Por mais que ainda não seja a hora de baixar a guarda, a covid-19 não deve ser a única preocupação. É preciso ficar atento para outras doenças sazonais, que podem lotar os hospitais pediátricos. Um levantamento feito pela Fundação Oswaldo Cruz apontou que o Brasil tem registrado uma alta no número de casos de crianças com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Tanto, que, inclusive, tem superado os casos de coronavírus.
Dados divulgados nesta quinta-feira (14), mostram que no último mês, os casos semanais chegaram a superar os picos registrados em 2020, na faixa etária de 0 a 9 anos. Nos meses de setembro e outubro deste ano, a média foi de 1 mil a 1,2 mil casos de SRAG em crianças por semana. Do começo da pandemia até agora, o recorde havia sido de 1.282 diagnósticos, em julho de 2020.
Entre os pequenos, o vírus sincicial respiratório (VSR), que causa bronquiolite, é o que mais tem levado à quadros de SRAG. Em alguns momentos, do começo de 2021 para cá, os diagnósticos semanais foram superiores, inclusive, aos casos positivos de covid-19.
A Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) é, na verdade, um conjunto de sinais e sintomas. Ela pode ter várias causas e agentes infecciosos (vírus e bactérias). "O diagnóstico é baseado nos sintomas do paciente no momento em que ele é atendido. Normalmente, eles chegam ao hospital com um quadro respiratório, geralmente com febre, evoluindo para sinais de desconforto respiratório e diminuição da saturação de oxigênio, com algum grau de comprometimento pulmonar. Frequentemente, é um quadro que implica na necessidade de internação, muitas vezes em UTI, dependendo do grau de comprometimento", explica o infectologista Francisco Ivanildo Oliveira, gerente médico do Sabará Hospital Infantil (SP).
Os tipos de vírus e bactérias que levam à SRAG variam de acordo com a época do ano. Normalmente, o pico das infecções acontece na transição do verão para o outono, ou seja, vai do começo do ano até maio ou junho. "A maior incidência costuma ser do Vírus Sincicial Respiratório (VSR), que causa bronquiolite. A diferença é que em adultos e crianças maiores, o VSR costuma causar apenas um resfriado enquanto em crianças menores, particularmente aquelas com menos de 2 anos — e mais especialmente os menores de 6 meses ou com fatores de riscos, como prematuridade, cardiopatia e Síndrome de Down —, pode se manifestar de uma forma mais intensa e grave", diz o infectologista.
Além do VSR, outros vírus, como o adenovírus e o influenza, também podem podem desencadear quadros de SRAG. Os pequenos, com menos de 2 anos, são os que precisam de mais atenção. "Nessa faixa etária, elas costumam não ter um desenvolvimento pulmonar muito avançado e, com isso, ficam mais sucestíveis", completa o pediatra Werther Brunow de Carvalho, do Hospital Santa Catarina (SP).
Se comparado à população total de crianças no país, Francisco afirma que o percentual de internações por SRAG é relativamente pequeno, mas não deixa de ser motivo de alerta. "Devemos ficar atentos e observar. Existem medidas de prevenção que podem ser tomadas. No caso do VSR, há uma medicação que ajuda a prevenir infecções em crianças com maior risco de formas graves", disse, referindo-se ao Palivizumabe, um anticorpo monoclonal humanizado contra o Vírus Sincicial Respiratório que pode beneficiar prematuros, crianças com diagnóstico de doença pulmonar crônica e cardiopatas graves. Além disso, reduzir o contato do bebê com outras pessoas e intensificar a higiene, também ajudam a evitar. "As recomendações de prevenção são as mesmas da covid", completa.
O pediatra Werther Brunow de Carvalho também reforça a importância de ficar atento aos sinais de que algo está errado. "O alerta é para que os pais fiquem muito atentos aos sinais de infecção das vias aéreas superiores. Não deixem de contatar o pediatra. São virus de famílias diferentes, mas com manifestações semelhantes, que podem levar a quadros assintomáticos, leves, moderados e até graves", finalizou.
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from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Saude/noticia/2021/10/casos-de-criancas-com-srag-ja-ultrapassam-os-de-covid-no-brasil.html