Saturday, October 16, 2021

Após perder três bebês, mãe conta como decidiu adotar menina, de 2 anos, de Serra Leoa: "Quando vi sua foto, meu coração disparou"

https://ift.tt/3DKnalg

 

Ser mãe sempre foi o sonho da mineira Débora Cury, 36. No entanto, em sua trajetória até a maternidade, a cirurgiã dentista, de Belo Horizonte (MG), encontrou muitos desafios. Ela e o marido, Pedro Nery, precisaram recorrer à fertilização in vitro (FIV) para realizar o sonho de engravidar, porém, infelizmente, acabaram vivenciando o luto de perder três bebês. Débora admite que o universo da perda gestacional é muito solitário, pois as pessoas têm dificuldades de falar sobre a morte.

Mesmo lidando com momentos tão árduos, a profissional não desistiu do sonho de ser mãe. Foi, então, que a vida colocou em seu caminho a pequena Kissi, de 2 anos e oito meses. A menina vivia em um abrigo em Serra Leoa — país da costa oeste da África. Ao se deparar com a história da pequena, a cirurgiã dentista e o marido decidiram atravessar o oceano para conhecê-la e adotá-la. Em um depoimento emocionante, Débora conta como enfrentou o aborto espontâneo, o luto pela perda dos filhos e a vinda da filha que trouxe novas esperanças e aqueceu seu coração. Confira!

A pequena Kissi tem dois anos e 8 meses (Foto: Arquivo Pessoal )

 

"Eu nasci com esse instinto materno, tanto que quando era criança já imaginava que seria mãe com 21 anos. Com o tempo, conheci meu atual marido, Pedro. Nós namoramos por oito anos e ele também tinha um instinto paterno. Nós queríamos ter filhos, independentemente se fosse pela via biológica ou por adoção.

No início, nós tivemos alguns desafios para engravidar e tentamos a fertilização in vitro. Na primeira vez que fizemos o processo, em janeiro de 2016, engravidamos. Foi a maior felicidade do universo para nós, porque foi tudo que sempre sonhamos. Só que com oito semanas, tivemos a notícia que o coração do meu bebê tinha parado de bater. Foi avassalador! Nesse momento, nós nos sentimos sozinhos. Eu e meu marido desabamos!

+ Aborto espontâneo: o vazio que fica

Aos poucos, com apoio, fui entendendo o motivo daquela alma ter vindo até a mim, que era para me fazer uma pessoa melhor. Na época, me tornei espírita e fiz muito trabalho voluntário. Tive contato com crianças carentes e a ideia da adoção foi brotando em meu coração, mas foquei, em um primeiro momento, na fertilização, sem descartar a possibilidade de adotar. 

Logo depois, segui novamente minha caminhada de fertilização, que foi muito solitária. Nós não queríamos compartilhar com ninguém, pois socialmente as pessoas cobram. Em nossa segunda e terceira tentativas, o processo não deu certo. Foi então que, em janeiro de 2020, na quarta vez, engravidamos de gêmeos — dois meninos. Um mês depois, tive um sangramento e perdemos um dos embriões. Eu precisei ficar 10 dias de repouso e o meu outro bebê, o Pietro, se estabeleceu. Como eu havia perdido um em 2016, meu medo era muito grande. No entanto, o médico me tranquilizou muito. Meu coração aliviou! Eu sempre meditei para manter o equilíbrio e pratiquei yoga.

“O universo da perda gestacional é muito solitário”

Foi, então, que, com quatro meses e meio, em maio de 2020, estava em casa e comecei a sentir um líquido, como se tivesse feito xixi, mas não era muito e eu não estava sentindo dor. Após mandar mensagem para o médico, ele pediu para me encontrar no dia seguinte. De madrugada, fui ao banheiro e a bolsa desceu e dei um grito: "Pedro, o bebê está nascendo!”. Coloquei para dentro, achando que era a cabeça do meu filho, porém, me mantive tranquila. Quando fui ao banheiro novamente, surgiu uma gosma de sangue.

Logo depois, fui ao médico. Fiz um ultrassom e a perna do bebê já estava na minha cavidade vaginal. A bolsa não tinha estourado ainda, eu ouvi o coração do bebê batendo e ele mexendo. Meu médico, que foi muito sábio, me acompanhou até o hospital no carro dele. Fomos em silêncio. Chegando ao hospital, tive um atendimento humanizado. Não me deixaram esperando, não tive contato com nenhuma grávida, fui direto para um quarto bem distante e não ouvi barulho de bebê chorando. No momento, ainda não entendia o que estava acontecendo. Para mim, ele ia tentar salvar meu filho ali. Então, ele me explicou que a bolsa teve contato com o meu canal vaginal e o Pietro já estava metade para fora, então, o parto teria que ser induzido. Eu fui diagnosticada com incompetência istmo-cervical, que é quando o útero abre.

Pietro nasceu com quatro meses e meio (Foto: Arquivo Pessoal )

 

 

No início, disse que queria uma cesárea, mas, com a orientação do médico e sabendo que meu filho já estava com metade do corpo para fora, mudei de ideia. Eu sabia que se eu ajoelhasse meu filho nasceria. Ajoelhei, a bolsa saiu! No momento, estava com vontade de desmaiar pelo processo todo. Mas, no parto, não senti dor e não precisei de analgesia. Na hora que meu filho nasceu, meu marido cortou o cordão umbilical. 

