Ansiedade, pesadelos, medo: essas são algumas questões que as crianças têm trazido para o atendimento online nos últimos dias, devido ao que elas vêm experimentando nesse momento com toda a preocupação com a Covid-19. Esse medo não pode ser desprezado e é exatamente sobre isso que gostaria de falar com vocês.
O medo faz parte do desenvolvimento e é algo muito normal. Trata-se de uma reação protetora a um elemento desconhecido e potencialmente perigoso, que não pode ser enfrentado.
No caso das crianças, existem medos construtivos. Por exemplo, por volta dos 9 meses, há o medo da separação – que é o medo que a criança sente de que seus pais a abandonem, sobretudo a mãe. Quando são mais velhas, já na fase escolar, a renúncia de ir à escola é um medo que se manifesta na forma de proteção de algo que soa ameaçador – real ou imaginário - para a criança.
Todas as crianças enfrentam esses medos de maneira mais ou menos exacerbada. Isso permite que elas se construam e que encontrem os recursos necessários para enfrentar os medos sucessivos com que vão se deparar ao longo da vida. Além desses medos inerentes ao desenvolvimento, há aqueles que vêm de fora e que os pequenos são incapazes de entender. A partir daí, podem surgir perguntas, pesadelos, angústias e inquietações.
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A maneiraa com que cada criança expressará seus medos, vai depender do contexto em que ele estará inserido. Por exemplo, por volta dos 5 anos, o medo geralmente não será expresso claramente. Exceto por coisas concretas, como um cachorro, uma aranha. Mas o medo que vem de situações como a que estamos vivendo agora, com a Covid-19, que requer que expressemos melhor nossos sentimentos, é mais complicado para uma criança até 6 ou 7 anos de idade. Isso porque requer uma percepção mais profunda das emoções. Nesse caso, a criança pode optar por expressar isso por meio do corpo, mas não verbalmente. Como isso acontece? A criança fica inquieta, apega-se aos pais mais do que o habitual, tem pesadelos. Ou, então, os pequenos podem usar as palavras de outras pessoas - e não será necessariamente o que elas querem dizer. Elas realmente não entendem tudo o que ouvem. Essa situação epidêmica pode provocar ansiedade porque, os adultos ao redor estão agitados. Os pequenos sentem isso nas coisas simples do cotidiano. Elas são chamadas para lavar as mãos muito mais vezes do que antes, por exemplo.
A grande questão é: como podemos tranquilizá-los nesse momento? Primeiro, você precisa se convencer. Se você diz à criança que não é preciso ter medo, mas, ao mesmo tempo, está quase paralisado de medo, ela absorve e sente isso. Não tenha dúvida! Seu filho consegue sentir a diferença entre a sua emoção e o que está sendo dito. O melhor a fazer para evitar esse tipo de situação é dizer algo simples como: "Há uma nova doença chegando ao Brasil, a mamãe e o papai estão um pouco assustados, mas essa situação vai passar”.
Muitas vezes, as crianças com até 6 e 7 anos de idade são bastante egocêntricas e dizem a si mesmas: "É uma história de adultos, mamãe e papai me disseram que era o medo deles, então, não preciso ter medo, vou deixar isso para eles”. Assim, não se sente mais no centro das emoções dos pais e vive sua vida.
Uma coisa importante para ter em mente é, se a criança não fizer perguntas, não fale sobre isso. Não vale a pena antecipar dúvidas que ela não tem. Uma criança de 3 anos vive sua vida como um uma criança de 3 anos, mesmo em quarentena. Para ela, isso só significa passar 15 dias ou mais em casa com a mamãe e o papai.
Eu sei que, como pais, queremos preparar nossos filhos da melhor maneira possível para enfrentar os desafios da vida, mas tentar explicar a elas coisas sobre as quais não têm conhecimento, pode, pelo contrário, mais atrapalhar do que ajudar, pois isso pode assustá-las. Por outro lado, se os pais estão preocupados e a criança questiona, é necessário explicar. As crianças têm um ritmo, você precisa confiar nele.
No mais, o melhor que temos a fazer agora é observar nosso estado interno, controlar as emoções e focar apenas naquilo que podemos controlar, porque há coisas que nos escapam. Isso sem, obviamente, nos esquecer da esperança, que não é esperar, mas continuar caminhando.
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from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Colunistas/Monica-Pessanha/noticia/2020/04/coronavirus-explique-tranquilize-e-acolha-os-medos-das-criancas.html