O coronavírus se espalha com uma velocidade inacreditável, pelo mundo inteiro, transformando a rotina de famílias de diferentes culturas. Em uma série de reportagens, CRESCER conversa com pais e mães de vários cantos do planeta, para saber como a vida deles e a das crianças estão sendo afetadas.
Stephen Yue mora com sua esposa Laura Fan, ambos 51 anos, e a filha do casal, Nancy Yue, 8 anos, em Nanjing, na China. Após retornar para o país asiático de uma viagem de lazer para a Europa no dia 8 de março, a família ficou em isolamento social por aproximadamente um mês devido ao COVID-19. Em relato exclusivo à CRESCER, o pai conta como foi viver a pandemia na China.
“Nós somos a exceção porque ficamos apenas um mês, mais ou menos, de quarentena na China já que voltamos de uma viagem de férias na Europa ainda no começo de março. Boa parte do nosso país estava em isolamento desde janeiro.
Chegamos na Europa no dia 26 de janeiro e tinhamos planejado ficar apenas duas semanas, mas, com o coronavírus, adiamos nossa volta duas vezes e acabamos viajando por 40 dias. Quando voltamos, a situação na China estava sob controle, mas a doença já tinha tomado bastante o continente europeu, então fomos testados várias vezes quando retornamos ao nosso país. Entramos em uma fila especial no aeroporto e fomos direcionados para o 'lugar de quarentena", espécie de hotel custeado pelo governo em que as pessoas que voltavam de certos países, como Itália, Alemanha, Espanha e Reino Unido ficavam sendo acompanhadas 24 horas por dia.
Diariamente, funcionários do governo mediam nossas temperaturas e nos enviavam comida. Não podíamos sair do quarto. Como minha filha ainda é pequena, ela e minha esposa ficaram em um quarto e eu em outro. Havia uma porta que conectava os quartos, então podíamos nos cumprimentar toda manhã e noite. Fora esse aspecto de não poder deixar o cômodo, foi ok. E assim ficamos por 14 dias. Checaram nossos antígenos e ácido nucleico e, ao recebermos o resultado negativo, nos deixaram ir para casa e continuamos em isolamento lá.
Desde a viagem para a Europa, Nancy estava tendo aulas pela internet. Foi difícil fazer com que ela se concentrasse nesse novo modelo, então ficamos bastante atentos para regular o tempo que ela passa em frente às telas quando não está estudando. Estabelecemos regras. Toda vez que ela quer jogar um game, por exemplo, precisa colocar um cronômetro de 30 minutos e, depois desse tempo, descansar com outra atividade por pelo menos 15 minutos.
Na China, não houve escassez de alimentos e produtos de higiene disponíveis nos mercados porque nosso governo é muito forte e organizado. Durante o período de isolamento em Wuhan, ninguém podia sair de casa, então fizemos todas as compras por entrega sem nenhum problema. O comércio on-line também continuou funcionando normalmente por todo o país, então esse aspecto foi muito tranquilo para nós.
Para mantê-la entretida nesse período nós jogamos vídeo game juntos, fizemos brincadeiras com bola e tocamos intrumentos musicais. Tive a oportunidade de contar histórias de quando era garoto, das coisas boas e ruins que eu aprontava por aí, como fiz amizades, os problemas que eu resolvi… É muito difícil para nós conseguirmos tempo para ficarmos juntos e nos curtir como família já que eu e Laura ocupamos cargos executivos de alta demanda. Na quarentena, pudemos aproveitar esses momentos que não tínhamos antes. Nos aproximamos muito. Se eu puder dar algum conselho aos pais eu diria para celebrar todos os dias com sua família, ficar juntos mais tempo e se divertir mais na companhia um do outro. O tempo passa tão rápido! Quando você vê, a vida já voltou ao normal.
Atualmente, parece que o pior passou e já podemos realizar atividades ao ar livre. A vida está voltando a ser o que era e, nessa semana, Nancy voltará a ter aulas presenciais".
from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Criancas/Comportamento/noticia/2020/04/familias-pelo-mundo-foram-14-dias-de-isolamento-em-um-hotel-diz-pai-na-china.html