Anushay Hossain não imaginava que seu parto pudesse não correr bem. Afinal, ela estava nos Estados Unidos, onde, imaginava, a medicina era mais avançada e os médicos eram confiáveis, em comparação com Bangledesh, onde foi criana e "o conceito de saúde da mulher quase não existia", disse. Mas a escritora e analista de política feminista "aprendeu da maneira mais aterrorizante como os Estados Unidos não é garantia de parto tranquilo", afirmou, segundo o Insider.
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Em seu próximo livro, "The Pain Gap: How Sexism and Racism in Healthcare Kill Women", que será lançado em 26 de outubro, ela fala sobre suas experiências angustiantes e de outras mulheres no sistema de saúde americano e, em particular, na obstetrícia. Ela pede que as mulheres redefinam a noção antiga de que a dor está em suas cabeças e defendam sua saúde. “Ao dar à luz no país mais rico do mundo, nunca imaginei que poderia morrer em trabalho de parto. Mas quase morri”, diz ela. "A experiência me colocou em uma jornada para explorar, compreender e compartilhar como as mulheres — especialmente as mulheres de cor — são despedidas até a morte pelo sexismo sistêmico na saúde americana", disse.
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Em um hospital de Washington DC, Anushay Hossain passou 30 horas em trabalho de parto. "Minha dor era tão forte que tive febre de 40 graus e, enquanto tremia e tremia incontrolavelmente, os médicos finalmente realizaram uma cesariana de emergência", lembra.
Ela e seu bebê sobreviveram, mas admite ter ficado traumatizada e ter desenvolvido hipertireoidismo e doença de Graves, que fez seu olho esquerdo inchar. “Mas o que mais me incomoda é por que fiquei tão estranhamente quieta durante tudo isso”, escreve ela. "Por que, quando insisti que os analgésicos não estavam funcionando e que todos estavam me ignorando, não levantei a voz? Por que, depois de fazer a cirurgia, fui tão educada com o médico que exigiu que eu 'provasse' minha dor por ter ido caminhando para a mesa de operação por conta própria? Onde estava minha voz, a 'histeria' que usei seletivamente e a meu favor no passado? Tendo passado toda a minha carreira como defensora dos direitos das mulheres, por que não me defendi?", ela se questiona.
Em seu livro, a autora também traz histórias de mulheres, e particularmente mulheres negras, que sofreram de complicações de parto evitáveis nos Estados Unidos, que tem a maior taxa de mortalidade materna de qualquer país desenvolvido. Independentemente do nível de educação, seguro ou fama, mulheres negras são gravemente afetadas de forma desproporcional. Ela também descobriu que os médicos tendem a tratar os negros de maneira diferente quando se trata de avaliar e controlar sua dor. E um estudo de 2016, destacou Insider, cerca de 50% dos estudantes de medicina brancos e residentes entrevistados disseram que tinham a falsa crença de que os negros sentem dor de maneira diferente dos brancos, levando a um tratamento inadequado.
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A pandemia exacerbou ainda mais essas disparidades, enfatiza Anushay, com os negros mais propensos a contrair a doença que está provando ser especialmente perigosa na gravidez. “Temos que lembrar e contar essas histórias das mulheres por trás das estatísticas”, disse. "Atrás de cada um desses números está uma mulher real com sonhos reais. A vida delas importa. A vida de cada mulher é importante. A vida de cada mulher conta", finalizou.
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