Tuesday, October 12, 2021

Chris Nicklas: "Ah, se arrependimento matasse..."

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"Ah, se arrependimento matasse..." Recentemente viu-se abrir um espaço de expressão desse sentimento materno. Um arrependimento que não tem nada de engraçado, pelo contrário, traz em si uma crueza socialmente difícil de digerir.

 

Mãe que está amamentando pode ser vacinar? (Foto: Getty)

 

Debruçar sobre esta manifestação inquestionavelmente legítima coloca todos face, não somente, à ambiguidade dos sentimentos maternos, como também à verdade de que nem toda mulher se identifica com este que é o mais valorizado papel que uma mulher pode assumir, pelo menos em nossa cultura ocidental.

Poderíamos passar horas a discutir afinal, como pode uma mulher não se deixar apaixonar por um bebê ou uma criança, que saiu de seu próprio ventre. O diretor Ingmar Bergman, no filme icônico Cenas de um casamento, estrelado por Liv Ullman nos anos setenta, já trazia esta questão numa cena em que este dilema se coloca de forma tão literal, que me leva a pensar sobre o tempo que levamos para fazer uma manobra paradigmática dessa magnitude no curso de uma cultura.

Já estamos no século 21 e ainda nos surpreendemos quando ouvimos o som do desencontro entre mães e filhos na estrada da vida. Mas um olhar mais atento e interessado logo percebe as nuances da realidade de uma cidadã a quem, como num serviço delivery, é entregue o “combo felicidade” logo ao nascer. O pacote vem completo: marido, casa, filhos...

Você que me lê pode pensar sobre o horror que causa considerar que o amor materno pode falhar. Mas ele falha. O discurso social nos faz pensar que não, que o que falha é a mulher, esse ser humano que vem com defeito e não responde aos seus supostos instintos maternos.

Se revisito memórias dos meus áureos tempos de mãe de gêmeos pequenos me impressiona o quanto, no curso de 24 horas, meus estados de espírito e humor variavam. Não, uma mulher/mãe não está sempre feliz e realizada com a sua escolha de ter tido filhos, este é um ponto do qual não podemos nos esquivar. A felicidade materna funciona como o cálculo estatístico de uma média, e lá está o filho bem-criado, aquele que teve uma mãe que, em média, estava em compasso com sua decisão de ter filhos.

Dessas oscilações até já somos capazes de falar e rir. Elas estão nos blogs, nas redes sociais, livros, peças de teatro..., um grande avanço. Mas, o arrependimento, aquele que vem e fica, abre sua barraca e se instala no meio da sala, no caminho entre o quarto e a cozinha, fazendo todos que passam tropeçar e parar compulsoriamente... Este é difícil de engolir. É moralmente inaceitável, e nem por isso vai-se embora.

A invisibilidade da experiência feminina é uma questão que precisa ser endereçada. Nascemos, crescemos, menstruamos, transamos, engravidamos, abortamos, amamentamos, envelhecemos, entramos na menopausa... está aí, resumidamente, o roteiro. E para cada uma dessas passagens é preciso um discurso de reconhecimento e legitimação de subjetividades. Se não, o que nos resta é lutar por leis que nos garantam o direito de comandar essa nau e leva-la ao destino que desejarmos.

Entre ideais sociais e demandas reais do bebê, que precisa ter suas necessidades atendidas, está a mulher. Bem ali, invisível, no meio do caminho. Como já cantava Elis Regina, a esperança é equilibrista, e as mulheres também.

Chris Nicklas é apresentadora, criadora e gestora do site "Amamentar é…", estudante de Psicologia e mãe dos gêmeos Luca e Nina. (Foto: Edu Rodrigues)

 



from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Colunistas/Chris-Nicklas-Amamentar-e/noticia/2021/10/chris-nicklas-ah-se-arrependimento-matasse.html

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