O coronavírus chegou a praticamente todos os cantos do mundo e tem transformado a vida das famílias, virando a rotina de cabeça para baixo. A indiana Anisha Bhandari, 47 anos, mora em Nova Delhi com o filho Shiv, 14 anos, e o marido Vivek, 48. E ela contou que, assim como na maioria dos países, a Índia também está de quarentena. Em um relato exclusivo à CRESCER, Anisha conta o mudou em meio a pandemia.
"Eu trabalho meio-período como contadora de histórias para crianças. Faço sessões de leitura em casa e, às vezes, em escolas também. Em um dia normal, eu ficaria ocupada o dia inteiro e chegaria em casa lá pelas 18h30. Mas conforme o COVID-19 avançou em nossa cidade, minhas sessões foram suspensas. Agora, passo o dia com meu marido e meu filho de 14 anos.
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No início, entramos um pouco em pânico, sem saber o que fazer. Como estocar álcool em gel e alimentos de forma que não falte para ninguém? Fizemos uma lista antes de o governo da Índia declarar o confinamento. Além disso, também discutimos quais filmes precisávamos assistir, incluindo Parasita, e também listamos alguns exercícios para nos ocuparmos.
Somos uma família pequena e eu acho eu temos aproveitado muito esse tempo juntos. Claro que estamos invadindo muito mais o espaço pessoal um do outro, mas tentamos nos distanciar mais pela manhã, quando meu filho tem aulas pela internet e meu marido faz suas ligações de trabalho.
Shiv tem sentido muita falta dos amigos, mas tem focado nos estudos. Ele tem “aula” quatro dias na semana e consegue ver seus professores e alguns colegas online. São umas 30 crianças. Ele ainda tem tarefas de casa, o que o deixa ocupado nos fins de semana também. É construtivo e tem dado um senso de rotina para ele.
Eu acho que o isolamento social é mais difícil para as crianças que sentem falta do contato diário com seus amigos. O meu filho também gostava de fazer esportes ao ar livre. Mas, ao mesmo tempo, eles são resilientes e é uma oportunidade de criar laços com os pais. Todos na família sentem falta de fazer coisas diferentes, mas estamos tentando seguir e nos manter positivos.
Com a comida, o maior problema é tentar racionar e entender o processo de entrega. Nós temos uma pessoa, a Amit, que nos ajuda a cozinhar coisas básicas da culinária indiana, como dal, arroz e vegetais. Eu sempre cozinhei um pouco de coisas não locais e continuo fazendo isso. Meu filho, inclusive, fez sorvete, coisa que nunca imaginei que ele faria, então achei o máximo! Amit vive conosco, ela tem um quarto em nossa casa e mora aqui há muitos anos. Muitos lares na Índia tem pelo menos um quarto para a babá ou a cozinheira e então contratamos outros funcionários para trabalhar meio período na limpeza, no jardim...
A quarentena também é muito estranha para mim, pois estava acostumada a todos os dias ir até o mercado para escolher as coisas fresquinhas. Agora, eu não posso sair e ver o que está disponível. Em vez disso, eu faço o pedido via aplicativo, pago online e eles deixam na porta de casa o que tiverem por lá. Como estamos com um confinamento estrito, nem sempre tem tudo o que precisamos, então vamos nos adaptando ao que está disponível. Algumas coisas, como peixe, agora são quase impossíveis de conseguir. Mas não reclamamos, temos muita sorte em poder pedir e ter nossa comida entregue pelo celular.
Moramos em um prédio de três andares e o portão principal agora está sempre trancado. Mesmo assim, todos nós cuidamos de determinadas tarefas: cuidamos das plantas, das pessoas que não tem uma casa e até dos animais. Apesar de não termos pets, percebemos que é nossa obrigação cuidar de cachorros e vacas que vivem nas ruas.
A moça que costumava fazer a limpeza está ficando em sua própria casa, mas continua sendo paga - o que é muito importante agora. Enquanto isso, nós fazemos nossa limpeza. Recentemente, meu filho começou a aprender sobre Gandhi na escola e comentou como ele ressaltava a importância de limpar seu próprio loo - banheiro tradicional indiano.
Uma conhecida nossa tinha contraído o COVID-19 ao voltar do Reino Unido, mas já está bem. Porém um vizinho idoso foi de ambulância três ou quatro dias atrás para o hospital e, infelizmente, soubemos que ele faleceu hoje devido ao vírus. Sua família está sendo cuidada e isolada. Já é nossa terceira semana de lockdown, supostamente seria a última, mas o período foi prolongado para durar até o dia 3 de maio. Claro que pode durar mais, mas o movimento tem sido apoiado e seguido pela população, estamos torcendo pelo melhor.
O que sei é que o governo tem feito o que pode para testar o máximo de pessoas e transformando locais, como colégios e prédios públicos, em espaços de isolamento. Mas as condições nesses lugares não são as melhores. Além disso, quem voltou de outros continentes tem sido testado pelo governo toda semana, por um período de 15 dias."
from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Familia/Saude-e-Beleza-dos-pais/noticia/2020/04/maes-pelo-mundo-alguns-alimentos-como-peixe-sao-quase-impossiveis-de-conseguir-diz-mae-na-india.html