encontros só acontecem de forma presencial, com monitoria online. Já para o Ensino Fundamental I, elas também são transmitidas para os estudantes que estão em casa, inclusive as aulas de musicalização e educação física. Joris também explica que para não ficar muito cansativo, as crianças estão saindo mais cedo.
Após o primeiro dia de aula, a publicitária diz que a filha voltou completamente diferente. "Parecia outra criança. Voltou um passarinho cantante". Mesmo sem poder abraçar os colegas, Lorena, diz que a filha ficou bem satisfeita com o retorno.
Confira o vídeo mostrando como funciona a entrada das crianças na Arte de Crescer
Ao longo das próximas semanas, CRESCER publica reportagens com depoimentos de pais, professores e especialistas sobre a nova volta às aulas, durante a pandemia do coronavírus.
from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Educacao-Comportamento/noticia/2020/09/anovavoltaasaulas-mae-relata-como-foi-retorno-da-filha-escola-ela-ja-estava-abalada-psicologicamente-quando-voltou-parecia-outra-crianca.html