O caminho até a maternidade nem sempre é fácil. A jornalista Aline Jesus de Souza Barros, 38 anos, diz que atravessou um verdadeiro deserto para realizar o seu sonho de ser mãe. Ela e o marido, o jornalista Thiago do Nascimento Barros, 32 anos, tiveram que lidar com a dor de um aborto espontâneo e com a experiência de passar por uma gravidez química — quando o teste de gravidez dá positivo, mas não há embrião. Além disso, logo depois, Aline descobriu que tinha trombofilia.
Mesmo assim, o casal, que mora no Rio de Janeiro (RJ), não desistiu! Em meio à pandemia, eles descobriam a gravidez da pequena Lara Maria, hoje com dois meses, e foi uma grande alegria. Em depoimento à CRESCER, Aline conta como foi sua emocionante trajetória até a maternidade. Confira!
Quer saber mais sobre a história da Aline? Esse e outros relatos de parto serão exibidos no programa Boas Vindas, do Canal GNT. Novos episódios toda quarta-feira, às 18h.
Quando eu era criança, tive uma criação muito doce e bonita, tanto que meus pais foram heróis sem capa para mim. Por ter uma infância muito amada, sempre gostei de crianças também, porém, tinha medo de ser mãe, não sei muito o porquê, mas pensava que talvez eu poderia faltar para o meu bebê. Foi quando conheci meu marido e eu percebi que ele era a pessoa certa para a minha vida. No início, nós não queríamos ter filhos. Queríamos viajar e viajamos muito!
Nós nos casamos em 2015 e no dia da cerimônia do casamento, eu pedi a Deus que me libertasse desse medo da maternidade. Então, fiz terapia e fui superando as preocupações que tinha. Nós decidimos tentar engravidar durante uma viagem para o Marrocos, em 2018. Depois de seis meses, tive meu primeiro teste positivo, em janeiro do ano seguinte. Na hora, não senti medo e nem insegurança, foi só alegria!
Quando estava com quatro semanas, fiz o primeiro exame e ainda não dava para ver o embrião. Dias depois, fiz mais uma ultrassonografia e então médico me disse que eu estava com seis semanas, mas ele não estava ouvindo os batimentos cardíacos do bebê. Era uma sexta-feira de carnaval, eu saí do consultório arrasada e com aquela pontinha de medo no coração. Em casa, passei a noite inteira sangrando. Ao chegar ao hospital, soube que tive um aborto espontâneo, foi aquela paulada! Eu fiquei muito mal e senti uma dor muito grande.
Após uma bateria de exames, os médicos não identificaram nada de anormal em relação à questão ginecológica e então eu fui liberada para tentar engravidar novamente depois de três meses. Quando estávamos indo para Maragogi (AL) para comemorar o nosso aniversário de casamento, percebi que minha menstruação estava atrasada. Então, decidi levar um teste de gravidez para fazer uma surpresa para o Thiago. Nós ficamos em um resort maravilhoso e no dia do nosso aniversário de casamento (5/9), eu fiz o teste e descobri que estava grávida de duas semanas. Comemorei e fiquei muito feliz!
No entanto, à noite, tive um sangramento e em Maragogi não tinha estrutura, então, nós fomos para Recife e lá eu fiz um ultrassom e a médica disse que tive uma gravidez química [quando não há embrião]. Quando voltamos, fui encaminhada a uma médica que era especialista em perdas recorrentes. E, após alguns exames, descobri que tinha trombofilia hereditária. O meu mundo caiu! Desde então, comecei a fazer vários exames e ainda fui diagnosticada com uma alteração nas células NK (Natural killer), que poderiam estar eliminando o meu embrião.
Se eu não tivesse engravidado, nunca teria descoberto a trombofilia. Eu já viajei por horas de avião. Fui para o Egito, Israel e Grécia e nunca tive trombos. Após o diagnóstico, comecei a tomar as injeções com anticoagulantes [que impedem a formação de coágulos]. Em dezembro, descobri que estava grávida novamente. Eu me mantive muito confiante e tive uma gestação tranquila. Tomei quase 300 injeções até 24 horas antes do parto.
Durante a gestação, devido à pandemia, fiquei em quarentena em casa, só sai para fazer os exames e tomar a vacina. No entanto, encarei a gravidez muito bem na pandemia. Eu tinha certeza que daria certo. Eu atravessei um deserto muito grande para ter a Lara e eu sabia que iria encontrar um arco-Íris no final.
Quando estava entre 35 e 36 semanas, meu colo do útero encurtou e a minha médica recomendou repouso absoluto. Foi muito tenso ficar deitada, sempre fui muito ativa, tanto que fiz pilates online até as 34 semanas de gestação.
O meu parto foi muito bonito! Quando minha filha tinha 38 semanas, dia 29 de julho, eu fui ao consultório da minha médica para descolar a membrana [para estimular o trabalho de parto]. Após o procedimento, fui para casa, comi um frango assado e até tomei sorvete. Logo depois, comecei a sentir as contrações, elas estavam muito fortes e tudo estava evoluindo muito rápido.
Foi quando e o tampão saiu e fomos para a maternidade. Eu sentia uma dor muito forte, andava três passos e depois não conseguia mais andar. No caminho, minha bolsa estourou também. Cheguei ao hospital às 17h08 minutos e minha filha nasceu 18h30. Foi tudo muito rápido. Eu tive a Lara na banheira, primeiro saiu a cabeça e depois já saiu o corpo inteiro. Quando veio para os meus braços, ela estava macia, tinha um cheiro único! A primeira coisa que fiz foi abençoá-la.
Muitas vezes, nós nos preparamos tanto para o parto e esquecemos da amamentação. Eu tive muito problema para amamentar. A minha filha não pegava o peito direito, então já sai da maternidade com a fórmula. Eu não me opus a isso e nem pensei que era o fim do mundo, mas foram dias difíceis.
Eu estava sem dormir e com muita dor! No início, colocávamos a sonda para ela se alimentar. Logo após uma consulta com a odontopediatra, descobrimos que ela tinha a língua presa. Com 12 dias de vida, minha filha passou por uma cirurgia e voltou a só ficar no peito. A pega foi melhorando aos poucos, mas eu estava com os ductos entupidos também. Teve um dia que eu chorei de dor, é como se fosse um massacre, uma tortura. É muito difícil! No entanto, não desisti em nenhum momento. Foram 53 dias amamentando com dor. Eu só passaria isso por ela. Durante esse período, fiz acompanhamento no Instituto Fernandes Figueira, que é do SUS, e com o tempo fui melhorando.
A partir de toda a minha experiência, percebi que quem tem dificuldade para engravidar passa por uma solidão muito grande, muitas vezes, porque tem vergonha de falar. Então, a minha mensagem é: não desista, tenha paciência, porque vale a pena. Eu venci a trombofilia.
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