Poucas vezes tive a sensação de plenitude e alívio que me dominou ao ver anunciado que lactantes haviam sido incluídas no calendário de vacinação da cidade do Rio de Janeiro. Desde que nos vimos à espera da vacina contra a covid-19, passei a dar F5 [comando para atualizar uma página na internet] várias vezes ao dia no site da prefeitura: a última vez que me vi assim foi na época da faculdade, aguardando a lista de aprovados e, mais recentemente, esperando o exame da sexagem dos meninos.
Além de todo o benefício científico de ser vacinada, como bem definiu o doutor Renato Kfouri [pediatra e infectologista], com quem converso muito sobre isso, há também o “benefício emocional” de estar protegida com dois bebês em casa. Se ainda há dúvidas sobre essa doença que vitimou tantos brasileiros, fico com a certeza de que as vacinas vão salvar vidas – basta tomar quando chegar a sua vez e não deixar de tomar a segunda dose. Isso parece óbvio, talvez repetitivo para você, que, assim como eu, deve estar respondendo mentalmente: “Mas é claro! Não vejo a hora de chegar a minha vez!”. Mas, na fila, enquanto aguardava a minha, fiquei triste e assustada com cenas explícitas de “sommeliers de vacina”.
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Sim, eles existem. Assim como você vai à feira e pergunta se tem tomate ou mamão, ouvi gente chegando para a turma do SUS, na porta, perguntando se tinha a vacina A, B ou C. Ouvi uma senhora dizendo que havia tomado uma vacina mas, passado um mês, queria tomar de outra fabricante. A atendente do SUS, pacientemente, explicava que não era possível.
Como jornalista, não consigo observar essas cenas como se não estivesse apurando personagens para uma matéria. Os relatos que testemunhei me entristecem porque vi, na vida real, o estrago que os divulgadores das fake news, do conteúdo fraudulento nas redes sociais, podem fazer, colocando vidas em risco. E também a falta que fez uma articulação coordenada desde o início da pandemia por uma campanha de comunicação pública alinhada com a ciência – já que a vacina para combater tudo isso é a informação. A liderança tinha de vir das autoridades.
Saí do posto de vacinação com um misto de sentimentos, pensando qual vai ser o mundo que os meus filhos vão conhecer e quanto tempo vamos demorar para imunizar a população como um todo. No caminho para casa, dei de cara com um relato desses “sommeliers” da vacina nas redes sociais, contado por uma pessoa que sigo no Twitter. A postagem dizia que uma atendente do SUS, naquele mesmo dia, havia sido abordada em um posto em São Paulo por uma pessoa que queria saber “qual vacina estavam dando”. E ela respondeu: “A que protege contra a covid”. De máscara, vacinada, sorri emocionada com os olhos e com a esperança de dias melhores.
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