A quarentena, crucial para diminuir o ritmo de contaminação pelo novo coronavírus, não é um período fácil para as famílias. Além do estresse externo gerado pela pandemia, é preciso administrar os conflitos que inevitavelmente surgem pelo convívio ininterrupto com os familiares em um espaço tão pequeno. Para ajudar pais e mães nesse momento, conversamos com uma especialista em confinamento, Heloisa Schurmann, integrante da primeira família brasileira a dar a volta ao mundo em um veleiro e autora do bestseller ‘O Pequeno Segredo’. Em conversa com CRESCER, ela dá dicas de como lidar com o isolamento social de uma maneira positiva. Confira:
Como era sua rotina enquanto velejava com os filhos pequenos?
Começamos a navegar em 1984 com nossos três filhos que tinham 15, 10 e 7 anos. Na segunda viagem, ficamos 3 anos com nossa filha Kat, que tinha 5 anos. Na rotina de bordo, todo mundo tem que participar e ter muito cuidado. As coisas mudam muito de um dia para o outro. Nesse período de confinamento, as maiores dificuldades surgiram quando cruzamos o oceano pacífico e ficamos confinados no barco por 30 dias. Eu tinha que dar aula para os meus filhos, ajudar nas manobras, fazer a navegação... Essa convivência nesse pequeno espaço foi um desafio. Saímos de Galápagos, na América do Sul, com destino à Polinésia Francesa. Antes de partir, sentamos com nossos filhos e dissemos que seria um momento novo para eles e para gente. Estabelecemos uma rotina e aplicamos com muita disciplina. Eles se revezavam para lavar a louça, tínhamos horários para as aulas... Cada um precisa ter sua privacidade em algum momento, mas o segredo para a boa convivência nesse tipo de situação é rotina e paciência.
Como você resolvia os conflitos convivendo em um espaço tão pequeno?
Geralmente na hora das refeições, sentávamos na mesa para conversar a resolver. Todo mundo expunha seu ponto de vista e escutava o do outro. Sempre reforçava que, mesmo sem concordar, um tinha que ouvir o outro e buscar uma solução. Estávamos literalmente no mesmo barco.
Como você conseguia ter um tempo para você dentro do barco?
Estabelecemos que todos, não apenas eu e meu marido teríamos direito a isso. Quando precisava disso, ia para minha cabine com um livro, escutava uma música ou fazia meditação sentada na frente do barco. Eles respeitavam muito nosso tempo e espaço, ninguém batia na porta nem ficava chamando, da mesma maneira que respeitávamos os deles. Essa recíproca foi muito importante para que a rotina funcionasse.
O que você diria para as pessoas que estão enfrentando um isolamento dentro de casa por causa do coronavírus?
Nós que vivemos no mar, enfrentamos muitas tempestades, chegamos a ter mastros quebrados e ficar 11 dias à deriva sem saber quando chegaríamos a um porto. Nesses momentos, nós olhamos sempre pra frente, para o horizonte com a certeza de que a tempestade vai passar, não importa quão feia ela seja. Essa é minha motivação.
O que você aprendeu com o confinamento?
Resiliência. Um modo de aguentar a pressão e enfrentar situações difíceis. Uma certeza de aguentar o que for, além de tempestades de mar, as de vida. Quando minha filha Kat partiu usei essa resiliência que ganhei navegando. A Kat veio para trazer algo de bom pra mim, tive a oportunidade de viver com ela. Ela deixou muita saudade, mas também boas memórias. Agora, por causa do coronavírus, estamos vivendo, todos uma realidade nova, e precisamos aprender todos os dias um pouquinho. Não se desesperem, não é fácil, mas com calma e paciência vamos salvar vidas.
Assista à entrevista completa:
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