Desde os 18 meses, a estudante Jessica Thompson, 11, come nuggets de frango. A menina, que mora em Wiltshire, na Inglaterra, desenvolveu uma fobia por outros tipos de comida. Ainda bebê ela recusava provar outros tipos de alimentos, até mesmo as frutas.
De acordo com informações do Daily Mail, sua mãe, Julia Cain, 49, não tem ideia do que desencadeou a ansiedade e o pânico em torno da comida. No entanto, depois de procurar ajuda profissional, Jessica foi diagnosticada com Transtorno de Ingestão Alimentar Restritiva Evitativa (ARFID, sigla em inglês), em setembro. Pessoas que sofrem desse tipo de transtorno desenvolvem fobia da textura de certos alimentos, cheiro de aparência geral e se negam a experimentá-los.
Julia relata que a filha se tornou mais seletiva de uma forma muito repentina. "Ela estava comendo toda a sua comida de bebê e estava experimentando muita comida nova. Então ela parou e só comia nuggets de frango". A família chegava a não participar de jantares de Natal, porque Jessica não comia nada. A mãe conta que após o tratamento com um hipnoterapeuta, Jessica pode finalmente desfrutar de um jantar completo, incluindo um cardápio com muitas frutas e vegetais.
Até chegar a esse ponto, no entanto, não foi um processo fácil. Julia comenta que muitas pessoas diziam que a filha dela iria superar a dificuldade com a alimentação, que a mãe só precisava ser um pouco mais firme. "O problema é que Jessica literalmente preferia morrer de fome a comer alguns alimentos", diz a mãe, que logo percebeu que a menina de fato tinha algum transtorno: "Nós sabíamos que ela era mais do que exigente, mas nunca pensamos que ela passaria uma década de sua vida comendo nuggets de frango".
No cardápio da estudante, só podiam entrar nuggets, pão simples e batata frita. Após anos tentando sem sucesso fazer a filha comer outras coisas, Julia finalmente contatou o hipnoterapeuta David Kilmurry, que a diagnosticou com Transtorno de Ingestão Alimentar Restritiva Evitativa. Após algumas consultas, a mãe afirma que a filha passou a aceitar novos alimentos. "Não é nada menos do que um milagre que a Jessica possa comer um prato cheio de comida agora. Fazia anos que não comíamos juntos como família e agora podemos. Ela experimentou 24 novos alimentos e, embora não tenha gostado de todos, este é um grande passo".
A resistência para provar comidas novas é conhecida como neofobia e ocorre em crianças entre 2 e 5 anos. Muitas perdem o medo depois que os alimentos são oferecidos diversas vezes (a recomendação é de, no mínimo, dez), mas até 35% mantêm o problema mesmo crescidas. “Em casos em que a recusa não é acentuada, as orientações do pediatra costumam ser suficientes para resolver essa questão”, afirma o pediatra Ricardo Toma, do Hospital Israelita Albert Einstein (SP). Mas nem sempre mudanças na rotina alimentar bastam. Por isso, de acordo com o pediatra, quando a situação gera danos físicos (afetando o crescimento, por exemplo), emocionais e sociais, seja para a criança ou para a família, é preciso uma análise multidisciplinar. Além do pediatra, especialistas como nutricionistas, psicólogos, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos podem ajudar no processo.
As estratégias mais eficientes para superar as dificuldades alimentares variam de criança para criança, mas existem algumas atitudes que são boas aliadas. No entanto, fique atento, caso desconfie que seu filho tem algum transtorno, consulte um especialista.
O que faz diferença
- Estimular a curiosidade da criança pelos alimentos, envolvendo-a no preparo.
- Respeitar quando a criança demonstra que está satisfeita.
- Introduzir novos alimentos com texturas ou sabores que a criança já aceita. Se ela come espaguete, ofereça a massa de diferentes formatos, como talharim e penne, por exemplo.
- Fazer as refeições em família.
- Dar o exemplo de uma alimentação saudável.
O que atrapalha
- Distrair a criança na hora de comer, com vídeos e brinquedos. Isso impede que ela resolva suas questões com a comida.
- Gritar ou punir não adianta e podem até mesmo piorar o problema, já que a criança vai associar a refeição a memórias ruins.
- Fazer comentários no estilo “tenho certeza de que vai gostar disso” e “olha que delícia”, para que a criança não perceba que você já pressupõe que ela não vai comer mesmo.
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from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Educacao-Comportamento/noticia/2021/11/menina-que-come-nuggets-de-frango-desde-os-18-meses-supera-fobia-por-outras-comidas-e-comeca-experimentar-novos-alimentos.html