Uma menina de 12 anos perdeu a visão em um olho depois de usar cremes esteróides para um tratamento de pele. A suspeita é de que Scarlet September tenha desenvolvido catarata como consequência do uso da medicação.
A menina começou a apresentar manchas na pele do pescoço e nas pálpebras, pela primeira vez, quando tinha 6 anos de idade. Depois de avaliação médica, foi diagnosticada com eczema e iniciou tratamento com cremes esteroides (uma medicação anti-inflamatória usada para tratar os sintomas).
Aos poucos, Sarah, mãe de Scarlet, foi percebendo que a filha começou a ficar com a pele vermelha e com feridas e a apresentar perda de cabelo e insônia. "Parecia que ela tinha queimaduras de terceiro grau, nem conseguia usar roupas. Dava para ver que a pele dela estava abrindo e formando feridas onde os esteroides haviam sido aplicados. Foi horrível", disse em entrevista ao jornal britânico Metro.
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Foi então que a mãe começou a desconfiar de que a piora no quadro da filha pudesse estar, de alguma forma, relacionada ao uso da medicação. Quando tinha 10 anos, Scarlet teve uma infecção bacteriana na pele, causa por um microorganismo conhecido como Staphylococcus, e, aos poucos, foi diminuindo o uso de corticóides.
"Com a infecção bacteriana, ela começou a diminuir o uso de corticoides sem que a gente se desse conta das consequências disso", afirmou a mãe. Em março de 2020, um especialista confirmou as suspeitas. Scarlet desenvolveu um quadro raro conhecido como Síndrome da Retirada de Corticoides (TSW, na sigla em inglês).
Segundo a National Eczema Society, a TSW é um "conjunto de sintomas que podem surgir dias ou semanas após uma pessoa parar de usar medicação esteroide tópica, levando até mesmo a sintomas significativamente piores do que a condição original da pele, que exigiu o seu uso".
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Na época, a pele de Scarlet estava tão sensível que ela precisou ser acamada e usar ataduras com zinco para aliviar a dor. Como última alternativa, a mãe da menina pagou por uma consulta à distância com um médico especialista dos Estados Unidos. "Foi um telefonema de 30 minutos que custou £700 (valor equivalente a mais de cinco mil reais). Ele analisou as fotos de Scarlet e disse que ela tinha aquilo porque seu organismo era viciado em esteroides e agora estava sofrendo com a falta deles", lembra.
A partir daí, a menina começou a usar um anti-histamínico para ajudar a parar a coceira, além de fazer terapia de luz e usar imunossupressores. O diagnóstico não foi o suficiente para interromper os problemas. Pouco tempo depois, Scarlet começou a ficar com a visão turva e ter dificuldades para enxergar. "O médico disse imediatamente que era por causa do uso de esteroides."
A menina tinha catarata nos dois olhos e fez um procedimento para resolver a questão. A cirurgia no olho direito foi um sucesso, mas, apesar dos esforços, os médicos não conseguiram recuperar a visão do olho esquerdo.
Depois de quase dois anos em investigação, Scarlet está finalmente melhorando. Os cremes esteroides foram substituidos por um hidratante natural para pele extra seca e seu quadro está evoluindo bem. "Ela não usa nenhum esteroide desde fevereiro de 2020. Se olhasse para ela, não diria que tem eczema ou que passou por tudo isso. A pele dela está 95% curada", relata a mãe.
Agora, Sarah diz que pretende trabalhar para conscientizar as pessoas sobre os riscos do uso prolongado de medicamentos esteroides. "Minha filha tem sido incrivelmente corajosa, mas nenhuma criança deveria ter de passar por isso", finaliza.
Eczema (ou dermatite atópica) é uma doença crônica inflamatória da pele. Esse é um problema que costuma ser mais comum entre as crianças, especialmente no primeiro ano de vida. "De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Dermatologia e artigos publicados no Journal of the Portuguese Society and Dermatology, 20% das crianças no mundo têm dermatite atópica. No Brasil, 8% das crianças e 5% dos adolescentes são atingidos pela doença", explica a dermatologista Adriana Cairo (SP).
Nos bebês e nas crianças, o eczema se manifesta como lesões na pele, principalmente no couro cabeludo, nas bochechas e no pescoço. Elas podem aparecer como bolinhas avermelhadas, bolinhas com água, espessamento da pele e descamação. As lesões podem levar a coceiras intensas e, por isso, causar feridas e sangramentos.
Segundo Adriana, ainda não há cura para o eczema. Atualmente, os tratamentos são voltados para evitar infecções na pele e diminuir as chances de manifestar alergias. "Para controlar os surtos de sinais e sintomas, o médico pode prescrever pomadas a base de corticoides, antialérgicos para prevenção da coceira e, em casos mais graves, medicamentos orais. Quando há infeção na pele, por exemplo, o uso de antibióticos também pode ser prescrito", diz.
A National Eczema Society explica que os corticoides tópicos são usados no tratamento de eczema há mais de 50 anos e atuam no organismo para diminuir a inflamação da pele. Ainda hoje, eles são o principal alternativa para tratamento de adultos e crianças com eczema.
"A maioria das pessoas com eczema usa esteroides tópicos para ajudar a gerenciar seus sintomas sem experimentar eventos adversos. Mas, para alguns, a TSW pode surgir como uma complicação do uso tópico de esteroides", diz.
A TSW ou Síndrome da Retirada de Corticóides pode aparecer quando, depois de usar corticoides por muito tempo, o paciente para ou diminui o uso da medicação. "Devido à falta de pesquisas e a nenhum critério de diagnóstico claro, ainda não se sabe qual quantidade de uso de esteroides causa TSW, quantas pessoas têm a condição e qual porcentagem de pessoas que usam esteroides tópicos podem desenvolvê-la", destaca a entidade.
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from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Saude/noticia/2021/11/menina-perde-visao-depois-de-tratamento-para-eczema.html