Só quem tem teve um bebê prematuro entende como o coração fica apertado. São muitas as dúvidas e preocupações com a saúde daquele ser tão pequenininho e frágil. E com razão: essas crianças são mesmo mais suscetíveis a infecções. O principal motivo é que a maior parte da transferência dos anticorpos da mãe para o filho acontece nos últimos meses da gestação e, com o nascimento antecipado, os prematuros em geral nascem sem essa proteção.(1)
Também há uma imaturidade do próprio sistema imunológico dos recém-nascidos e, quanto menor a idade gestacional, menos desenvolvidas serão as suas defesas. Um prematuro abaixo de 28 semanas, por exemplo, tem risco cinco a dez vezes maior de adquirir um processo infeccioso se comparado a outro que nasceu no tempo esperado.(2)
Somam-se aí outras condições muito comuns nesses bebês, como não mamar ainda no seio materno, anemia, desnutrição e uso de medicamentos, questões que interferem na imunidade e os tornam ainda mais desprotegidos.(1)
Por tudo isso, a prevenção ganha relevância extra nesse grupo de crianças. Desde os cuidados diários – que incluem coisas como lavar frequentemente as mãos, não expor a aglomerações ou pessoas doentes e incentivar o aleitamento materno –, mas principalmente o cuidado por meio da vacinação.(1) Essa é a mais importante e eficiente forma de zelar pela saúde de qualquer bebê, em especial dos prematuros. E não deve ser esquecida ou adiada. (2)
Com exceção de algumas vacinas apenas, que não podem ser aplicadas em ambiente hospitalar, mesmo que o neném esteja internado já é possível iniciar o calendário vacinal seguindo a idade cronológica. Desde, claro, que o seu estado clínico esteja estável e a unidade neonatal tenha material adequado e equipe habilitada.(2)
O que muda no calendário
O bebê prematuro tem um calendário de vacinação um pouco diferente dos nascidos a termo. Logo de cara, uma das coisas que mudam é a vacina contra hepatite B, a primeira que ele toma, já nas primeiras 12 horas de vida. Nos recém-nascidos com menos de 33 semanas e peso inferior a 2 kg, devem ser aplicadas necessariamente quatro doses em vez de três. Podem ser dadas ao nascer, aos 2, 4 e 6 meses ou então ao nascer, com 1, 2 e 6 meses.(5)
A BCG, que protege da tuberculose, também tem uma particularidade: o bebê precisa ter no mínimo 2 kg. Caso contrário, essa vacina precisa ser adiada até que atinga esse peso.(5)
Outra diferença é o imunobiológico contra o vírus sincicial respiratório (VSR), que só existe no calendário de crianças pré-termo. Esse é o principal responsável pelas infecções pulmonares infantis, como a bronquiolite, que pode ser muito grave em bebês prematuros (1). Deve ser aplicada nos meses de maior circulação do vírus na região em que o neném mora (Norte, de janeiro a junho; Sul, de março a agosto; Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste, de fevereiro a julho).(5)
Mais um diferencial importante é a recomendação do uso de vacinas acelulares, que são desenvolvidas com partículas, e não com células inteiras, fazendo com que as reações à vacina sejam menos frequentes e bem mais leves.(2)
Por último, é fundamental destacar que, para os prematuros, o indicado é aplicar algumas vacinas combinadas, que protegem contra várias doenças ao mesmo tempo, em uma única injeção.(5-7) Isso reduz o estresse para o bebê e exige menos idas da família às unidades de saúde, o que facilita completar corretamente o calendário e, assim, melhora a cobertura vacinal.
Acesso gratuito pelo CRIE
Pouca gente sabe, mas as vacinas combinadas estão disponíveis gratuitamente nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIEs), que fazem parte do SUS, para bebês pré-termo que nasceram antes de 31 semanas de gestação ou menos de 1 kg.(7)
Os CRIEs são unidades especializadas que oferecem imunizantes que não integram o calendário básico de saúde da rede pública, mas são necessários para pacientes com necessidades personalizadas de vacinação, como é o caso dos prematuros.(7)
Embora pouco conhecida, essa iniciativa tão relevante já tem 28 anos. Por meio dela, é ofertada uma série de vacinas, soros e imunoglobulinas específicos, de alta tecnologia e alto custo – tudo gratuitamente.(5)
Para receber a vacina, é preciso apresentar a indicação médica e um relatório clínico sobre o caso da criança. Esses documentos serão avaliados pelo médico ou enfermeiro responsável pelo CRIE e, se estiver tudo dentro dos critérios, os imunobiológicos serão liberados.(7) São mais de 50 unidades do CRIE espalhadas pelo país e todo estado tem pelo menos uma (clique aqui para ver os endereços).
Referências:
1. SBP. Calendário vacinal do bebê prematuro. Disponível em: https://www.sbp.com.br/especiais/pediatria-para-familias/vacinas/calendario-vacinal-do-bebe-prematuro Acesso em Agosto de 2021.
2. Sociedade Brasileira de Pediatria. Vacinação em pretermos. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/20947d-GPA_-_Vacinacao_em_pretermos-ok.pdf Acesso em Agosto de 2021.
3. SBP. Novembro: Mês da Prevenção da Prematuridade. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/Nota_Tecnica_2019_Prematuridade.pdf Acesso em Agosto de 2021.
4. World Health Organization. Preterm birth. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/preterm-birth
5. Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Calendário de Vacinação SBIm prematuro 2021-2022. Disponível em: https://sbim.org.br/images/calendarios/calend-sbim-prematuro.pdf
6. Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Perguntas e respostas: o que são vacinas combinadas? Disponível em: https://familia.sbim.org.br/vacinas/perguntas-e-respostas/o-que-sao-vacinas-combinadas
7. Ministério da Saúde. Informe técnico: vacinas Penta acelular e Hexa acelular. Disponível em: https://sbim.org.br/images/files/notas-tecnicas/informe-incorporacao-penta-hexa-acelulares-210104.pdf
from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Publieditorial/Sanofi-Pasteur/noticia/2021/11/vacinacao-de-prematuros-tudo-o-que-voce-precisa-saber.html