A equipe foi muito carinhosa. Eles embrulharam o Pierto e o colocaram na cama. No momento, esperei ficar mais calma e, então, estava preparada para encontrar com ele. Pietro sobreviveu por poucos minutos. Eu o peguei e fiz carinho, ele mexeu um pouquinho, mas estava nos momentos finais. Ele cabia nas minhas mãos. Fiquei uma hora mais ou menos com ele. Hoje, ficaria mais. Nesse momento, me senti uma fortaleza! Depois que o médico me explicou que seria importante para mim no futuro, fotografei meu filho e desci para tirar a placenta.

Após passar por essa experiência, fui direto para a terapia, também contei com o apoio de uma doula que faz parte do Grupo Colcha [rede de apoio à perda gestacional e neonatal]. No início, não tive vontade de chorar, mas entendi que cada pessoa passa por um processo de luto diferente! Eu tive também que apoiar minha família, que ficou devastada. As pessoas não queriam comentar, não queriam ver a foto dele. O universo da perda gestacional é muito solitário, mas é necessário falar da morte, pois as mães carregam dores a vida inteira. 

+ Chrissy Teigen conta como tem encarado a perda do filho: "Estou num buraco de luto e depressão"

“Eu me senti grávida”

Com o tempo, achei que estava preparada para o meu bebê arco-irís. Eu me programei para uma fertilização em novembro do ano passado. E essa foi a pior vez que encarei a fertilização! Eu senti uma ansiedade que não tive nas outras. Depois de colocar o embrião, nós esperamos de 11 a 15 dias para fazer o teste de gravidez. Aí foram os 15 dias mais terríveis da minha vida. Fiz o teste antes da hora e deu negativo. Fiquei devastada!

Curiosamente, antes da fertilização, fui fazer uma micropigmentação na sobrancelha e comentei sobre o meu desejo de adotar. Então, uma pessoa me passou o contato de uma mãe que adotou uma criança de um país africano. Ao entrar em contato, ela me passou o telefone do advogado. Na hora, pensei que iria focar na fertilização, mas guardei esse contato. Foram quinze dias de agonia e o processo não deu certo. Foi, então, que o desejo de adoção se tornou ainda mais forte. Conversei com o meu marido, falei que não queria tentar mais uma fertilização. Foi assim que iniciamos o processo de adoção no Brasil e no exterior.

Primeira foto que a Débora recebeu da filha (Foto: Arquivo Pessoal )

 

 

No Brasil, fiz um curso para a adoção que me ajudou a enxergar as coisas diferentes. A adoção não é altruísmo. Todo mundo que eu encontro fala: “Parabéns pelo seu gesto”.  Parabéns nada! Eu só estou tornando um ser filho, quem me fez enxergar isso foi o curso do Brasil.

Com o tempo, marquei uma reunião com um advogado especializado em adoção no Malawi [país africano]. Na época, ele falou que o país estava em lockdown, por causa da pandemia. Ele me explicou também que o processo demorava de seis meses a dois anos. Após conversar com o meu marido, decidimos seguir com o processo de adoção internacional também. Em abril, o advogado me mandou mensagem dizendo que Serra Leoa estava com o processo de adoção aberto. Fizemos a reunião em maio. No mesmo mês, recebi a foto da Kissi, que tinha dois anos e três meses e era de Freetown. O meu processo foi muito mais rápido que o normal e todo online. Após receber a foto da minha filha, meu coração disparou! Na sentença, o juiz determinou que não precisaria da minha presença física. No dia 26 de julho, o “parto” [quando ganhamos a guarda] aconteceu. Durante o processo, me senti grávida, engordei e até senti desejo!

Kissi já está se adaptando à nova rotina (Foto: Arquivo Pessoal )

 

 

Quando eu fui pegar a minha filha, ela pulou no meu colo, me abraçou, me beijou e depois de cinco minutos, começou a chorar. Eu não sabia o que fazer. No entanto, aos poucos, ela foi se acostumando e não se desgrudou de mim. Com o meu marido, demorou três dias para aceitá-lo, depois disso, não desgarrou dele também. Ela já estava no momento de desfralde. Na primeira noite, ela já pediu para fazer cocô. Neste dia também, ela pegou meu peito, fiquei olhando, não repeli e observei. Desde então, ela mama diariamente, não sai leite, mas é uma troca de energia e conexão. Ela succiona amor e tranquilidade. A amamentação é única e exclusivamente psíquica.

Quanto à adaptação, ela fala algumas palavras em inglês e na língua da sua região. No início, nós conversamos em inglês e ela se mostrou muito entregue. Está frequentando a escola, entende e fala algumas palavras em português também. No momento, estamos um pouco afastados da família para ela ter estabilidade interna. No futuro, no momento certo, ela terá acesso à história dela e, se quiser visitar seu país, eu vou com ela."

Saiba como assinar a Crescer para ter acesso a nossos conteúdos exclusivos

 

 



from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Educacao-Comportamento/noticia/2021/10/apos-perder-tres-bebes-mae-conta-como-decidiu-adotar-menina-de-2-anos-de-serra-leoa-quando-vi-sua-foto-meu-coracao-disparou.html

This Is The Way | Kids Songs | Super Simple Songs

✅ Clique!!! AMAZON PRIME de graça por 30 dias, músicas, vídeos, filmes infantis e FRETE GRÁTIS!!!