Quando se fala em um paciente com artrite, você logo imagina um adulto ou idoso, certo? Isso acontece porque realmente a doença é mais comum nesta fase, atingindo de 1 a 2 pessoas a cada 100. Porém, apesar de menos comum, ela também pode ocorrer entre crianças e adolescentes e merece atenção dos pais e cuidadores.
“Conhecida como Artrite Idiopática Juvenil (AIJ) ou Artrite Reumatoide Juvenil, essa é uma doença crônica que atinge 1 a cada 500 pessoas menores de 16 anos”, explica o reumatologista pediátrico Claudio Len.
Atenção aos sinais
Entre os sintomas da AIJ está a inflamação de uma ou mais articulações, como joelhos, pulsos e tornozelos, que persiste por pelo menos 6 semanas no mesmo local. Assim, a criança ou adolescente sente dor, inchaço e rigidez na região. “Porém, os olhos e outros órgãos podem ser acometidos e, em alguns casos, há febre e formação de gânglios”, conta Len.
E para que os pais não confundam a AIJ com a dor do crescimento, o pediatra explica que na primeira o paciente sente inchaço e dor articular já ao acordar. “Além disso, a criança tem limitação para se movimentar, sente dificuldade para dobrar a perna ou pegar um objeto, por exemplo. Já na dor do crescimento não há inflamação nem inchaço, o incômodo tem causa mecânica, é decorrente de um movimento, e surge, geralmente, no final do dia. No restante do dia a criança está ótima. Os pais devem ficar atentos se, de repente, o filho deixar de realizar atividades rotineiras por causa do incômodo e até deixar de se alimentar”, alerta o médico.
Diferentes sintomas, a mesma doença
A Atrite Idiopática Juvenil pode se manifestar de diversas formas, independentemente da idade. Len conta que há crianças de 2 anos que têm febre durante 3 meses, por exemplo, enquanto outras, com 10 anos, apresentam a artrite em apenas um dedo.
As possíveis causas da doença
“As razões que levam uma criança ou adolescente a ter a AIJ ainda são desconhecidas, mas acredita-se que, assim como em outras doenças autoimunes, ela atinja quem já tem alguma predisposição genética. Neste caso, havendo um fator desencadeante, como infecções virais e bacterianas, estresse emocional ou traumatismos articulares, a doença pode se desenvolver”, conta o médico.
Tratamento imediato é essencial
O diagnóstico precoce, entre os primeiros 3 a 6 meses da doença, é fundamental, já que depois desse período pode ocorrer um dano estrutural e uma inflamação e destruição da articulação. “Se a família notar um inchaço na articulação da criança por cerca de um mês, é importante que procure um reumatologista pediátrico o mais rápido possível”, alerta Len.
O tratamento envolve a educação da família, reabilitação e principalmente o uso de medicamentos. E segundo o médico, a volta à normalidade depende de cada caso. “Há casos em que a criança faz o tratamento por 1 ou 2 meses e depois retoma suas atividades, sem restrições. Porém, se o paciente sofre com dores e limitações mais intensas, será preciso seguir outra abordagem”.
A fisioterapia também tem papel fundamental em grande parte dos tratamentos. De acordo com a fisioterapeuta Renata Pereira Soares de Oliveira, a criança que sofre de AIJ deixa de movimentar a articulação e, consequentemente, os músculos próximos à região tendem a ficar mais curtos e fracos. “O tratamento fisioterápico devolve o tamanho e a força desse músculo e recupera a atividade e mobilidade da articulação. Ele ajuda, ainda, na perda da sinesiofobia, o medo de se movimentar e sentir dor, que é um problema muito comum. Através de brincadeiras a criança resgata a confiança para se mexer novamente”, explica.
Diagnóstico precoce para um final feliz
O inchaço em um dos joelhos de sua filha, Stella, de 11 anos, chamou a atenção de Anna Heckmann, em julho de 2020. “Ela sempre foi extremamente ativa, andava de bicicleta, nadava, vivia fazendo piruetas. Quando se queixou de dor no joelho, pensei que fosse consequência de excesso de exercício ou de algum movimento mal executado”, ela lembra. Porém, dias depois a garota reclamou de incômodo no outro joelho e os pais procuraram um médico para investigar as causas do problema.
“Em outubro a Stella começou a sofrer com dor e inchaço também nos tornozelos, punhos, dedinhos das mãos e pés e na cervical, foi perdendo os movimentos e recebemos o diagnóstico de AIJ”, lembra a mãe.
Foram 7 meses de tratamentos intensos que, além de medicamentos, envolveu a realização de fisioterapia 5 vezes por semana, para que a menina recuperasse a musculatura e reaprendesse a andar, sentar e descer escadas.
“Aprendemos que, nesta área da medicina, não se fala em cura, mas em controle total, e a Stella venceu. Hoje ela não tem absolutamente nenhuma limitação, vive por aí dando piruetas e estrelas, exatamente como sempre fez”, celebra a mãe.
Código de Aprovação: BR-HUMR-210284
Referências:
1 - Vânia Schinzel , Simone Guerra Lopes da Silva , Maria Teresa Terreri , Claudio Arnaldo Len Prevalence of juvenile idiopathic arthritis in schoolchildren from the city of São Paulo, the largest city in Latin America https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31345271/
2 - https://www.reumatologia.org.br/doencas-reumaticas/artrite-idiopatica-juvenil/
3 - https://www.spsp.org.br/2008/11/06/artrite_idiopatica_juvenil/
4 - https://www.ans.gov.br/images/stories/Plano_de_saude_e_Operadoras/Area_do_consumidor/rol/2021/anexo_ii_dut_2021_rn_4652021.pdf
from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Publieditorial/AbbVie/noticia/2021/12/artrite-idiopatica-juvenil-diagnostico-precoce-e-fundamental.html