Antes da pandemia, a pequena Manuela, 4, já estava acostumada com a rotina de acordar, brincar e ir para a escola. Lá, ela fazia atividades na fazenda e na horta do colégio. No entanto, com a chegada do coronavírus, muitas crianças, ela, inclusive, precisaram mudar completamente o dia a dia. As aulas presenciais foram suspensas e o ensino remoto virou uma realidade para os estudantes. Agora, após mais de cinco meses com as escolas fechadas, a cidade de Manuela, Belém (PA), é uma das capitais que está autorizada a voltar com as aulas presenciais na rede privada. Porém, a menina não retornará para o colégio este ano. "Só quando tiver uma vacina", diz a mãe Marina Guimarães, 38.
Marina, que está grávida de oito meses, teme que a filha possa ficar doente com o vírus ou transmiti-lo em casa. Por isso, ela decidiu tirar a menina do colégio este ano e investir em aulas com uma professora particular. Segundo a mãe, mesmo seguindo os protocolos de saúde, como o uso de máscara e álcool em gel, é muito difícil para as escolas controlarem as crianças e as impedirem de ter contato entre si. "Eles irão trocar de máscara, colocar a mão na boca e se abraçar". Além disso, Marina explica que Manuela sempre usou a máscara sem problemas, mas, agora, já está se recusando a colocar.
Voltar a frequentar o mundo externo, após tanto tempo de isolamento, também não será tão fácil para os pequenos. A pequena Manuela já vem desenvolvendo alguns traumas. "Um dia, eu a levei para andar comigo e ela ficou muito assustada com o barulho da rua e pediu para voltar". Segundo a mãe, muitas vezes, os pais colaboram involuntariamente para que as crianças fiquem com medo de sair de casa, já que falam constantemente dos perigos de contrair o vírus ao sair.
DESAFIO DO ENSINO ONLINE
A vida em frente ao computador não tem sido fácil para muitas famílias, já que pais precisam desempenhar o papel de professor, para o qual, muitas vezes, não estão preparados. Esse é um dos principais desafios de Marina. Ela conta que, como trabalha o dia inteiro como representante de venda de medicamentos, ela só tinha tempo para ajudar a filha com atividades da escola à noite. "Com o tempo, começamos a perceber que aquilo já estava fazendo mal para ela", explica.
Segundo a representante de vendas, a filha estava acostumada a brincar com os pais à noite e nessa nova rotina, esse horário foi transformado em um tempo de estudo. A mãe começou a fazer as atividades com Manuela apenas três vezes por semana, mas logo a filha também passou a recusar. "Chegou um momento que ela não aceitava mais. Chorava e dizia que não queria", relata.
Marina diz que a filha não estava mais se concentrando nas aulas, mesmo quando elas aconteciam ao vivo. Por isso, resolveu a recorrer a uma professora particular. "Percebemos que o nosso método de ensinar não estava dando certo. É diferente dos professores", diz a mãe. O colégio que Manuela estava estudando pretende voltar as aulas presenciais na próxima semana, mas a mãe ressalta que a filha só retorna para a escola quando tiver uma vacina.
A partir desta semana, CRESCER publica reportagens com depoimentos de pais, professores e especialistas sobre a nova volta às aulas, durante a pandemia do coronavírus.
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