Você já deve ter visto uma criança ou mesmo jovem com tiques, isto é, com manifestações que incluem piscar os olhos, balançar a cabeça e tossir repetidamente. A síndrome de Tourette, caracterizada por tiques vocais e motores, é uma preocupação principalmente na infância. No entanto, médicos britânicos vêm alertando que esse tipo de distúrbio está aumentando entre os adolescentes, principalmente em tempos de pandemia.
De acordo com informações do Daily Mail, houve um aumento repentino de agitações físicas e vocais entre adolescentes, principalmente entre as meninas. O Sistema de Saúde do Reino Unido (NHS, sigla em inglês), descreve os tiques como movimentos musculares repetitivos e rápidos que resultam em movimentos bruscos corporais repentinos e difíceis de controlar ou sons involuntários. Os exemplos comuns incluem piscar, fazer caretas, sacudidas repentinas e sons ou frases repetitivas.
Embora as causas não sejam tão claras, os tiques convencionalmente aparecem pela primeira vez por volta dos cinco anos de idade, mas melhoram com o tempo e são temporários. O NHS os descreve como 'bastante comuns', afetando até uma em cada cinco crianças. No entanto, em meio à pandemia, os médicos dizem que viram que os tiques estão afetando principalmente as adolescentes. O consenso entre os especialistas é que a condição pode ser resultado das pressões psicológicas do lockdown, com sentimento de medo, devido à pandemia e às mudanças climáticas. Além disso, há a suspeita que as redes sociais estão impactando os jovens que imitam tiques de influenciadores que têm o distúrbio.
"Pelo menos dobramos nossa taxa de encaminhamento para tiques nos últimos meses, com mais de 70 meninas sendo enviadas para ajuda profissional. É um número muito preocupante", disse Tammy Hedderly, consultora do Hospital Infantil Evelina London do NHS. "Como especialistas, estamos vendo apenas os casos graves, e é um pequeno grupo do que poderia ser um número muito maior".
Além de aparecer mais em meninas, os sintomas da nova condição de tique são marcadamente diferentes, explicou Hedderly. “Normalmente os tiques têm um início gradual, mas os novos aparecem de repente”, diz ela. “Esses pacientes costumam apresentar entre os 13 e os 15 anos de idade, com crises que aparecem durante a noite", complementou.
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Os especialistas alertam que os tiques não são apenas no rosto e nos olhos, há também movimento de agitação de corpo inteiro e, às vezes, tiques vocais (ruídos não articulados) de início repentino. Ainda de acordo com o Daily Mail, surtos semelhantes estão sendo relatados por especialistas nos Estados Unidos, Alemanha, Dinamarca, França e Canadá.
No mês passado, psiquiatras alemães afirmaram que os adolescentes estavam "copiando" tiques de redes sociais, onde assistem a influenciadores com síndrome de Tourette (um distúrbio caracterizado por tiques extremos). A teoria é que os jovens espectadores são compelidos a imitar os movimentos físicos e vocais que assistem. No entanto, os especialista britânicos dizem que explicar o surto de tiques como puramente resultado de vídeos virais da internet ainda é uma teoria muito simplista. "O jornal alemão coloca firmemente tudo isso na influência da mídia social, mas não é necessariamente assim que estamos olhando para o problema", declarou Hedderly.
A especialista acredita que existem várias razões para o surgimento desses tiques. "Tem que haver um foco no indivíduo", disse ela. A consultora sugere que os pacientes podem ter predisposições subjacentes que, em alguns casos, são desencadeadas pela observação de influenciadores com síndrome de Tourette.
Hedderly ainda acrescenta que o lockdown pode ter contribuído significativamente para o desenvolvimento desse distúrbio. "O estresse pode estar desmascarando uma predisposição a tiques em alguns pacientes, enquanto em outros pode estar agravando uma vulnerabilidade existente à ansiedade a ponto de se tornar insuportável".
A clínica de Hedderly trata os pacientes usando abordagens psicológicas para ajudá-los a desviar sua atenção dos tiques e parar de se preocupar obsessivamente com o próximo ataque. "Os médicos estão tentando criar recursos em um ritmo acelerado, como técnicas de autoajuda que os pacientes possam aprender".
Piscar os olhos, roer as unhas, balançar os pés, estalar o pescoço repetidamente são sinais típicos de uma criança que está insegura, ansiosa ou querendo chamar a atenção por algum motivo. Elas desenvolvem o tique para descarregar uma emoção ou angústia que estava contida.
Por isso, as manias surgem após acontecimentos importantes, como o nascimento do irmão mais novo, a separação dos pais, a morte de um parente ou a mudança de escola. "Pais superprotetores costumam contribuir para o aparecimento de manias em seus filhos que, em geral, demonstram mais medo", diz a psicóloga Valesca Souza, especialista em neuropsicologia.
Na maioria dos casos, basta um pouco mais de carinho e paciência para que a criança abandone o tique. Quando não observado, a mania pode evoluir para um Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e aí o tratamento deve ser feito com a ajuda de um psicoterapeuta.
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from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Criancas/Saude/noticia/2021/11/medicos-britanicos-alertam-sobre-aumento-repentino-de-tiques-nervosos-na-adolescencia.html