O surgimento da variante ômicron do coronavírus deixou o mundo em alerta! Afinal, a nova cepa, identificada como B.1.1.529, surpreendeu os cientistas ao apresentar 50 mutações — 30 delas localizadas na proteína Spike, parte do vírus que as vacinas usam como alvo para reforçar o nosso sistema imunológico contra a covid-19. E ela já chegou em solo brasileiro: nesta terça-feira (30), o Instituto Adolfo Lutz confirmou dois resultados positivos em São Paulo, de passageiros vindos da África do Sul.
Diante dessa situação, muitos pais começaram a se perguntar se esse cenário pode impactar as crianças, já que muitas delas não estão vacinadas no Brasil. Embora ainda seja muito cedo para termos respostas concretas — pois a nova variante foi identificada em Botsuana, país vizinho à África do Sul, em meados de novembro — , a CRESCER conversou com especialistas, com o intuito de esclarecer algumas dúvidas. Eles comentaram sobre o comportamento da nova cepa, principalmente em relação aos pequenos.
O infectologista e pediatra Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), explica que não temos dados ainda para afirmar se a ômicron escaparia das vacinas ou mesmo se teria uma predileção maior pelas crianças. "É pouco provável que a gente tenha alguma performance diferente de uma variante para a pediatria. Se acontecer uma nova onda aqui entre nós, é claro que, proporcionalmente, os casos mais graves vão se concentrar entre não vacinados. E a população pediátrica pode representar uma porcentagem maior. O vírus simplesmente está procurando indivíduos mais vulneráveis", afirma.
Já a pediatra e colunista da CRESCER, Ana Escobar, também ressalta que ainda não temos respostas de como a ômicron se comportaria nas crianças. Segundo a especialista, seria preciso entender melhor como essa variante atua na transmissão. "Se ela tem, de fato, uma capacidade de transmissão maior, obviamente, que as crianças não vacinadas serão muito acometidas", esclarece a médica.
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Para Kfouri, é importante que as crianças sejam incluídas no plano de vacinação. Até o momento, apenas jovens com 12 anos ou mais podem receber a vacina da Pfizer no Brasil. "Não só por causa dessa variante, mas por causa de todas. Qualquer circulação maior de vírus na população vai se traduzir em um aumento maior de casos em pediatria do que era no ano passado. É um aumento proporcional", destaca o médico.
Segundo o gerente médico e Infectologista do Hospital Infantil Sabará (SP), Francisco Oliveira, é possível que a presença de uma nova variante, se for comprovado que ela é de fato mais transmissível, venha influenciar na velocidade em que a vacina seja aprovada para os menores. No momento, a Pfizer já solicitou que a Anvisa analisasse os dados para que seu imunizante seja aplicado em crianças entre 5 e 11 anos de idade.
Oliveira diz, ainda, que o aparecimento de variantes é algo frequente, pois o vírus sempre está se multiplicando, especialmente em locais em que há uma baixa cobertura vacinal. No entanto, nem todas as cepas têm um comportamento tão alarmante. Por isso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) utiliza alguns critérios para classificar as variantes como preocupantes. Entre eles estão principalmente: alto índice de transmissibilidade e a suspeita de que a variante escaparia da vacina ou dos anticorpos gerados pela infecção prévia. "Ainda é precoce para saber se isso vai acontecer. Porém, é importante ter cautela e um aumento do cuidado", pontua o médico.
Em relação aos sintomas da nova variante, o médico do Sabará ressalta que é importante que continuemos observando e esperando a disponibilização de dados mais consistentes dos países onde essa ela já está provocando a doença. "Existem relatos de um quadro clínico com menos sintomas respiratórios e mais sintomas gerais, como dor no corpo e indisposição", explica o especialista.
A pediatra Ana Escobar lembra que com as outras variantes — como a Alfa, Delta e Gama — os pequenos tiveram quadros mais leves. E, mais uma vez, será necessário avaliar a resposta deles à doença. "Será que com uma variante que, teoricamente, não é mais agressiva, as crianças vão ter quadros ainda mais leves? Bom, não sabemos! Os pais devem ficar preocupados na mesma proporção que todas as pessoas. Precisamos de mais respostas para saber se ficamos preocupados ou não. É um momento de expectativa, temos que aguardar", pondera.
Kfouri acrescenta que vamos precisar de mais dados sobre o comportamento da ômicron em diferentes contextos. "Essa variante será desafiada em diferentes cenários. Ela vai circular na Europa, que tem vacinação mais precoce; no Brasil, com vacinação mais recente; em países que utilizaram o imunizante da Pfizer e outros que aplicaram a CoronaVac. Então, temos que ver qual será seu perfil", avalia.
Apesar de ainda não termos muitas informações, seguir os protocolos de segurança continua sendo a maneira mais eficaz de prevenção contra doença — seja entre adultos ou entre os pequenos. "Sabemos que o uso de máscara e manter os ambientes arejados são duas grandes medidas de proteção, e, obviamente, a vacina", reforça Ana Escobar.
Com base nos casos analisados, constatou-se que a variante é portadora de dezenas de mutações genéticas que podem afetar os índices de contágio e de letalidade. A OMS, entretanto, afirmou que ainda não há estudos suficientes para afirmar as propriedades da ômicron, mas que já existem esforços científicos acelerados para estudar as amostras. Uma equipe de cientistas de universidades da África do Sul está decodificando o genoma da ômicron, juntamente com dezenas de outras variantes do novo coronavírus.
Tulio de Oliveira, diretor do Centro para Respostas e Inovações Epidêmicas da universidade de KwaZulu-Natal, na África do Sul, afirmou em coletiva de imprensa que a variante ômicron possui “uma constelação incomum de mutações”. A variante Delta, por exemplo, possuía duas mutações em relação à cepa original do novo coronavírus, enquanto a ômicron possui cerca de 50 — 30 delas localizadas na proteína Spike, responsável por infectar células saudáveis, explicou o brasileiro.
Em reunião de emergência realizada na tarde da última sexta-feira (26), representantes da OMS classificaram a ômicron como variante de preocupação (VOC) — mesma categoria das variantes delta e gama.
Por que ômicron?
A OMS usa letras do alfabeto grego para denominar as variantes importantes do novo coronavírus. A última variante registrada havia sido a Mu, que deveria ser seguida das letras gregas Nu (equivalente ao N) e Xi. As letras, no entanto, poderiam causar confusão, já que Nu em inglês tem pronúncia quase idêntica à palavra new (novo). Enquanto a letra Xi corresponde a um nome comum na Ásia, principalmente na China. A OMS decidiu, então, pular as duas letras.
A nova variante escapa das vacinas?
Ainda não sabemos! No entanto, a Pfizer, responsável por uma das vacinas contra o novo coronavírus, afirmou que espera conseguir colocar no mercado uma nova versão do imunizante que seja eficaz contra a variante ômicron em um prazo de até 100 dias.
Temos essa variante no Brasil?
Conforme informações divulgadas pelo G1, o Instituto Adolfo Lutz confirmou nesta terça-feira (30) dois testes positivos para a variante ômicron do coronavírus no Brasil. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, os casos são de um homem, 41, e uma mulher, de 37 anos.
O exame de PCR foi realizado no dia 25 de novembro e o casal apresentou sintomas leves na ocasião. Os dois vieram da África do Sul no dia 23 de novembro. Na época, eles tinham PCR negativo para o coronavírus, no entanto, como pretendiam voltar para o país africano, realizaram um novo exame, que deu positivo para a doença. Os dados foram coletados no Laboratório do Hospital Albert Einstein instalado no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo.
Com informações Agência Brasil
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