A data de 12 de novembro é lembrada como o Dia Mundial da Pneumonia, uma enfermidade que assombra muitos pais. Afinal, as crianças podem desenvolver complicações e, muitas vezes, até perderem a vida caso tenham essa infecção. De acordo com um relatório atualizado da Global Burden of Disease (GBD), que mensura tendências epidemiológicas em todo o mundo, estima-se que, em 2019, a cada 47 segundos uma criança tenha sido vítima da doença. O documento também aponta que quase 30% dos óbitos acontecem no primeiro mês de vida.
Embora fungos também possam ser agentes causadores da doença, na maioria das vezes ela é provocada por vírus ou bactérias — neste último caso, a boa notícia é que ela pode ser prevenida por meio da vacina pneumocócica, que imuniza contra as bactérias do tipo pneumococos. No entanto, apesar de sua importância, as taxas de cobertura vacinal contra a pneumonia merecem atenção. Em 2020, em meio à pandemia do coronavírus, a cobertura foi de 81,22% contra 89,07% em 2019 — o menor índice desde 2011, quando era de 81,65%, conforme dados publicados no site do DATASUS, do Ministério da Saúde.
Esse cenário se torna ainda mais preocupante quando olhamos para os números entre os anos de 2013 e 2018, quando as coberturas estavam acima de 90% [veja a tabela abaixo]. Em 2020, única região do país a ultrapassar essa marca foi a Sul (90,43%) — já a menor taxa foi registrada na região Norte, com apenas 75,46%.
A vacina pneumocócica conjugada 10-valente (VPC10) foi introduzida no Programa Nacional de Imunizações (PNI) em 2010 e, desde então, vinha tendo grande aderência da população-alvo, porém, desde 2019 e com a pandemia, as coberturas vêm caindo. Para se ter uma ideia, embora 2021 ainda não tenha acabado, temos apenas 57,94% de cobertura vacinal no país até o momento, segundo dados do DATASUS — o que acende um alerta sobre os riscos que a doença pode trazer para os pequenos.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a pneumonia é a principal causa infecciosa de morte em crianças em todo mundo. A doença já matou 740.180 crianças menores de 5 anos em 2019, sendo responsável por 14% de todas as mortes de crianças menores de 5 anos e 22% de todas as mortes em crianças de 1 a 5 anos.
No Brasil, conforme dados publicados no site do DATASUS, do Ministério da Saúde, entre os meses de janeiro e setembro de 2021, foram registrados 460 óbitos por pneumonia entres crianças de 0 a 9 anos. Já em 2020, o número de mortes, no mesmo período, foi de 514. No ano passado, no total foram 632 mortes.
Como uma gripe vira pneumonia?
As crianças gripadas ficam mais vulneráveis, com menor capacidade de defesa do organismo. As bactérias se aproveitam da situação e podem se instalar causando uma pneumonia bacteriana. Quando há algum quadro de infecção, seja na garganta, nos seios da face ou no ouvido, a criança pode inspirar as secreções infectadas com pus e bactérias, que vão parar no pulmão. Se essas secreções contaminarem os alvéolos pulmonares, vira pneumonia, se ficarem nos brônquios, vira bronquite. Mas a pneumonia não começa necessariamente só com a gripe. Algumas crianças podem desenvolver a infecção assim que são atacadas por uma série de vírus, ou seja, pneumonia viral.
Como diferenciar uma gripe forte de pneumonia?
Preste atenção aos sintomas: na pneumonia, a febre é mais prolongada, o cansaço é maior e as tosses vêm acompanhadas de dor. Se a gripe for causada pelo vírus influenza, as chances de a doença atingir o pulmão são ainda maiores, pois ele é mais agressivo.
Qual faixa etária é mais suscetível à doença?
Gestantes e crianças no início da idade escolar são mais vulneráveis por causa da menor capacidade de reação do organismo a agentes infecciosos. Uma vez que a doença já tenha se instalado, é preciso evitar a transmissão para outras pessoas. Tome cuidado para não tossir nem espirrar sem cobrir o rosto, lave as mãos constantemente, não misture objetos como copos, talheres e toalhas com o de outros. Se o seu filho estiver doente, escola nem pensar.
Qual é o tratamento mais adequado?
Para a bacteriana, quase sempre a base do tratamento são os antibióticos, já na viral, depende do tipo de vírus. Em ambos os casos, para aliviar os sintomas, medicações para baixar a febre e inalações para fluidificar as secreções podem ser indicadas. É importante realizar a higiene nasal à base de soluções salinas, manter repouso, ingerir bastante líquido e dispor de uma alimentação equilibrada.
Quais complicações podem ocorrer?
Mesmo pneumonias tratadas adequadamente podem ter complicações. Uma delas é o derrame pleural, quando o líquido infectado sai do pulmão e vai para a pleura, membrana que envolve o pulmão. Quando isso acontece, esse líquido precisa ser drenado; se não for, a infecção tem chances de se espalhar pelo corpo e evoluir para uma sepse (infecção generalizada), que pode levar à morte. Entre outras complicações possíveis estão a formação de abscessos, que são acúmulos de pus, e bronquiectasias, um alargamento dos brônquios.
Qual o esquema vacinal da pneumocócica?
O PNI adotou, desde janeiro de 2016, o esquema de duas doses da pneumocócica conjugada 10-valente (VPC10), aos 2 e 4 meses de vida, com reforço aos 12 meses. A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) mantém a recomendação de três doses quando utilizada a versão VPC13: aos 2, 4 e 6 meses de vida, com reforço entre 12 e 15 meses.
FONTES: Alberto Cukier, pneumologista do Hospital Santa Catarina (SP); Hamilton Robledo, pediatra da Rede de Hospitais São Camilo (SP); Marina Buarque de Almeida, pediatra do Hospital Sírio-Libanês (SP); e Tiago Gara, pediatra do Hospital São Luiz (SP).
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from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Criancas/Saude/noticia/2021/11/cobertura-da-vacina-pneumococica-diminui-no-brasil-e-atinge-menor-taxa-desde-2011.html