Lembro como se fosse hoje o espanto que tive quando descobri que bebês só se alimentavam de leite materno até os seis meses. A princípio me deu um pânico: não estava acostumada a ter alguém tão dependente de mim e a amamentação escancarava aquela interdependência entre mãe e filho.
Chegar em casa da maternidade logo após o nascimento da primeira filha foi um desafio e tanto: na maternidade o bebê parece sorrir placidamente para as visitas, mesmo sem abrir o olho, mas em casa, o bicho pega. Aquele ser encantador e devidamente embrulhado que recebemos da enfermeira na saída parece ganhar outras formas e parece que sente qualquer sinal emitido pelo pensamento da mãe quando ela quer fazer alguma coisa: e chora.
Brincávamos que a Eva, minha primeira filha, era igual Telesena: mamava de hora em hora. Dia e noite, sem parar. Eu não conseguia entender pra onde tinha ido meu tempo, mas calculava que ele passava quando ouvia o choro dela, mais uma vez, assim que eu sentava pra almoçar.
Nos primeiros dias, até aquele ajuste caótico se fazer perfeito, a gente sofre. Não sabe ser mãe. Na verdade, nunca foi.
As coisas com o tempo começam a se ajustar: a gente aprende a afastar os palpites, ganhar confiança e fazer do jeito que acha que tem que ser feito. No meu caso, meu instinto materno dizia que eu precisava me jogar de cabeça naquela experiência. Fazia pouco tempo que tínhamos nos tornado duas e mesmo em corpos separados, um cordão invisível ligava a gente.
Se eu não estava bem, ela chorava minha angústia. Se eu estava preocupada, ela explodia de febre. Com o tempo fui percebendo que durante muito tempo eu e ela ainda respiraríamos no mesmo ritmo.
Na Semana Mundial de Amamentação, eu confesso que mais difícil que dar o peito de hora em hora nos primeiros meses, foi desmamar a bichinha. Isso porque ela quis continuar a mamar da mesma fonte quando Aurora, sua irmã nasceu e, mesmo com três anos de idade, mamando às escondidas pra dormir, ela via ali a oportunidade de se conectar com a mãe que não queria que sua irmã roubasse dela.
Amamentar, pra mim, era saber que meu peito poderia suprir todas as necessidades delas. Era ter a certeza de que ele acalmava o choro, a birra, a saudade, ainda mais que a fome. E que era a coisa que só eu podia dar. Era a imunidade, era o carinho, era a presença. Era tudo isso, além do alimento mais nutritivo do mundo.
Com o tempo, aquilo que mais me apavorava, que era ter uma criança dependendo de mim, se tornou o que mais deu saudade. É bom ver filho livre, voando com as próprias asas, mas não tem nada como deixar eles debaixo das nossas.
O amor prega peças. Eles crescem. E a gente ainda ri de tudo que já reclamou.
Cinthia Dalpino é jornalista, escritora e ghost writer de livros.Já foi 100% trabalho, já foi 100% mãe e, hoje, tenta integrar suas paixões - filhos e trabalho - em sua vida. Criadora do Mãe At work, portal com histórias de mães e reflexões relacionadas à maternidade e mercado de trabalho.
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