As crianças de hoje só estão acostumadas a receber estímulos ou informações exteriores que indiquem o pensamento a ser seguido. Reflita um segundo: essa geração não experimenta o silêncio nunca. O mundo os manda pensar, fazer, executar e quando eles
têm uma dúvida ou uma curiosidade, não é ao cérebro e à sua incrível capacidade de imaginação que eles recorrem, mas ao Google, que dá a resposta em dois cliques. Então,
meu Deus, quando essas crianças conseguem mastigar e digerir essa quantidade absurda de informações que recebem diariamente? Nunca. Não digerem. Não entendem, acabam ficando superficiais em todos os assuntos e, para nosso desespero, em todos os sentimentos.
A não ser que vocês me acompanhem no movimento “vai pensar na vida”. Estou usando cada vez mais essa ordem em casa para obrigar meus filhos a ficarem, de fato, sem receber estímulo de nenhuma tela, mas, sim, do mundo, da vida.
Aqui vai um exemplo para vocês entenderem: todas as viagens de carro para o interior eram feitas com tablet e celular liberado. Minha mulher dizia: “Deixa eles! É uma hora e meia no carro, sem fazer nada. Entretidos, passa mais rápido”. Sim, é o pensamento de uma mãe zelosa, que não quer chateação para os filhos.
Aí, entro eu, um pai que quer que a viagem demore todos os noventa minutos, inteiros; que quer que eles sintam que o “tempo não passa”. Por quê? Porque é um breve momento em que, sem as telas, eles podem mergulhar nos próprios pensamentos, entrar em contato com a criatividade, com os sentimentos guardados, com aquela sensação entalada na garganta e que finalmente será digerida, em vez de atropelada. Eles vão poder se lembrar de situações que já viveram.
Estímulos naturais, como uma paisagem pela janela, uma música escolhida pelo pai ou um pingo de chuva na janela podem ser eficientes para dar ignição ao cérebro. Um vídeo de 15 segundos com pessoas “tiktokeando” a dança da vez não é necessário. Aliás, as pessoas que criam essas danças que nossos filhos tanto repetem não estão na plataforma quando criam. Estão vivendo na vida real, pensando qual música pode se encaixar com a dança, estão criando. Sempre lembro meus filhos disso.
Pode ser um grande momento para conversar também, já que, ali no carro, não tem para onde escapar. Criança gosta de falar se recebe o mínimo de atenção. Eles têm visões
frescas sobre tudo e gostam de dividir, além de perguntar. Isso não acontece quando cada um está com a fuça no celular! Mas, mesmo com o valor que a conversa tem, ainda digo para
“fazerem nada” ou mando o famoso “vai pensar na vida”, para terem esse momento a sós consigo mesmos.
“Mas como é que se pensa na vida?” É provavelmente o que você vai ouvir como réplica imediata. Esteja com a resposta preparada: simplesmente se desconecte de qualquer tela e olhe pela janela. Seu cérebro vai começar a funcionar sozinho. Ele vai te falar alguma coisa, algum pensamento virá, mesmo que seja “o que eu penso agora?” e é aí que você pega o fio da meada e dá asas à imaginação! Deixe a mente te levar para onde for. E eu garanto que é muito mais legal do que qualquer vídeo do YouTube.
Marcos Mion apresentador de TV, ator, fisiculturista e empresário. Casado com Suzana Gullo e pai de Romeo, 14 anos, Doninha, 11 e Tefo, 9.
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