Uma pesquisa publicada recentemente aponta que, entre 2000 e 2019, houve aumento no consumo de fórmulas infantis em países de rendas média e alta. Ainda assim, o levantamento vê melhora nos índices de aleitamento materno exclusivo, até os seis meses de vida dos bebês, na maior parte do mundo.
"O consumo de leite em pó mostrou um aumento alarmante em países de renda média-alta, particularmente entre crianças com mais de 6 meses", diz o estudo. Segundo a pesquisa, as vendas de leite em pó aumentaram de 3,5 kg por criança para 7,4 kg por criança, entre 2005 e 2019. Para o estudo foram analisados dados de 487 pesquisas de países de baixa e média renda e informações de países de alta renda.
O consumo de fórmulas nos primeiros 6 meses de vida aumentou em países de renda média alta e no leste da Ásia e Pacífico, América Latina e Caribe, Oriente Médio e norte da África e Europa Oriental e Ásia Central, enquanto as taxas permaneceram abaixo 8% na África Subsaariana e no sul da Ásia. O consumo de leite animal por crianças menores de 6 meses diminuiu significativamente em países de baixa e média renda.
Já a taxa de qualquer tipo de amamentação [que pode ser exclusiva ou complementada com fórmula, por exemplo] foi constante de 2000 a 2019, em pouco menos de 90% para crianças menores de 6 meses e cerca de 80% com 1 ano de idade. "No entanto, encontramos aumentos em países de renda alta e média alta, quase nenhuma mudança em países de renda média baixa e reduções em países de renda baixa", diz a pesquisa.
Os dados sobre amamentação exclusiva e consumo de fórmula e leite animal estavam disponíveis apenas para países de baixa e média renda. Para a avaliação do cenário nos países de renda alta, foi considerada uma publicação sobre as tendências da amamentação em 51 países. "O estudo mostrou que as práticas de amamentação melhoraram na maioria desses países [de alta renda]. O progresso no sentido de melhorar as práticas de amamentação depende de amplas medidas sociais, e as tendências positivas em países de alta renda provavelmente foram devidas aos esforços nacionais para melhorar, apoiar, promover e aumentar a amamentação, abordando as barreiras sociais e culturais."
O aleitamento materno exclusivo aumentou em todas as regiões do mundo, exceto no Oriente Médio e no norte da África. "Observou-se uma melhora de taxas de aproximadamente 35% em 2000 para aproximadamente 49% em 2019, o que significa que a meta inicial da Assembleia Mundial da Saúde de 50% até 2025 provavelmente será alcançada, desde que essa tendência não seja revertida. No entanto, o aumento anual de 0,7 pontos percentuais por ano ficará aquém de atingir a meta revisada de 70% até 2030, porque, na taxa atual, apenas cerca de 61% das crianças serão amamentadas exclusivamente em 2030", diz o levantamento.
Embora os países de renda baixa e média-baixa já estejam próximos da meta, os países de renda média-alta ficam para trás, com uma taxa de 37% em 2019. O estudo sugere que a falta de políticas de apoio às mães, como defesa de uma licença-maternidade ampla e acessível a todas, impacta diretamente o aleitamento.
Apenas os países de baixa renda estão perto de 100% de amamentação aos 12 meses de idade, o que pode ser atribuído a práticas culturais de longa data, e não a atividades de promoção da amamentação. "Nesses países, observamos reduções pequenas, mas significativas, ao longo dos anos de análise. Potencialmente devido ao aumento da urbanização e adoção de estilos de vida ocidentais, dado que a riqueza da família está inversamente associada à duração da amamentação em países de baixa e média renda", explica a pesquisa.
Já o aumento paradoxal no aleitamento materno exclusivo e no consumo de leite artificial desde o nascimento até os 23 meses de idade em países de renda média alta é explicado, segundo os pesquisadores, por quedas acentuadas no número de crianças que consomem leite animal.
Ao longo de um período de 20 anos, segundo os pesquisadores, as práticas ideais de amamentação foram promovidas em todo o mundo, resultando em aumentos na amamentação, particularmente na amamentação exclusiva e na amamentação aos 6 meses e 12 meses em países de alta renda e países de renda média alta. No entanto, as quedas nos indicadores de amamentação em países de baixa renda e na região do Oriente Médio e Norte da África merecem atenção.
"Apesar dos resultados positivos, o aumento no consumo de leite em pó por crianças em economias emergentes - especialmente fórmula para bebês - reflete a evolução, expansão e promoção das cadeias de suprimento de leite em pó. Os países que tiveram sucesso em melhorar os padrões de alimentação contaram com várias intervenções que precisam funcionar em sincronia, incluindo aconselhamento sobre amamentação em nível individual e comunitário, legislação de licença-maternidade e proteção no local de trabalho para mulheres trabalhadoras", diz o estudo.
Além disso, especialistas defendem que as mudanças de política precisam ser acompanhadas por políticas direcionadas a hospitais e instalações clínicas, treinamento de profissionais de saúde, campanhas na mídia de massa e intervenções baseadas na comunidade.
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from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Saude/noticia/2021/10/amamentacao-estudo-aponta-alta-do-consumo-de-formulas-infantis-em-paises-de-rendas-media-e-alta.html