Bom, para respoder a essa pergunta, devemos levantar outras questões. Teremos de investigar o lugar que ocupamos e como pensamos este momento. Perdido para quem? Por quê? Nada se ganhou no isolamento?
+ Fórum Crescer: compartilhe suas experiências e dúvidas com outros pais e mães
O ano está perdido se você acreditar que a escola tem como finalidade, apenas, a transmissão de conteúdos num período predeterminado ou com aulas virtuais tentando ser como as presenciais. Se a escola se esforçar, somente, em passar informações, na crença de que isso é construção de inteligência. Se você depositar só na escola a função de significar isso que chamamos de isolamento. Porque famílias e escola devem falar sobre o que se passa conosco. Ambas devem encarar esse momento para além de pedagogizar a covid-19 e tratar dos afetos que estão ficando pelo caminho.
O mundo está perdido se acreditarmos nisso. Eu prefiro acreditar que ganhamos tempo. Para repensar a escola. Para reafirmar que educação é relação, é olho no olho. Para entender que o virtual não substitui o presencial, que é difícil demais ensinar em casa.
Ganhamos tempo porque construímos uma relação afetiva com os nossos filhos. Porque atribuímos sentido ao lar. Porque valorizamos os reencontros, os desencontros e os encontros dessa vida. Porque sentimos falta do que já era superficializado em nossas rotinas.
Ganhamos tempo porque refletimos sobre o que temos feito com as nossas relações: pessoais, políticas, sociais, ambientais, espirituais. O mundo ganhou tempo. A sociedade ganhou o tempo da interrupção da velocidade beligerante, devastadora de nossas atitudes e escolhas. O tempo do silêncio.
A natureza ganhou tempo para se recompor. Ganhou com a falta da presença do ser humano, que se impõe de forma tão errada ali.
Quer ver outros conteúdos exclusivos e assinar, além da CRESCER, todas as outras revistas e jornais da Editora Globo ao mesmo tempo? Acesse o Globo Mais, por R$ 4,90 (por três meses)
O ano não está perdido! Está só começando. Se entendermos tudo isso, podemos nascer. Seremos mais conscientes, apaixonados pelos encontros verdadeiros, mais dedicados à qualidade do tempo. Nascerá um mundo mais compreensível com o que nos é possível. “Nas-seremos” generosos.
O ano letivo, no fim, não importa. O que importa é o que fazemos dele. Dos dias que ainda estão por vir. Este ano já são muitos. O ano letivo são só 200 dias. E o que são 200 dias, quando se tem um mundo para fazer? Comecemos, então!
Feliz ano novo, geração pós-pandemia!
MARCELO CUNHA BUENO É UM EDUCADOR APAIXONADO PELA INFÂNCIA. É PAI DO ENRIQUE, 9 ANOS. DIRETOR DA ESCOLA ESTILO DE APRENDER, AUTOR DOS LIVROS SOPA DE PAI E NO CHÃO DA ESCOLA: POR UMA INFÂNCIA QUE VOA
+ Gostou da nossa matéria? Clique aqui para assinar a nossa newsletter e receba mais conteúdos.
+ Você já curtiu Crescer no Facebook?
from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Colunistas/Marcelo-Cunha-Bueno-Chao-de-escola/noticia/2020/09/marcelo-cunha-o-ano-letivo-esta-perdido.html