O National Institutes of Health, dos Estados Unidos, lançou recentemente um estudo para investigar se há uma conexão entre a vacinação contra a covid-19 e alterações nos ciclos menstruais, depois que milhares de mulheres começaram a relatar que esse pode ser um possível efeito colateral da vacina, segundo informou o CBS2 nesta semana.
A médica Katharine Lee, da Universidade de Washington, disse que passou pela experiência após receber a vacina contra a covid-19. “Acabei tendo cólicas muito fortes e um pouco de sangramento após as duas vacinas”, disse. Após uma amiga e colega cientista também sofrer alterações semelhantes, elas resolveram criar a pesquisa, que recebeu mais de 150 mil depoimentos descrevendo sangramento excessivo ou mais frequente, cólicas e atrasos no ciclo menstrual. “As informações que temos são anedóticas”, disse Diana Bianchi, diretora do Instituto Nacional de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano Eunice Kennedy Shriver. “Eu não consigo enfatizar o suficiente, a importância de ter um grupo de controle para ser capaz de dissecar se são realmente as vacinas que estão causando as mudanças”, completou.
A pesquisa pesquisa pretende fornecer informações claras para mulheres preocupadas com os efeitos de curto e longo prazo da vacina na saúde reprodutiva. “Acredito que haja uma certa porcentagem de pessoas que hesitam porque não têm informações suficientes, e esse é o nosso objetivo: fornecer informações e tranquilizar as pessoas de que quaisquer mudanças que ocorram com o ciclo menstrual são temporárias e não afetam sua fertilidade”, disse Bianchi. “A covid é muito ruim. Ela deixa as pessoas muito doentes, e ter alguns meses de cólicas ou sangramenhtos mais intensos, para mim, pessoalmente, vale totalmente a proteção”, argumentou Lee.
Pesquisas no Reino Unido também planejam estudar a possível conexão após quase 30 mil relatórios de mudanças mensais. Por enquanto, os pesquisadores enfatizam que as mudanças menstruais são temporárias e que todos os estudos sobre fertilidade descobriram que as vacinas contra a covid-19 não diminuem suas chances de ter um bebê.
No Brasil, ao longo da pandemia, muitas mulheres também tiveram (ou ainda estão apresentando) irregularidades no ciclo menstrual. Um estudo desenvolvido por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Lavras (UFLA), em Minas Gerais, identificou que 77% delas relataram alterações na menstruação desde o início do período de distanciamento social. No entanto, neste caso, segundo especialistas, o psicológico é o fator que mais tem influenciado as mudanças.
“O momento em que vivemos traz uma carga imensa de ansiedade e estresse, causando mudanças no número de dias do ciclo menstrual, número de dias de menstruação, no fluxo, coloração e odor da menstruação, além de alterações na libido”, afirma Fernanda Torras, ginecologista e obstetra, membro da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), da Sociedade Brasileira de Mastologia (SMB) e da Associação Brasileira de Cosmetoginecologia (ABCGIN).
Segundo a especialista, quando o corpo é colocado sob pressão constante ou excessiva, ele secreta os hormônios do estresse: cortisol e adrenalina. “A adrenalina fornece energia, por exemplo, para correr diante de um perigo eminente. O cortisol aumenta a função cerebral e interrompe ou diminui as funções que o corpo considera não essenciais. O cortisol sinaliza o corpo para diminuir funções não vitais, como a reprodução, enquanto a adrenalina prepara-o para sobreviver ao estresse”, explica a médica. Assim, o estresse repentino ou prolongado pode ter grandes efeitos nos hormônios reprodutivos, sendo uma maneira de “proteção e preservação“ do corpo em momentos de ansiedade intensa, tornando improvável que uma mulher engravide durante estes períodos.
Mesmo as alterações menstruais causadas por estresse ou ansiedade não são normais. Segundo a médica, são situações que pedem avaliação. “Qualquer mulher com atraso menstrual, que não utiliza nenhum contraceptivo, primeiramente deve excluir uma gestação. Excluída a possibilidade de uma gravidez, aconselho a mulher a realizar registros dos ciclos menstruais e qualquer sintoma relacionado a ele, por três meses. Se o seu ciclo menstrual continuar anormal, procure uma avaliação médica. Se houver parada total da menstruação, vá ao especialista antes desse período”, finaliza Fernanda Torras.
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