Quando a publicitária Vitória Zuppo, 24, foi para a maternidade dar à luz, ela não imaginava que seu puerpério seria tão desafiador. Os planos eram ter um parto tranquilo para, em alguns dias, voltar para casa com o pequeno Benjamin nos braços. Mas o que era para ser um momento de alegria se transformou em um teste positivo para covid-19, duas entubações, uma embolia pulmonar e mais de 20 dias hospitalizada e longe do filho. "Eu não tinha a mínima ideia do que estava por vir. Se me contassem, eu jamais acreditaria", disse em entrevista à CRESCER.
Vitória deu entrada na maternidade, em Belo Horizonte (MG), no último dia 16 de junho. Grávida de 40 semanas, o parto só aconteceu na manhã seguinte. "Fiquei várias horas lá esperando e comecei sentir muito frio. Os médicos acharam estranho, mediram minha temperatura e viram que eu estava com febre", lembra.
Ainda assim, o procedimento aconteceu seguindo os protocolos padrões. Foi só depois de ter laceração e hemorragia que os médicos decidiram testá-la para covid-19. No mesmo dia, o resultado saiu e ela estava contaminada com o vírus.
Apesar disso, Vitória e o bebê tiveram alta e puderam ir para casa. A única recomendação era a de evitar contato muito próximo com o filho, até que se recuperasse. Mesmo com covid-19, ela pode continuar amamentando. "Nesse momento, o meu desespero era o de não poder beijar o Ben, não dar esse aconchego para ele. Jamais imaginaria que as coisas ficariam bem piores."
Em casa, ela começou a se sentir fraca e foi para o hospital. A saturação estava baixa e, depois de fazer exames, descobriu que 30% do seu pulmão já estava comprometido. Mesmo assim, ela foi liberada. Só foi internada no dia seguinte, domingo (20), quando procurou ajuda em outro hospital.
Vitória permaneceu estável até terça-feira (22), quando os sintomas começaram a piorar e teve de ser transferida para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). "Do nada eu comecei a me sentir muito mais fraca que o normal e a respiração começou a faltar. Aí bateu o desespero, parecia que meu corpo não funcionava."
Depois de fazer um raio-X, a equipe médica notou que 90% do pulmão já estava comprometido e avisou a família de que o quadro era praticamente irreversível. A última tentativa seria a de entubá-la. "Eu sabia que estava mal, mas ninguém me falava a gravidade. Só depois fui saber que os médicos disseram que, sem a ECMO, eu só teria mais 3 horas de vida", conta.
A sugestão foi a de que Vitória começasse uma terapia de Oxigenação por Membrana Extracorpórea (ECMO). O aparelho funciona como um "pulmão artificial". Naquele momento só haviam duas máquinas em Belo Horizonte. Uma estava ocupada por outro paciente e a outra foi liberada horas antes de o quadro da publicitária piorar. Ela começou a terapia no hospital na quinta-feira (23).
Depois de apresentar melhora, a máquina pode, enfim, ser desligada na quarta (30). "Quando tiraram a ECMO foi uma festa, como se fosse o primeiro passo para a alta. Mas umas horas depois eu senti um aperto muito forte no peito e uma dificuldade para respirar muito grande. Achei até que era crise de ansiedade. Tentava de todas as formas respirar e não conseguia."
Foi aí que os médicos detectaram que ela teve uma embolia pulmonar. A decisão foi de entubá-la de novo e voltar para o terapia com a ECMO. "A sensação que eu tinha era a de que a morte estava muito perto de mim. Eu fechei o olho e sentia meu corpo pedindo para descansar. Eu queria entregar os pontos, mas foi aí que o Ben veio à minha cabeça e ouvi Deus falando para eu não desistir porque ainda não era a hora", lembra.
Apesar do susto, Vitória se recuperou bem e, na quarta-feira (7), o equipamento da ECMO pode ser desligado e ela passou os demais dias respirando apenas com a ajuda de um cateter de oxigênio de baixa pressão. "Minha família foi essencial para eu ficar bem. Fiquei sem celular, mas meu marido e minha mãe me contaram tudo. Meus amigos criaram um Instagram, para fazer tipo um diário de como o Ben estava enquanto fiquei no hospital, descobri que todo dia às 15h as pessoas iam para a frente do hospital orar por mim."
Foi só um dia antes de sair da UTI, no sábado (10), que Vitória pode finalmente ver o filho pessoalmente de novo. Eles se encontraram no hospital, depois de ficarem separados por quase 20 dias. "Eu peguei ele no colo rapidinho na hora do parto e depois praticamente só vi por foto e vídeo. Aquele momento foi minha golden hour, como se estivesse abraçando ele pela primeira vez. Foi muito especial", lembra.
Vitória só teve alta e pode voltar para casa três dias depois, na terça (13), e agora segue no processo de reabilitação. "Perdi muita força e movimentos, não conseguia fazer xixi sozinha, levantar, pegar o Ben no colo... Ainda estou cheia de marcas e cicatrizes, não foi fácil. Mas tive alta da fisioterapia e estou vivendo a minha própria vitória."
Nos dias em que esteve no hospital, Vitória apresentou episódios de piora no quadro de saúde e precisou usar uma terapia conhecida como ECMO (Oxigenação por Membrana Extracorpórea). O equipamento funciona como um pulmão ou um coração artificial: é como se ele "substituísse" esses órgãos e fizesse o papel deles, enquanto o paciente se recupera.
No caso da covid-19, os pulmões são os órgãos mais atingidos pelo vírus. Como o ar não entra como deveria, a oxigenação do corpo fica comprometida. A função da terapia, então, é ajudar a devolver o sangue oxigenado para o organismo. "Na ECMO, tiramos o sangue venoso (pobre em oxigêneo), passamos por uma máquina, em que acontecem trocas gasosas, e devolvemos o sangue de novo para o pulmão", explica a cardiologista Marina Pinheiro Rocha Fantini, diretora da ECMO Minas.
Ainda que exista há mais de quatro décadas, a ECMO se popularizou depois do aumento dos casos de internações por covid-19. Normalmente, ela é usada quando o paciente já está num estado grave e com a função pulmonar ou cardiológica comprometida e a ventilação mecânica já não produz o efeito desejado.
"É uma terapia de suporte, que vai ajudá-lo até que tenha condições de se recuperar e voltar para casa. O grande ponto positivo é que ela pode ser usada para atender diversos perfis, de bebês nascidos com 34 semanas, crianças, adultos e até um paciente mais velho", explica a cardiologista Marina Pinheiro Rocha Fantini, diretora da ECMO Minas.
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from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Gravidez/noticia/2021/09/depois-de-ter-covid-19-ser-entubada-e-precisar-de-ecmo-pulmao-artificial-mae-conta-emocao-de-reencontrar-filho-recem-nascido-senti-morte-muito-perto-de-mim.html