Wednesday, April 29, 2020

O comportamento do seu filho regrediu com a pandemia? Entenda!

Muitas crianças voltaram a fazer xixi na cama e a não dormirem sozinhas (Foto: Getty)

 

"Coincidência ou não, minha filha não quer mais dormir em seu quarto. Diz que sente muito medo. Antes de tudo isso, ela dormia sozinha. Me rendi e coloquei um colchão no meu quarto. Ela não sabe me explicar do que tem medo, mas fica apavorada", conta Gabriela Castro, de São Paulo, mãe de Isabella, 8 anos. Assim como Isabella, a Giovanna de 4 anos também vem sentindo um "medo repentino". "Cada dia, ela diz sentir um medo diferente. Chora e pede para ficar abraçada com ela na cama até que pegue no sono. Acredito que não esteja sabendo verbalizar que é do coronavírus", explica a mãe, a paulista Kemelly Mattos.

Além do medo, a pequena também regrediu no desenvolvimento. "Com cerca de 3 anos, ela passou pelo desfralde noturno e, desde então, nunca mais tinha feito xixi na cama. Agora, ela voltou a fazer. Parece que voltamos no tempo pelo menos um ano", lamentou Kemelly. "Não vemos mais notícias sobre a Covid na TV e nem comentamos nada sobre isso em casa para não impressioná-la, mas não tem sido suficiente", completa. Situação semelhante aconteceu na casa de Juliana Leme. Antes do início da pandemia, Aurora, 5 anos, e Ricky, 7, estavam começando a dormirem em seus quartos. Mas, segundo a mãe, durante a quarentena tudo mudou. "Sempre fomos adeptos à cama compartilhada e estavam migrando para o quarto deles com boa aceitação, mas começaram a pedir para dormir com a gente novamente. Colocamos um colchão ao lado da nossa cama. Ainda assim, acordam várias vezes resmungando e só se acalmam se estão no meio da gente ou abraçados", conta. Os dois não querem mais ficar sozinhos. "Sempre querem um adulto para acompanhar até mesmo no banheiro. Nem assistindo a desenhos na sala eles ficam", diz.

É NORMAL? O QUE FAZER?

Segundo a psicanalista Flávia Schimith Escrivão, membro da Comissão de Saúde Mental da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), o comportamento de regressão é normal e até esperado para o momento que estamos passando. "Quanto menor a criança, maior é a conexão afetiva e emocional não mediada por palavras com pai e a mãe. Ela é uma 'esponja'. Apesar de terem menos capacidade de se expressar verbalmente, a criança sente o clima de angústia da casa", explica. "Ela percebe facilmente que os pais estão menos disponíveis e mais preocupados. Os adultos passam isso para a criança através de uma outra linguagem", completa.

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Mas, então, como lidar? "É o momento de ter paciência. De fazer o que é possível e não, necessariamente, o ideal. Não é hora de estabelecer novas rotinas e grande mudanças, a não ser que a criança esteja muito tranquila quanto à isso. Ao perceber a regressão, acolha e converse de acordo com a linguagem do seu filho. Faz sentido ele dar um passo para trás em momentos de crise como o que estamos passando. Não tente impor, pois pode virar um problema ainda maior", orienta. "Por exemplo. Se o seu filho não quer mais dormir na cama dele, primeiramente tente conversar. Proponha que você fique com ele até que adormeça. Se não funcionar, coloque um colchão no seu quarto, mas deixe claro que vocês, juntos, vão descobrir qual é o medo e ele vai conseguir superar isso", afirma.

"Os pais também estão num momento de sobrecarga. Estamos passando por uma situação absolutamente inédita. A tendencia é que, conforme a rotina vai voltando ao normal, o comportamento da criança também volte para o prumo. Por isso, se precisar retroceder um pouco no meio essa confusçao, tudo bem", diz. Por último, a especialista evidencia a importância da rotina. "Para a criança, manter uma rotina, mesmo que em casa, é fundamental. Elas dependem muito de nós e a rotina é uma maneira de se nortearem", finaliza.

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