Tuesday, April 28, 2020

Quando as telas vêm para somar à educação

Pai e filho usando o computador (Foto: Getty Images)

 

 

Em 2004, um discurso do então ministro da Cultura, o músico Gilberto Gil, nos dizia: “Cultura digital é um conceito novo. Parte da ideia de que a revolução das tecnologias digitais é, em essência, cultural. O que está implicado aqui é que o uso de tecnologia digital muda os comportamentos”, previa.

Só que ainda muitos encaram o digital voltado para crianças – livros ou apps de jogos – como algo de pouca importância e, portanto, o critério para consumo mais usado é o produto “mais barato” ou até “o gratuito”, uma mostra da relação que temos com o mundo digital em geral. A consequência, por vezes, é acessar algo de má qualidade e até perigoso.

O modelo de negócio ainda não está claro. Há bastante a se desenvolver e pouco investimento no que de fato importa: também para as narrativas e jogos digitais é preciso buscar e pagar bem para encontrar bons artistas e bons desenvolvedores de tecnologia.

Não, não podemos aceitar qualquer coisa! Quem, de fato, está se interessando por qualidade no digital? Para melhor falar sobre isso, conversamos com duas estudiosas no assunto: Isabel Malzoni, criadora da Editora Caixote, que publica, em sua maioria, livros nas plataformas digitais, e Aline Frederico, doutora em Educação e Literatura Infantil pela Universidade de Cambridge e pesquisadora em mídia e literatura para a infância na PUC-SP e PUC-RJ.

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Eletrônicos como aliados (Foto: GETTY IMAGES/MIAKIEVY)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Custa, sim
Adicionar valor a um bem cultural tem um preço. “A assinatura e um bom aplicativo ajudam a garantir um produto que não tenha conteúdo inapropriado e que não jogue a criança para sites desconhecidos. É uma das maneiras de monetizar a produção”, explica Isabel Malzoni. Outra é a venda dos apps baixados nas lojas virtuais. Autor do texto, autor das imagens, designer e editor fazem parte de uma equipe de produção de livros, por exemplo. No digital, essas e outras linguagens podem exigir equipes maiores, porque incluem animação e programação, e que vão elaborar, juntos, a melhor navegação para a criança. Por último, o investimento em divulgação também entra na conta.Tudo isso para dizer que bons produtos digitais têm custo, mas entregam resultados melhores.

Eletrônicos como aliados (Foto: GETTY IMAGES/MIAKIEVY)

 

 

 

 

 

 

 

Desperta os sentidos
A mídia digital tem a capacidade de condensar diferentes recursos. Nela, “assistimos à TV” e “lemos um livro”. “Se pensarmos em termos de infância e criatividade, do quanto a criança gosta de atividades participativas e performáticas, os apps literários podem oferecer muito”, diz Aline Frederico, que rejeita como única a imagem chavão da criança inerte diante de um gadget, apertando a tela aleatoriamente. “Se você observar, tudo que ela faz tem um motivo, não está agindo sem reflexão. A literatura infantil digital cria um contexto ficcional que dá muito mais sentido a cada ação que a criança vai ter: um objeto que se transforma conforme a ação do leitor”, diz Aline. “O digital abre uma série de novos caminhos de narrar, de incentivar a leitura”, completa Isabel Malzoni.

Eletrônicos como aliados (Foto: GETTY IMAGES/MIAKIEVY)

 

 

 

 

 

 

 

Ética e estética
Popular e sofisticado, diversidade de estilos, um negócio rentável. O maior desafio da relação digital e mercado passa pelas mesmas questões de qualquer produto cultural para a infância: os desdobramentos éticos e estéticos. Que mensagem aquele produto está transmitindo em suas histórias, canções, estilo de ilustrações ou sugestões de interação com o leitor? Aquele botãozinho tem sentido para a história ou é mera decoração? A criança está percebendo o jogo criativo nas diversas linguagens ou nada do que está ali faz diferença para seu desenvolvimento?

“Sou apaixonada por esse tema e vejo o digital como um potencial novo que não está nem ainda em seu ápice: quando chegarmos a um lugar que poderá comercialmente ser bem explorado, teremos obras-primas”, diz a especialista Aline Frederico.

 


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from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Criancas/Escola/noticia/2020/04/quando-telas-vem-para-somar-educacao.html